Morreu Johnny Pacheco, um dos reis da salsa

Produtor, compositor, líder de banda, flautista e multi-instrumentista, foi co-fundador da Fania, a editora que popularizou o termo “salsa” e o género musical, Pacheco tinha 85 anos.

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Johnny Pacheco na 24.ª edição do Festival de Salsa em Madison Square (Nova Iorque, Setembro de 1999) Jack Vartoogian/Getty Images

É complicado imaginar o mundo da salsa sem Johnny Pacheco, o músico dominicano que morreu esta segunda-feira em Nova Jérsia, aos 85 anos. A notícia foi confirmada pelo The New York Times.  Além de flautista, maioritariamente, compositor, arranjador, líder de banda e produtor, Pacheco foi também co-fundador da seminal editora Fania, cujo supergrupo, Fania All-Stars, foi encabeçado por ele.

Foi Pacheco, por exemplo, quem sugeriu ao trombonista e compositor Willie Colón que se juntasse à voz do lendário Héctor Lavoe, numa das parcerias mais proveitosas do género musical latino-americano. Outra dessas parcerias era a do próprio Pacheco com a cubana Celia Cruz, iniciada em Celia & Johnny, de 1974. Pela editora e pelo grupo passaram muitas das grandes lendas da salsa, de Rubén Blades, outro parceiro musical de Colón, a Cheo Feliciano ou Ray Barretto. Quando Héctor Lavoe se lançou a solo, em 1975, foi Pacheco quem compôs Mi Gente, um dos temas mais famosos do cantor.

"O salto do Bronx"

Pacheco nasceu Juan Azarías Pacheco Knipping, em Santiago de Los Caballeros, na República Dominicana, em 1935, tendo-se mudado com a família para Nova Iorque aos 11 anos. Foi lá que estudou percussão e começou a tocar com bandas de música latina como a de Charlie Palmieri. Formou o seu primeiro grupo, Pacheco e Su Charanga, em 1960, algo que lhe deu muito sucesso numa altura em que pachanga, uma dança que misturava merenge e cha-cha-cha, estava em voga. Um passo de dança que improvisou, chamado “Bronx hop” — “o salto do Bronx” —, tornou-se uma moda. Foi com esse grupo que se tornou uma estrela internacional.

Pouco depois, conheceu o advogado e ex-polícia Jerry Masucci, e começou a Fania, onde foi vice-presidente, produtor, director criativo e responsável pelos artistas. Viria a vender a sua participação a Masucci. Foi a editora, com todos os seus altos e baixos, que popularizou o som da salsa, bem como a expressão para designar o género musical, uma criação norte-americana que juntava e acelerava vários géneros cubanos e porto-riquenhos, como o son, o cha cha cha, a guaracha, a rumba, o mambo, a plena ou a bomba, entre outros, com influências também de jazz latino. As letras abordavam problemas sociais e políticos. 

Ao início, era uma operação quase amadora, com discos a serem vendidos a partir de bagageiras de carros, mas cedo se tornou um fenómeno internacional. Em 1973, um ano depois do documentário Our Latin Thing, de Leon Gast, que olhava para o sucesso da editora, os Fania All-Stars, liderados por Pacheco, apresentaram-se num esgotadíssimo nova-iorquino Yankee Stadium, a actuarem para 40 mil pessoas com convidados como Mongo Santamaría ou Jorge Santana, irmão de Carlos. Foi imortalizado no álbum duplo Live at Yankee Stadium, que inclui partes de outros concertos e foi nomeado para um Grammy.

No ano seguinte, actuaram para o dobro das pessoas no festival Zaire 74, que o sul-africano Hugh Masekela co-organizou para condizer com o combate de boxe Rumble in the Jungle, que oporia Muhammad Ali a George Foreman – por um adiamento, o festival de três dias acabou por acontecer mais de um mês antes. Como tal, aparecem no documentário Soul Power, de Jeff Levy-Hinte, lançado em 2009. Também deu um disco, Live in Africa, e um filme que está no YouTube. Nele podemos ver Pacheco com uma energia tremenda a andar e correr de um lado para o outro, bem como a dançar de forma irrepreensível, além de dirigir a banda e tocar flauta transversal.

Ainda no cinema, Pacheco trabalhou em bandas sonoras como de Os Reis do Mambo, de Arne Glimcher ou Selvagem e Perigosa, de Jonathan Demme, tendo colaborado com David Byrne, na altura ainda dos Talking Heads, num dueto que este fez com Celia Cruz, Loco de Amor, que abre o filme. A canção, bem como outra colaboração com Pacheco, aparecia no disco Rei Momo, de Byrne, em 1989.

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