Night Stalker é uma das mais recentes apostas da Netflix em Portugal e dá-nos a conhecer o enredo de Richard Ramirez. Acusado de homicídio, roubo e violação, conseguiu aterrorizar o estado da Califórnia, nos EUA, durante a década de 1980.
Quem assiste a séries e filmes documentais sobre este tipo de fenómeno raro percebe que, quando protagonizado por indivíduos do sexo masculino, é comum existir uma relação com a violência de género contra as mulheres. A raiz estrutural deste tipo de violência está fixada nas desigualdades de género e, neste caso em concreto, é alimentada por crenças conservadoras sobre o sexo feminino. Inclusivamente, estas noções chegam a ser visíveis no interior dos próprios departamentos policiais e jurídicos.
No caso do Estripador de Yorkshire, por exemplo, as forças policiais britânicas só começaram a dar mais importância à investigação quando descobriram que nem todas as vítimas eram prostitutas. Inesperadamente, algumas seguiam as normas da sociedade, como se existissem vítimas de primeira e segunda classe. Outras figuras internacionais bastante populares neste domínio são Henry Lee Lucas e Ted Bundy, cujos crimes também marcaram a última metade do século XX. A razão pela qual as estatísticas nos mostram que este período foi crucial para a exposição mediática destas personalidades deve-se às transformações socioeconómicas sentidas nesta altura. Afectadas pelos efeitos capitalistas e neoliberais, fizeram acentuar o aumento da apatia, do individualismo e das desigualdades sociais. Resultado? Os níveis de violência, marginalização e criminalidade agravaram-se.
Com isto, o crescimento do número de mulheres condenadas pelo sistema judicial também se fez sentir em vários pontos do globo, uma vez que a presença feminina em espaços públicos se intensificava de forma simultânea. No entanto, o padrão de crimes cometidos por serial killers masculinos e aqueles praticados pelo sexo feminino continuava a ser diferente. Tal como os homens, a predisposição feminina para o crime pode ter como base distúrbios clínicos, um passado familiar abusivo ou o consumo e a dependência de substâncias psicoactivas. No entanto, homens e mulheres utilizam abordagens distintas e atacam por motivos diferentes.
Por norma, quando se registam atrocidades cometidas por mulheres, o grau de brutalidade é menor. Além disso, são motivadas por factores económicos e tendem a escolher vítimas com quem teriam uma relação prévia. Já a violência exercida pelos homens, sobretudo em mulheres que não conhecem, tende a estar relacionada com factores culturais, implicando comportamentos misóginos e patriarcais. A passividade e a vulnerabilidade das vítimas são a chave de ignição que os leva a cometer actos perversos, não existindo outra forma de inflamarem a sua faísca de poder e controlo, na maioria das vezes, sexual. Para estes indivíduos, a mulher não é mais do que um objecto e, por isso, supõem que devem obtê-lo a todo o custo como se fosse um troféu.
Resumindo e baralhando, após muitas horas com os nervos à flor da pele enquanto via The Confession Killer, The Ripper, Conversations with a Killer e, finalmente, Night Stalker, quais as conclusões retiradas? Os crimes cometidos por assassinos em série do sexo masculino resultam, em parte, do ambiente sociocultural em que estão inseridos, estando voltados para as relações de género tradicionais e para os seus próprios interesses inconscientes.