Carro parado, cuidado redobrado: como preparar o automóvel para o confinamento
E, num segundo confinamento, os automóveis voltaram a parar — por, pelo menos, duas semanas é esperado que muitos veículos não saiam do mesmo lugar. Especialistas indicam quais os cuidados a ter.
“Um carro foi feito para andar”, começa por dizer Bruno Gomes, responsável pelo serviço Oficina do Automóvel Club de Portugal (ACP). E, numa situação actual, em que a ordem para combater a pandemia de covid-19 voltou a ser para ficar em casa, é muito provável que os automóveis voltem a acusar falta de estrada, o que, muitas vezes, pode resultar em problemas, tendo no fim do primeiro confinamento existido um “pico de assistências”. O engenheiro mecânico António Costa, da Garagem da Lapa, no Porto confirma: “Não só houve um pico, como 90% eram problemas relacionados com a bateria.”
É que o automóvel pode não ter a ignição accionada, mas a bateria está sempre ligada, dando energia a tantos mais consumíveis quanto mais evoluído for o carro.
Numa situação típica, isso não constitui um problema já que, sempre que se pega no carro, a bateria beneficia de um processo de recarregamento, graças ao alternador, que tem a função de gerar energia através da rotação do motor. No entanto, um período prolongado sem funcionar poderá sobrecarregar a bateria, cuja gestão pode começar a desligar sistemas. “Essa é uma das razões pelas quais damos com os vidros eléctricos sem funcionarem – ou com o rádio – se estamos muito tempo sem pegar num carro”, diz António Costa, da Garagem da Lapa. Além disso, a vida útil da própria bateria também pode ficar comprometida, alerta o mesmo especialista, com o processo de sulfatação das placas que pode originar até que a bateria perca toda a sua capacidade.
Para o impedir, deve-se tomar algumas medidas: pode-se ligar o carro uma vez por semana e, desligando os sistemas que consomem mais energia (ar condicionado, sistema de infoentretenimento, etc.), circular por alguns quilómetros, aconselha Bruno Gomes. Já António Costa lembra que é possível obter o mesmo resultado "deixando o carro ligado ao ralenti, sem sair do lugar, acelerando apenas um pouco”, de forma que o alternador faça a sua função de recarregamento da bateria. Ou, em períodos muito longos, pode-se desligar simplesmente a bateria – bastará, para tal, retirar a ligação ao borne negativo.
Outro ponto importante a ter em conta durante o tempo em que não se prevê circular com o automóvel é a pressão dos rodados. Os pneus, único ponto de contacto do veículo com o solo, irão estar a suportar o peso de forma contínua, com o risco de, no fim desse período, apresentarem deformações que podem comprometer a segurança. Por isso, lembra Bruno Gomes, é importante “garantir que a pressão dos pneus está correcta” ou mesmo “encher um pouco mais do que o aconselhado”, precavendo o efeito de esvaziamento. “Claro”, sublinha o mesmo responsável, “que a pressão tem de ser corrigida quando se voltar a pegar no carro”.
Ainda sobre as rodas, é de ter atenção se existe alguma pressão exercida. No estacionamento, deve-se privilegiar as estradas niveladas e deixar o carro engatado, com uma marcha engrenada, não esforçando em demasia o travão de mão (caso este não seja eléctrico). “Andar com o carro dez centímetros para a frente ou para trás”, sugere António Costa, também irá mudar o ponto de contacto e aliviar o pneu, evitando as malfadadas e dispendiosas deformações.
Quanto a ir encher o depósito ou não, o responsável do ACP considera importante fazê-lo por diferentes razões. Primeiro, porque havendo uma emergência, é importante o carro estar pronto a sair no imediato. Depois, porque quanto menos ar houver no depósito menor será o processo de oxidação que provoca a deterioração do combustível. Por fim, é de extrema importância não permitir que o carro esteja muito tempo sem funcionar e que depois se arranque com o depósito na reserva, já que as impurezas que se vão acumulando no fundo acabam por ser puxadas para o circuito, podendo comprometer a saúde dos injectores.
Mas não é apenas o combustível que sofre alterações pelo contacto com o ar e pela falta de circulação. Outros fluidos, como o óleo do motor, lembra António Costa, poderão necessitar de ser mudados se se passar muito tempo entre o momento em que o carro foi parado e o instante em que se volta a circular. “É como o óleo para fritar batatas: depois de aquecer e arrefecer, ao fim de um mês não irá revelar as mesmas características.”