Confinamento: pais sobrecarregados e com mais stress, crianças aumentam de peso

Do maior uso da tecnologia à falta de paciência, um estudo em Portugal, Espanha e França analisou os efeitos de ficar em casa nas famílias.

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Paulo Pimenta

Uma investigação realizada em Portugal, Espanha e França para conhecer os padrões e hábitos dos alunos durante o confinamento forçado pela pandemia de covid-19 revelou que 64% dos pais ficaram sobrecarregados com as tarefas escolares.

Investigadores das universidades Nova de Lisboa, Granada (Espanha) e Lille (França) e do instituto espanhol de Saúde Carlos III analisaram as rotinas e a convivência de alunos entre os três e os 16 anos e respectivas famílias durante o primeiro confinamento causado pela pandemia, que começou nestes três países há quase um ano.

Através de um inquérito online no qual participaram quase 3900 agregados familiares dos três países, o projecto “Covideducasa”, ainda em curso, procura conhecer o impacto do confinamento e do ensino não presencial nas famílias portuguesas, espanholas e francesas, a maioria da classe média.

A investigadora da Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade de Granada María Dolores Martín-Lagos disse à agência espanhola Efe que o estudo analisou a atenção das famílias aos filhos, o peso das tarefas escolares destes, o acesso à tecnologia e as orientações das famílias, com coincidências e diferenças entre países.

Entre as conclusões do estudo, Martín-Lagos destacou que a mãe desempenha um papel mais importante nas tarefas, mesmo em lares onde ambos os pais trabalharam ou estiveram em teletrabalho durante o confinamento.

A maioria dos progenitores reconheceu o planeamento correcto das actividades por parte da escola, apesar de mais de 64% dos entrevistados reconhecerem ter vivenciado momentos de stress para ajudar nas tarefas.

Nestes casos, 46,7% dos pais apontaram a falta de tempo para ajudar os filhos e 20% a falta de paciência, sendo que algumas famílias indicaram não possuir os conhecimentos necessários para o fazer.

“Apesar das críticas no momento do confinamento, as famílias entenderam que, embora houvesse tensão, estavam bem e todos tinham de se adaptar em conjunto” aos perigos decorrentes da pandemia, pelo que não se registou “crítica excessiva”, adiantou a investigadora.

Durante o último trimestre do último ano lectivo, sem aulas presenciais nos três países, quase três em cada dez pais viram os filhos calmos e organizados, uma percentagem um pouco mais elevada em Portugal (31%) e em França (28%) do que em Espanha (21%).

Preocupação com uso excessivo de tecnologia

Os progenitores salientaram, ainda, “de forma generalizada, a preocupação com o excesso no uso de tecnologia, considerado um dos principais problemas pelos pais, principalmente nas casas que não tinham regras muito rígidas de horários” neste âmbito, adiantou.

Segundo o estudo, 44% dos pais acreditam que os filhos utilizam muito o telemóvel e 76% dos entrevistados nos três países referem também muitas horas de videojogos, o que também aumentou durante o confinamento.

Por outro lado, o trabalho corroborou a diminuição das actividades extracurriculares após o confinamento, principalmente desportivas, que caíram quase para metade, e o agravamento dos hábitos alimentares, que fez com que quatro em cada dez menores engordassem.

O estudo revela ainda que a rotina também piorou com o confinamento em metade das casas (51%) e afectou o bem-estar emocional dos alunos, com 20% dos pais espanhóis e 15% franceses a revelarem que viram os seus filhos mais tristes. Em Portugal, esta evolução emocional negativa foi notada em quase 33% dos casos.