Cartas ao director
Rui Tavares
Leio sempre com todo o interesse as crónicas sobre temas europeus do vosso colunista Rui Tavares. Mas confesso que fiquei muito surpreendido com a que publicou em 5/2, intitulada"Portugal Pôncio Pilatos”. Da notícia de que a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (PPUE) prevê realizar as audições sobre o Estado de direito na Hungria e na Polónia numa fase mais adiantada do seu exercício, de modo a que elas possam ser presenciais, deduz o prof. Rui Tavares que a PPUE já não vai avançar com esse procedimento e acusa Portugal de fazer como Pilatos. Ora, esta dedução é totalmente abusiva. Avançar com os processos do artigo 7.º é um dos compromissos programáticos da PPUE e tudo faremos para cumpri-lo.
Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
A ajuda alemã
Vários opinadores encartados têm manifestado desconforto, até alguma vergonha, pela pequena ajuda que a Alemanha veio dar ao nosso SNS com uma equipe médica especializada em cuidados intensivos. Não tenho essa opinião: Portugal é desde sempre um país presente em vários cenários de catástrofe, como terramotos p. ex., também com equipas militares ou civis, além do envio de equipamentos, tendas e alimentos. Portugal está a ajudar nas ilhas gregas na questão dos migrantes com a GNR que, aliás, tem feito um excelente trabalho. Portugal tem militares destacados em vários cenários de guerra ou conflito em missões de paz e não só, como se viu no Mali, no Afeganistão e em vários locais de África: parece-me natural e até de certa forma uma obrigação que alguém nos venha também ajudar quando estamos nós numa situação de catástrofe.
Vergonha e desconforto era estarmos “orgulhosamente sós” como no tempo do ditador Salazar em que não ajudávamos e não éramos ajudados por motivos óbvios para quem tem hoje mais de sessenta anos e alguma memória. Pela minha parte são bem-vindos os alemães e todos os outros que possam vir em nossa ajuda.
Carlos Duarte, Lisboa
O caso exemplar do Hospital Beatriz Ângelo
Ao contrário da vacinação indevida de administradores de lares de idosos ou de dirigentes de IPSS, estranhei que o caso do Beatriz Ângelo relatado no PÚBLICO de sábado (“todas as pessoas vacinadas”) não tenha suscitado nos media e nos seus comentadores uma indignação paralela, nem desencadeado uma investigação pelo Ministério Público.
Lendo a referida notícia com maior atenção, afinal a explicação estava lá! Por um lado, trata-se da interpretação “autêntica” de prioridade: a gestora do grupo Luz Saúde – Isabel Vaz – que também foi vacinada, define que “todas as pessoas de um hospital são críticas” (o que, claro, não Se aplica a lares de idosos). Por outro, resulta da excepcional eficiência na extracção de doses dos frascos (certamente muito superior ao praticado por as outras instituições), o que justifica a enorme quantidade de vacinas sobrantes. Não há dúvida: gente fina é outra coisa.
José António Sarsfield Cabral, Matosinhos
As sobras, certo?
Acho particularmente irónica a justificação de que alguns “desvios” nas prioridades da vacinação foram feitos para “aproveitar as sobras”… Recorda-me uma história que me contaram de um empreiteiro “esperto” que tinha o hábito de propor partilhar com “oportunos terceiros” as “sobras previstas” das suas empreitadas. Estão a ver o nome correCto, certo?
Se o número efectivo de doses disponíveis para cada conjunto de frascos abertos tem alguma variação, não será possível convocar um pouco por excesso, o chamado overbooking nas viagens aéreas? No caso de um voo confirmado, ter que esperar pelo próximo pode ser efectivamente um grande inconveniente, mas ser vacinado um dia ou no seguinte, não deve ser assim tão dramático. Questão de planificação, certo?
Obviamente que o problema de fundo não é a questão técnica da “gestão das sobras” e da sua deficiente planificação, mas sim de que serve de desculpa e justificação para uma coisa vergonhosa. Não é preciso mais acrescentar, certo?
Carlos J F Sampaio, Esposende
Apreço pelos ideais de Pacheco Pereira
Acabo de ler mais um artigo de Pacheco Pereira. Agradeço-lhe a profundidade do pensamento, o rigor da análise e a nobreza das ideias, em defesa de uma sociedade justa, livre e solidária. Nos tempos que correm é de uma importância extrema. O PÚBLICO e nós ficávamos muito mais pobres, se os seus textos deixassem de ser publicados. Nem quero pensar nisso.
José Batista d’Ascenção, Braga