Ventura, reeleito presidente do Chega com 97,3% dos votos, faz “último alerta ao PSD”
“Quer queiram, quer não queiram, é comigo que vão ter que negociar”, diz Ventura sobre o PSD.
André Ventura, que neste sábado foi novamente a votos sozinho para presidente do Chega depois de se ter demitido por ter ficado atrás de Ana Gomes nas presidenciais de Janeiro, foi reeleito com 97,3% dos votos. De acordo com uma nota do partido, que não especifica números de votantes, a eleição decorreu nos dezoito distritos do país e nas duas regiões autónomas.
Em declarações aos jornalistas na sede do partido, André Ventura aproveitou para deixar aquilo que disse ser um “último alerta ao PSD": “Se ainda tem esperança de ter um Governo de direita em Portugal, deve perceber que não vamos sair das nossas bandeiras.” O presidente do Chega diz que as eleições para a Câmara de Lisboa, no Outono, vão "mostrar a fragilidade que esta direita tem e pensa que não tem”, numa referência ao facto de PSD e CDS se terem juntado, e até a IL já veio dizer que concorre com candidato próprio.
Para Ventura o grande problema reside no facto de o PSD continuar a “dar a mão ao PS” mesmo com o país mergulhado numa crise económica, social e sanitária por causa da pandemia. “Enquanto não perceberem o buraco em que se meteram por darem a mão ao PS... Quer queiram, quer não queiram, é comigo que vão ter que negociar.” Insistiu: “Estarei aqui nos próximos quatro anos e é comigo que tem de pensar no próximo Governo de Portugal.”
Ventura considera que o resultado de hoje mostra que “não haverá cedências em questões fundamentais nem tibiezas” na sua linha de “política fundamental: reforço da justiça, do sistema política e reforma fiscal” e que é com isso que o PSD tem que contar.
André Ventura insistiu nos seus dois grandes objectivos: as autárquicas deste ano, onde promete ser pelo menos a quarta força política e pretende ser “pelo menos o fiel da balança” e ter presença em todas as assembleias municipais; e as legislativas de 2023. “Não vamos desistir até conseguirmos a nossa presença no Governo”, avisou. “Não somos um partido de protesto nem queremos ser. Não nos transformaremos na muleta do PSD do século XXI nem no BE à direita. Seremos o partido de governo que os portugueses precisam e não desistiremos das nossas bandeiras. O mandato que hoje me deram não foi para negociar lugares nem para negociar acordos fictícios. Foi para impor que as nossas bandeiras sejam fundamentais num futuro Governo.”
“O resultado eleitoral é um sinónimo claro da confiança que todos os militantes depositam na capacidade de André Ventura em liderar o partido e em levá-lo a alcançar o grande objectivo que é o Governo de Portugal para conseguir levar a cabo as mudanças que o país precisa e os portugueses anseiam”, afirma a direcção nacional em comunicado.
Ventura leu no resultado legitimidade para o que tem feito neste ano e meio: “É um sinal de que, apesar de não ter alcançado o objectivo de ser o segundo nas presidenciais, os militantes se revêem no projecto, e estão satisfeitos com o caminho que tem trilhado, com as declarações e iniciativas legislativas no Parlamento. E com a forma como eu, como líder do partido, tenho feito política”, disse perante os jornalistas. Acrescentou que os que o criticavam internamento “não tiveram força para se apresentar às urnas” e os que o criticavam externamente “não têm qualquer capacidade de influência sobre os militantes do Chega”.
E considera que a eleição mostrou que a direcção e o presidente do partido “são legítimos” e que, por isso, não faz sentido o processo de ilegalização.
“Aqueles que esperavam mudanças na gestão do partido não prevaleceram e nós manteremos a mesma linha de trabalho e o mesmo foco que temos tido”, prometeu, criticando os que, mesmo dentro do partido, defendiam que “devia moderar-se ou escolher outro caminho”.
Sem falar em números concretos da votação alegando não os ter, Ventura disse, no entanto, que alcançou os 100% em alguns distritos. Estas eleições serviram também para eleger novas direcções distritais. Agora o partido terá que realizar nova convenção para eleger as estruturas, como a direcção nacional.