Mario Draghi toma posse como novo primeiro-ministro de Itália

Antigo governador do Banco Central Europeu tem a responsabilidade de salvar o país da maior queda económica desde a Segunda Guerra Mundial, no meio de uma pandemia que continua a matar centenas de italianos todos os dias e com ministros de quase todos os partidos.

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O novo Governo tem 23 ministros ROBERTO MONALDO / POOL

O Presidente italiano, Sergio Matarella, deu posse este sábado ao antigo director do Banco Central Europeu, Mario Draghi, como primeiro-ministro de Itália, num Governo de unidade nacional com pouco tempo para fazer face às consequências da pandemia de covid-19.

Apenas um dos partidos italianos com assento parlamentar se recusou a apoiar o novo Governo, que inclui responsáveis de todo o espectro político e tecnocratas em lugares cruciais, como o Ministério das Finanças.

Draghi tem como responsabilidade principal lançar as bases da recuperação italiana da pandemia, em particular a forma como o país vai usar os mais de 200 mil milhões de euros em fundos da União Europeia destinados a investimento.

Se for bem-sucedido, pode servir de catalisador para a recuperação de toda a Zona Euro, que há muito se debate com os entraves provocados pelos problemas internos em Itália. E pode também ser a prova de que o envio de fundos para os países menos ricos, do Sul da Europa, é uma chave para tornar todo o bloco mais resistente.

Pouco tempo

Mas Mario Draghi enfrenta grandes desafios: a Itália mergulhou na sua queda económica mais pronunciada desde a Segunda Guerra Mundial; centenas de pessoas continuam a morrer todos os dias com covid-19; a campanha de vacinação segue a um ritmo lento; e o novo primeiro-ministro não tem muito tempo para resolver todos estes problemas.

Segundo o calendário oficial, os italianos vão escolher um novo Governo dentro de dois anos, mas nem sequer é certo que Draghi se mantenha como primeiro-ministro até lá, liderando uma coligação com partidos radicalmente diferentes e onde se destacam posições opostas na imigração, desenvolvimento das infra-estruturas e assistência social.

O Governo de Draghi é o 67.º a tomar posse desde 1946, e o sétimo só na última década.

O antigo director do Banco Central Europeu passou os últimos dez dias a preparar os seus planos e a compor o executivo com 23 ministros, incluindo oito mulheres.

Oito ministérios vão ser liderados por tecnocratas e os restantes 15 foram divididos pelos seis partidos que apoiam o Governo: quatro para o Movimento 5 Estrelas, que é o maior partido no Parlamento italiano; três para o Partido Democrático, a Liga e o Força Itália; e um para o Itália Viva e o Livres e Iguais.

Moções de confiança

Este sábado, minutos depois da tomada de posse do novo Governo, o líder da Liga, Matteo Salvini, destacou a nomeação dos três ministros do seu partido para as pastas do Desenvolvimento Económico, Turismo e Família e Igualdade de Oportunidades.

“Não será fácil, mas daremos o nosso melhor!”, disse Salvini no Twitter.

Para o Ministério das Finanças, Draghi convidou o seu antigo colega Daniele Franco, vice-governador do Banco de Itália. E a pasta da Justiça – uma das mais sensíveis e importantes – foi para Marta Cartabia, antiga presidente do Tribunal Constitucional.

Duas novas pastas – a da Inovação Tecnológica e a da Transição Ecológica – foram entregues, respectivamente, ao antigo director da Vodafone Vittorio Colao e ao físico Roberto Cingolani.

Os dois novos ministérios foram criados para cumprir a exigência da União Europeia de que os fundos de recuperação económica sejam aplicados, em grande parte, à promoção da digitalização e ao progressivo fim da dependência dos combustíveis fósseis.

Draghi, que é uma figura reservada e sem presença nas redes sociais, vai revelar as suas propostas concretas ao Senado, na quarta-feira, e à Câmara dos Deputados, na quinta-feira.

Nesses dias vão também ser votadas moções de confiança nas duas câmaras do Parlamento italiano, antecipando-se a aprovação de Draghi com o apoio mais alargado em toda a História do país.

O único partido que ficou de fora do novo Governo é o Irmãos de Itália, da extrema-direita. Mas é possível que alguns deputados do Movimento 5 Estrelas também votem contra a moção de confiança, o que pode desencadear uma cisão no partido.