Fotografia
A vida em seis metros quadrados, na Coreia do Sul
Durante dez meses, o fotógrafo Sim Kyu-Dong viveu num goshiwon, em Seul, na Coreia do Sul. Mas o que é um goshiwon? É um pequeno quarto privativo, com cinco a seis metros quadrados, equipado com mini-frigorífico, uma cama e uma secretária, onde se pode viver por um preço mensal muito baixo — cerca de 250 euros. "Para mim, goshiwon foi sinónimo de esperança", explica o fotógrafo ao P3, numa entrevista por e-mail. "Foi graças a este alojamento que pude abandonar a minha cidade natal e mudar-me para Seul."
Os goshiwon começaram por ser residências para estudantes, mas, com o tempo, passaram a ser casa de muitos dos que não conseguem pagar o valor de depósito necessário para arrendar um verdadeiro apartamento, em Seul. "Um dia, disse a uma pessoa que vivia num goshiwon e a pessoa perguntou-me se estava a estudar para um exame. Fiquei aborrecido. Isso aconteceu porque a pessoa não sabia que os goshiwon não eram só para estudantes." Sentiu, então, a necessidade de criar um documento que pudesse desmistificar o papel deste tipo de alojamento na sociedade sul-coreana. E assim nasceu o projecto fotográfico que revela agora ao P3.
Existem, para Kyu-Dong, dois tipos de residentes deste tipo de alojamento: os que o habitam temporariamente e os que fazem dele casa permanente. "Para os primeiros, aquele lugar serve apenas para dormir e para tomar banho. Raramente utilizam a cozinha comunitária." Por sua vez, quem chama ao goshiwon a sua casa prefere cozinhar no local e utiliza todos os meios ao seu alcance para poupar dinheiro. As casas de banho são, geralmente, partilhadas. "Mas alguns quartos mais caros têm WC privativo", ressalva. "Há estabelecimentos deste tipo só para homens ou só para mulheres. Quando são mistos estão divididos por piso. Mas há poucas mulheres a viver nestes lugares." Não recolheu nenhuma fotografia de uma mulher residente por ser pouco aceitável, socialmente, pedir-lhe para entrar no seu quarto.
Dormir num goshiwon é uma actividade "estática". "A cama é mais pequena do que uma cama de solteiro tradicional. E é normal ouvir os outros residentes a ressonar no quarto ao lado." No Inverno, pequenos aquecedores eléctricos estão ligados em cada quarto. Quem arrenda este espaço em regime mensal não tem de pagar um valor extra pela electricidade ou pela água, o que é positivo. "Quem procura adoptar um modo de vida minimalista não encontra grande inconveniente", observa o fotógrafo.
O preço deste tipo de alojamento varia consoante a zona da capital em que está instalado. Existem, como no caso dos hotéis, bons e maus goshiwon. "Os mais caros têm boas instalações. As diferenças principais estão na antiguidade do edifício, no tamanho dos quartos, se têm ou não janelas ou casa de banho privativa." Em todo o caso, são diferentes, no conceito, das "casas caixão" de Hong Kong, que são ainda mais exíguas do que os goshiwon.
Sim Kyu-Dong sentiu dificuldade em realizar esta série fotográfica. "Tive de ganhar a confiança dos residentes. Comecei todas as conversas na cozinha comunitária e só depois consegui acesso aos quartos. De algum modo, senti que lhes pedia para expor algo que podia ser embaraçoso. Demorei muito tempo a convencê-los e só alguns me permitiram acesso aos seus aposentos." A maioria dos residentes não tem dinheiro e, por isso, vive ali. "Eles acham que vivem ali por falta de opção", explica o fotógrafo e enfermeiro de formação que vive, actualmente, em Gangneung, com os seus pais. "Instalei, na sua presença, a minha câmara fotográfica analógica Mamya 7, de médio formato, no tecto dos seus quartos e deixei-os posar sozinhos. Todos escolheram uma pose diferente." O fotógrafo de 32 anos gostaria de ter tido uma amostra maior de retratados, porque existem muitos tipos de residentes, com perfis muito variados. "Como eu também vivia num goshiwon, também fiz um auto-retrato para incluir no projecto."