Esta época não sabe o que é o cinema de Marco Ferreri
As modas cinéfilas não o incluem. Os filmes são hoje difíceis de encontrar. Nenhum autor reivindica a sua influência. O seu niilismo, as suas contradições — era um feminista ou era um misógino? —, a prática do cinema como espaço da violência e destruição, nada têm a ver com os tempos de hoje da arte conciliatória. É por isso vibrante Le Cinéma ne Sert à Rien, de Gabriela Trujillo. Conversámos sobre um cineasta fundamental, Marco Ferreri.
Dificilmente o espectador irá além de A Grande Farra (1973) num jogo de associações ao nome de Marco Ferreri. Tudo o resto estará hoje esquecido, ocultado pela névoa do tempo. Não é pecado não saber o que se perde. Mas é uma pena. Mesmo em vida o cineasta nascido em Milão em 1928 e falecido em Paris em 1997, era uma espécie de marginal no centro, tão apartado da “aristocracia”, Fellini, Visconti ou Antonioni, quanto do “operariado”, Risi, Monicelli e tutti quanti. Mesmo se com eles partilhou os temas e as estrelas. Era cineasta de um “género”, o “filme-escândalo”, e o seu maior sucesso de bilheteira resumiu-o, simplificou-o e, contraditoriamente, fê-lo progressivamente desaparecer do mapa.
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