João Gomes Cravinho prevê cerca de 60 formadores de “forças especiais” em Moçambique

A cooperação militar com Moçambique, por causa da situação em Cabo Delgado, e o futuro da NATO foram dois temas abordados na entrevista da Lusa ao ministro da Defesa Nacional.

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João Gomes Cravinho, ministro da Defesa Nacional LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, estimou nesta quarta-feira em cerca de 60 militares portugueses o contingente de formadores de “forças especiais” que será destacado em Abril para Moçambique, auxiliando o país africano no combate ao terrorismo.

“O que vamos destacar são formadores para formar fuzileiros e comandos. São militares que têm essas valências, forças especiais. Acredito que seja na ordem dos 60. Ainda não está estabilizado (o número de efectivos) porque ainda há um trabalho de planeamento em curso com as autoridades moçambicanas”, afirmou Gomes Cravinho, em entrevista à Agência Lusa que será divulgada hoje e quinta-feira.

A província moçambicana de Cabo Delgado está sob ataque desde Outubro de 2017 por grupos de insurgentes ligados a organizações islâmicas radicais e classificados desde o início de 2020 pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma “ameaça terrorista”.

“Irão, em princípio, para locais diferentes: no sul do país, perto de Maputo, e no centro, mas ainda não está inteiramente decidido”, adiantou ainda o responsável pela tutela.

Questionado sobre as alterações ao programa quadro de cooperação técnico-militar com Moçambique, para vigorar nos próximos três anos, Gomes Cravinho precisou que o que está previsto é uma “intensificação” da cooperação com este país, na sequência do contexto actual de ameaças.

A cooperação técnico-militar entre Portugal e Moçambique existe desde 1988.

Dar novo ímpeto à NATO

Na mesma entrevista, Gomes Cravinho antecipou que a nova Administração norte-americana, liderada pelo democrata e recém-empossado Joe Biden, dará novo ímpeto à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), reconhecendo que há que “repensar” a Aliança Atlântica.

“Há um consenso, hoje, de que é preciso repensar a NATO e há um elemento fundamental que é a mudança de administração em Washington, que cria um ambiente completamente diferente, muito mais positivo e de compromisso com o futuro da NATO”, disse o ministro.

Entre hoje e quinta-feira, decorre uma reunião por videoconferência de responsáveis pela Defesa da NATO, versando, entre outros assuntos, as missões em curso no Afeganistão e no Iraque, o reforço da dissuasão e defesa da Aliança Atlântica e a iniciativa “NATO 2030”.

O ministro lembrou declarações que considerou “bastante exageradas” do presidente francês, Emmanuel Macron, no final de 2019, em que o chefe de Estado gaulês sentenciou a "morte cerebral” da NATO.

Para Gomes Cravinho, o facto de haver uma nova administração norte-americana favorecerá “também um quadro” de “mais tranquilidade entre aliados” para “pensar no destino colectivo enquanto organização de defesa comum”.

Na reunião, disse, “vai haver uma primeira abordagem às propostas da “NATO2030” e criar-se-ão um conjunto de propostas para a cimeira da NATO que julgamos terá lugar em Junho deste ano”, previu, referindo-se ao futuro documento da Aliança Atlântica, promovido pelo seu secretário-geral, o norueguês Jens Stoltenberg, com o intuito de tornar a NATO “mais forte militarmente, mas também politicamente e com uma abordagem mais global”.

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, o catalão Josep Borrell, e os ministros da Defesa da Finlândia e da Suécia também vão participar no encontro.