Governo anuncia fecho de creches, escolas e universidades a partir de sexta-feira
Primeiro-ministro considerou os dados mais recentes sobre mortes e contágios “particularmente dramáticos” e Marcelo já sublinhara que decisão poderia ser tomada nesta quinta-feira. Directores recuam e admitem fechar escolas a partir do 7.º ano.
O Governo prepara-se para anunciar, no final do Conselho de Ministros que começa às 9h30 da manhã desta quinta-feira, o encerramento de creches, escolas e universidades a partir de sexta-feira. A decisão foi tomada ontem ao final do dia, já depois de António Costa ter regressado de Bruxelas, e durante uma reunião entre o primeiro-ministro, o ministro da Educação, a ministra da Saúde e a ministra da Presidência. Ao que o PÚBLICO apurou, todo o sistema de ensino será encerrado, na sequência do aumento exponencial de novos casos de infecção e mortes por covid-19.
A ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e a ministra da Saúde, Marta Temido, estiveram reunidas durante a tarde desta quarta-feira, por videoconferência, com “os peritos habitualmente auscultados nas reuniões do Infarmed para uma avaliação da actual situação epidemiológica”, confirmou a Presidência do Conselho de Ministros na sua conta de Twitter.
Na mesma nota, explicava-se que a reunião tinha sido fundamental “para perceber e analisar a evolução recente da pandemia, nomeadamente no que respeita à presença da nova estirpe da covid-19, tendo em atenção possíveis medidas a adoptar para inverter o crescimento acelerado da infecção”.
Só depois desta reunião é que as duas ministras se reuniram com Tiago Brandão Rodrigues e com António Costa, que esteve antes no Parlamento Europeu. O que já não se realizará é o encontro com epidemiologistas no Infarmed, na terça-feira, uma vez que a discussão foi antecipada para esta quarta-feira.
Marcelo Rebelo de Sousa já tinha deixado claro, nesta quarta-feira em Lisboa, em resposta aos alunos que o interpelaram durante uma acção de campanha no Liceu Pedro Nunes, que a questão do encerramento ou não das escolas seria “tomada nas próximas horas”.
“Neste momento, temos dois dados novos: a variante britânica e saber se a disseminação social está a chegar às escolas a um ritmo tal que coloca em causa a actividade normal. É isso que tem de ser ponderado”, afirmou. “É uma questão que se vai colocar entre hoje à noite e amanhã [quinta-feira]”, acrescentou, insistindo que, se a disseminação for alta, “tem de se agir”.
Marcelo entende que os dados de contágios e mortes divulgados esta quarta-feira — mais de 14.647 e 219, respectivamente — “têm de ser analisados” com cuidado e preocupação.
A partir de Bruxelas, António Costa confirmou que falou com o Presidente da República e comentou os números do dia, considerando-os “particularmente dramáticos e demonstrativos da gravidade da situação que existe no país”, mas admitindo que “é cedo para tirar conclusões finais sobre as medidas” tomadas pelo Governo. “É sabido que entre o momento em que se toma as medidas e elas produzem efeito há pelo menos duas semanas.”
“Nós não podemos tomar decisões conforme as pressões. Ainda há poucas semanas a pressão era para abrir os restaurantes mais tempo, agora a pressão é para fechar mais. Nós temos de ir tomando as decisões em função daquilo que são as realidades efectivas e qual é a dinâmica efectiva”, declarou lembrando que esta quinta-feira há Conselho de Ministros.
O primeiro-ministro insistiu, no entanto: “Convém não esquecer que todos sabemos hoje qual foi o custo social e no processo de aprendizagem para as crianças do encerramento das escolas [em Março].” “Portanto, é preciso ter muita serenidade, ter muita calma, recolher informação e tomar as decisões.”
Na terça-feira, no Parlamento, já depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter falado na necessidade de dar “um sinal político”, pondo a hipótese de encerrar escolas, o primeiro-ministro deixou a porta aberta a tal solução. “Se soubermos que a estirpe inglesa se tornou dominante em Portugal, teremos muito provavelmente de fechar as escolas”, garantiu.
Poupar os alunos do 1.º e 2.º ciclos?
Os directores das escolas públicas continuam a considerar que os alunos estão seguros nos estabelecimentos de ensino, mas admitem que o combate à nova vaga da pandemia pode implicar suspender as aulas presenciais, tal como aconteceu no ano passado. Se o Governo decidir nesse sentido, esperam que pelo menos os estudantes do 1.º e 2.º ciclos possam ser poupados a ter aulas à distância. O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, defende que “qualquer decisão do Governo deve suportar-se na ciência” e que, tendo em conta as opiniões vindas a público nos últimos dias, “parece convergente a posição dos especialistas, que vai no sentido de se fechar as escolas”.
Caso seja essa a decisão, os directores das escolas esperam que, pelo menos, o encerramento das escolas fique limitado aos estudantes do 3.º ciclo e ensino secundário, e por um período limitado “de duas a três semanas”, mantendo os alunos do 1.º e 2.º ciclos nas escolas, propõe o presidente da direcção da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira. “Ir para casa é prejudicial”, avalia Filinto Lima. Por isso, a decisão deve tentar minimizar dados e concentrar-se “naqueles alunos que são mais autónomos numa situação destas, que são os mais velhos”.
Já o início do 2.º semestre lectivo nas universidades, que está previsto para a segunda quinzena de Fevereiro, pode ser antecipado para o final deste mês e com aulas à distância. Esta é uma das medidas que estão a ser estudadas pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) como resposta à evolução da pandemia. Os exames que estão a decorrer podem ser adiados. Com Samuel Silva e Leonete Botelho