Quantos segredos guarda o mar de Vila do Conde?
Município ainda não tem uma carta do património subaquático existente na costa. E está disponível para apoiar investigação ao sítio do Navio do Norte, em Vila Chã.
Como a muitos outros municípios costeiros, a Vila do Conde falta uma carta arqueológica da costa do concelho que tem como limite, a norte, o porto de pesca da Póvoa de Varzim e, a sul, a localidade piscatória de Angeiras, em Lavra, no concelho de Matosinhos. Estes cerca de 12 km em linha recta, ou pouco mais de seis milhas náuticas, partilham, com as comunidades que o Atlântico banha uma história intimamente ligada ao mar. Hoje conhecido pela pesca (também ela com uma conta infindável de naufrágios), o município tem uma história de séculos ancorada na construção naval, no comércio marítimo e na marinharia, e entre barcos e navios que entravam no rio Ave, a que se acrescentam os que ao largo passavam, foram muitos os que se afundaram? Quantos? Ninguém sabe.
Mas o que ninguém duvida é que parte da história da terra se poderia contar melhor acedendo e conhecendo alguns desses tesouros sepultados na costa, e foi por isso com expectativa que o responsável pelo gabinete de arqueologia municipal, Pedro Brochado de Almeida, tomou conhecimento da sugestão de investigação ao sítio do Navio do Norte, em Vila Chã, feita pelo arqueólogo subaquático Alexandre Monteiro à Direcção Geral do Património Cultural. A recolha de mais elementos no local deste naufrágio do século XIX poderá confirmar que afinal não se trata do vapor Tiber como se julgava, mas eventualmente um veleiro chamado Rollo, e a sua carga de armamento obsoleto, o que ali jaz.
Para se realizar uma campanha no local é preciso submeter à tutela um pedido de autorização de trabalhos arqueológicos para este sítio. Esse pedido ainda não foi feito mas a autarquia está muito interessada em que essa investigação possa acontecer, adianta o responsável pelo gabinete de arqueologia do concelho. Mas será preciso ajuda especializada de fora. Dos três arqueólogos que trabalham no município de Vila do Conde nenhum faz arqueologia subaquática – embora um deles tenha experiência de mergulho.
Ao trio não falta o que fazer em terra, mas Pedro Brochado de Almeida espera que a concretização do Centro de Artes Náuticas, um projecto de reabilitação do antigo edifício da seca do bacalhau, na foz do rio Ave, possa dar um impulso à investigação do património escondido pelo rio e pelo mar. A iniciativa, que aguarda financiamento dos fundos dos EEA Grants vai centrar-se na salvaguarda das técnicas de construção naval em madeira, mas o arqueólogo explica que a partir deste novo espaço transdisciplinar, o município pretende organizar escolas de verão, com arqueólogos experientes, e poderá acolher projectos de investigação similares ao que agora se propõe para o Navio do Norte. O que impulsionará, acredita, a elaboração de uma carta arqueológica subaquática e um melhor conhecimento dessa outra parte da história de Vila do Conde que ainda está, maioritariamente, por contar.