A falta de educação sexual nas escolas

A disciplina deve ser adaptada a todas as idades, focando-se principalmente no consentimento. Que não tem idade. A educação sexual deve ser um espaço de abertura para sensibilizar as turmas para a gravidade da violência imposta pelo patriarcado, alertando os perigos que causa em todas as pessoas, tanto física como psicologicamente.

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Daniel Rocha

Portugal tem clara escassez de educação sexual nas escolas. É urgente que haja uma reforma no ensino, na medida em que esta disciplina deve ser introduzida nos horários escolares, das idades mais novas às mais velhas, de forma acessível e gratuita pelo país.

O Governo português falha ao ficar parado no tempo. É necessário que os conteúdos da educação sexual não se deixem ficar pelos valores tradicionais e conservadores, concentrados na biologia e na procriação. Tem de ficar claro que a educação sexual não se trata exclusivamente das relações entre “macho e fêmea”.

Os estabelecimentos de ensino não são frequentados apenas por juventude cisgénero, por isso a responsabilização de quem dá estes conteúdos tem de desconstruir a ideia de que só existem dois géneros, uma orientação sexual e uma maneira de fazer sexo – terá de abandonar a ideia singular do sexo heterossexual, admitindo que sexo não se resume à penetração ou até ao interesse em actividades sexuais; por se chamar educação sexual está implícito o tema da assexualidade. Está na altura de haver uma revolução na forma como são dadas as aulas sobre sexualidade e isto passa por criar um programa inclusivo, saindo da bolha heteronormativa e dando um espaço de libertação, visibilidade e segurança a jovens LGBTQI+.

A educação sexual é uma disciplina de afectividade, de conhecimento e de exploração do próprio corpo e da saúde, desviando-se dos valores morais e religiosos que impedem estas aprendizagens e desenvolvem tabus em torno da mesma. Sendo assim, quem deve educar jovens sobre a sexualidade? É, sem dúvida, um debate controverso entre adultos. Como estudante, defendo que a educação sexual deve ser dada por profissionais da área, profissionais de saúde e entidades do ramo da psicologia; pessoas devidamente informadas sobre questões para além da heterossexualidade e da binariedade de género – profissionais que tenham a responsabilidade de educar jovens têm de saber lidar com pessoas trans e não-binárias, e outras pessoas LGBTQI+.

A disciplina deve ser adaptada a todas as idades, focando-se principalmente no consentimento. Que não tem idade. A educação sexual deve ser um espaço de abertura para sensibilizar as turmas para a gravidade da violência imposta pelo patriarcado, alertando os perigos que causa em todas as pessoas, tanto física como psicologicamente.

É de maior responsabilidade estabelecer a linha que separa a expectativa da realidade do sexo, isto é, explicar como a pornografia não transmite o sexo real, mas sim um sexo patriarcal e violência romantizada pela própria. As teorias de que a pornografia não traz quaisquer benefícios são constantemente provadas; é, então, fulcral terminar com as mensagens tóxicas da indústria pornográfica e a educação sexual tem de ensinar sobre a intimidade, os acidentes e a poesia do sexo, o respeito, o amor e a atracção.

Podemos olhar para a educação sexual como uma urgência estudantil e devemos olhar para ela como um guia para a vida real. Estudantes têm o direito de acesso a recursos como este, de aprender a lidar com o seu corpo e aceitá-lo, de viver a intimidade de forma positiva e de encarar a sexualidade como uma libertação e uma celebração. A educação sexual tem de ser dada com bases feministas e inclusivas, com o objectivo de desconstruir, ensinar e alertar as mentes jovens. Portugal tem de garantir este acesso e de garantir um lugar seguro de tabus para todas as idades. Esta luta não pode ser silenciada e Portugal não pode ficar parado no tempo.

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