Trump investigado na Georgia por pressão para “encontrar votos”
Ex-presidente dos EUA telefonou ao secretário de estado da Georgia para lhe pedir que fizesse “novos cálculos” após a sua derrota na eleição presidencial.
Os procuradores de Atlanta, no estado norte-americano da Georgia, começaram a investigar suspeitas de que o ex-presidente dos EUA Donald Trump pressionou as autoridades locais a cometerem fraude na eleição de Novembro.
Em causa está uma série de telefonemas e de mensagens que Trump publicou na rede social Twitter nos dois meses que se seguiram à eleição presidencial de 3 de Novembro. Em várias ocasiões, o então Presidente dos EUA queixou-se de que os responsáveis pela contagem e certificação dos votos na Georgia estavam a prejudicá-lo.
Até à invasão do Capitólio pelos seus apoiantes, a 6 de Janeiro, Trump nunca reconheceu a vitória de Joe Biden na eleição presidencial, e focou as suas queixas infundadas de fraude nos resultados em seis estados do país: Georgia, Michigan, Wisconsin, Pensilvânia, Nevada, Arizona.
Num dos telefonemas que estão a ser investigados, Trump pressionou o secretário da Georgia – o também republicano Brad Raffensperger – a “encontrar” os 11.780 votos que o separavam de Joe Biden no resultado final no estado.
“O povo da Georgia está furioso, o povo americano está furioso. E não há nada de errado em dizer que vocês fizeram novos cálculos”, disse o Presidente dos EUA durante a conversa, no dia 2 de Janeiro.
Do outro lado da linha, o secretário de estado da Georgia ia respondendo às queixas de Trump sem adiantar grandes explicações: “Bem, senhor Presidente, a informação que tem está errada.”
Num outro momento da conversa que durou uma hora, Trump dá uma instrução mais específica: “Olhe, o que eu quero que você faça é isto. Quero encontrar 11.780 votos, um voto a mais do que temos. Porque nós ganhámos.”
Biden foi o candidato mais votado na Georgia, um resultado que foi certificado após três contagens: a inicial; uma auditoria posterior, a pedido do secretário de estado e feita à mão; e uma última feita a pedido da campanha de Trump e com o recurso a máquinas, que confirmou o resultado das contagens anteriores.
Pressão sobre o governador
Para além de Brad Raffensperger, também o governador da Georgia, Brian Kemp – outro republicano – foi alvo das queixas de Trump.
Em várias mensagens publicadas no Twitter, o então Presidente dos EUA ameaçou apoiar os adversários de Kemp nas próximas eleições, se o governador não convocasse uma reunião extraordinária da Câmara dos Representantes da Georgia. O objectivo era que fosse a maioria republicana no estado a decidir o vencedor da eleição, anulando a certificação da vitória de Biden.
Nos dois meses entre a eleição e a invasão do Capitólio, Trump também convocou os líderes republicanos do Michigan para uma reunião na Casa Branca, para lhes pedir o mesmo que pediria ao governador da Georgia: que fossem eles – os legisladores, e não o governo do estado – a certificarem o resultado, na esperança de que a vitória de Biden fosse anulada.
Mas a investigação que está em curso diz respeito apenas aos casos que aconteceram na Georgia.
Numa carta enviada aos vários órgãos do governo do estado, a nova procuradora do distrito de Fulton, a democrata Fani Willis, dá instruções para que todos os registos de conversas e outras comunicações sobre a eleição residencial sejam preservados.
“Esta investigação inclui, mas não se limita, a potenciais violações das leis da Georgia contra solicitar fraude eleitoral, fazer declarações falsas a órgãos estaduais e locais, conspiração, extorsão, violação do juramento e qualquer envolvimento em violência ou ameaças à administração das eleições”, diz Willis na carta, publicada em primeira não pelo New York Times.
Na mesma carta – em que Trump nunca é referido pelo nome –, a procuradora do distrito de Fulton diz que os pedidos de intimação de testemunhas e de entrega de outros documentos relevantes para a investigação vão ser feitos a um grande júri na primeira oportunidade, já em Março.
Para além da investigação na Georgia, Donald Trump está também a ser investigado na cidade de Nova Iorque por suspeitas de fraude relacionadas com as suas finanças pessoais.
Tal como no caso de Nova Iorque, se Trump vier a ser julgado e condenado na Georgia, não poderá beneficiar de qualquer perdão antecipado que possa ter passado em nome próprio quando estava na Casa Branca – os perdões e comutações de pena assinados pelos presidentes dos EUA só abrangem crimes federais, e não os crimes que dizem respeito a um estado em particular.