Todos diferentes
Nos últimos anos tenho conhecido muitas crianças e adultos com deficiência motora, mental e sensorial. Entrei neste mundo devido à surdez do Pedro e por lá permaneci. Nele encontrei empatia e solidariedade, cansaço extremo e dias muito duros. Mas também encontrei muita felicidade.
No dia em que recebi o diagnóstico de surdez profunda do Pedro descobri que a expressão “sentir o chão a fugir” pode ser absolutamente literal. Porque mais do que tristeza ou dor o que me lembro de sentir foi uma espécie de vertigem e uma quase total incapacidade para andar. A médica continuava a falar comigo (ou, pelo menos, foi o que me pareceu), mas depois de a palavra surdez ser pronunciada deixei de conseguir compreender o que me dizia. A voz dela ecoava ao longe e eu sentia-me à deriva em alto-mar, náufraga, sem saber como continuar agora que o bebé nos meus braços não era o filho perfeito com que tinha sonhado.
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