Elas não querem que o desporto nos media seja só masculino
A igualdade entre homens e mulheres no desporto tem, pelo menos no prisma financeiro, um contra-argumento recorrente: se a vertente feminina não gera o mesmo interesse e retorno, não pode gerar os mesmos salários. Quatro desportistas têm uma solução para o problema.
O sol, quando nasce, é para todos – nos media nem tanto. Algumas atletas crêem que não existe igualdade na atenção e mediatismo dados na comunicação social ao desporto feminino. E querem mudar esta situação.
Alex Morgan, futebolista, Sue Bird, basquetebolista, Simone Manuel, nadadora, e Chloe Kim, snowboarder, criaram a Togethxr, plataforma online que pretende dar relevo ao desporto feminino.
A igualdade entre homens e mulheres no desporto tem, pelo menos no prisma financeiro, um contra-argumento recorrente: se a vertente feminina não gera o mesmo interesse e retorno, não pode gerar os mesmos salários. Como resolver?
A solução poderá passar, em primeiro lugar, por dar mais mediatismo ao desporto feminino – só assim o interesse será maior e, por extensão, o retorno e os salários. É nisso que poderá influir a ideia destas atletas como ponto de inflexão.
“Brinco a dizer que quero ser aquela atleta mais velha e resmungona, ao ver que todas as atletas 20, 30 e 40 anos mais novas do que eu recebem milhões de dólares e estão na TV o tempo todo, porque isso significará que terei ajudado. Isso significará que fiz a minha parte enquanto jogadora e ajudei a levar o desporto e as atletas mulheres adiante de alguma maneira”, explica Sue Bird, jogadora da WNBA.
E acrescenta: “A empresa é menos sobre mim, menos sobre a Alex, menos sobre a Chloe, menos sobre a Simone. A cobertura que nós as quatro vamos receber dos media pode melhorar, porque estamos aqui a falar sobre a falta de cobertura sobre as mulheres no desporto, mas o que importa não somos nós, é a próxima geração”.
O objectivo desta plataforma é, em traços gerais, amplificar a voz das mulheres desportistas e, como diz Alex Morgan, “derrubar barreiras”. “Queremos algo que crie uma comunidade e uma plataforma de mulheres do desporto para mulheres do desporto, de uma forma nunca feita”, detalhou, ao NY Times.
O público-alvo não é estanque, mas pressuporá um gosto por áreas como desporto, lifestyle, activismo, cultura, beleza ou bem-estar.
Contando histórias sobre mulheres do desporto, a Togethxr pretende, a montante, dar mais visibilidade à vertente feminina das modalidades e, a jusante, espoletar aquilo que Alex Morgan nunca teve em criança: interesse em idolatrar mulheres desportistas.
“Quando eu era adolescente, não tinha pósteres de mulheres atletas nas minhas paredes. Isso não acontecia por eu não acompanhar os desportos. Eu simplesmente não sabia o bastante sobre as mulheres do desporto para as colocar na minha parede e torná-las meus ídolos”.
Há estudos que apontam que o desporto feminino colhe apenas entre dois a quatro por cento da cobertura dos media, um valor que tem diminuído, apesar de haver cada vez mais mulheres e meninas a fazerem desporto.
É este paradoxo que Morgan, Bird, Manuel e Kim querem reverter, até porque, como garantiram no texto de lançamento do site, “o legado não é apenas vitórias, medalhas e troféus”. “O legado é também aquilo que dás em troca e quem consegues alavancar. É sobre o mundo que deixas para a geração seguinte. Queremos ser campeãs para todas as jovens mulheres que ousam sonhar. Isto é sobre dar às meninas um sítio para irem no qual se sintam maiores do que si próprias e dar-lhes algo com que sonharem e, sobretudo, serem vistas e reconhecidas”.
Ao contrário de outros sites fundados por atletas, este foi fundado por mulheres. Esta disrupção já será, por si só, uma boa alavanca.