Gerês: o destino do “guardador de rebanhos” está traçado?

São cada vez menos as aldeias onde se pratica a vezeira no Parque Nacional Peneda-Gerês. Paulo Carvalho, pastor da aldeia comunitária de Ermida, teme que, um dia, se extinga uma tradição ancestral. "Se não aparecer alguém para dar continuidade à profissão, ela vai acabar.”

©Carlos M. Almeida
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"A seguir e a olhar", Paulo Carvalho, 50 anos, cuida, incansável, dos animais que dele dependem para encontrar pasto. É vê-lo, monte acima, na companhia de cerca de 250 cabras, quatro cães e dos seus pensamentos, enquanto segue, mais um dia, por entre os trilhos que cruzam a verdejante paisagem do Parque Nacional Peneda-Gerês.

Paulo conhece a serra como as palmas das suas mãos e Carlos M. Almeida, o fotógrafo, foi "dar uma volta" com ele e o seu rebanho num quente dia de Agosto de 2020. "Quando o encontrei na aldeia, pelas oito da manhã, o dia de Paulo já ia longo. Tinha-se levantado às seis, para regar os cultivos e alimentar os outros animais", explica o fotógrafo ao P3, em entrevista telefónica. A vida do pastor é de trabalho intensivo. E os dias que passa no monte são de solidão, "e essa está espelhada no rosto" do pastor, refere o fotógrafo. "Passar tantos dias no monte, rodeado apenas de animais, implica passar a maior parte do tempo sozinho. O que pode ser duro."

As cabras que o pastor conduz pela serra não são só suas. É proprietário de mais de uma centena, mas as restantes pertencem a outros residentes da aldeia de Ermida, em Terras de Bouro. Em respeito pelas regras da vezeira comunitária, que dita que os pastores se revezem em proporção ao número de animais que possuem, Paulo cuida dos animais cinco dias por semana. Apesar da solidão, o pastor de 50 anos não se aborrece. "Há dias em que prefiro andar sozinho", disse ao fotógrafo. Entretém-se com os cães e com as movimentações do rebanho, mas, além disso, também tem de estar atento à presença de lobos nas proximidades. Não tem medo deles, mas quando atacam o gado, pouco há a fazer. "Sobretudo nas zonas de vegetação alta, onde aproveitam para se esconder", contou ao fotógrafo. "As mudanças de vento fazem com que os cães fiquem sem olfacto e é nessa altura que o lobo aproveita para atacar." Paulo conta que já tratou de vários dos seus animais que conseguiram escapar.

As aldeias onde se pratica a vezeira são cada vez menos numerosas e Paulo Carvalho teme que, um dia, se extinga uma tradição ancestral. "Se não aparecer um ou dois rapazes que se lancem para dar continuidade à profissão, ela vai acabar.” A sua aldeia, que tinha 300 habitantes há 20 anos, tem hoje cerca de 60, motivo pelo qual não guarda esperança num futuro risonho. O despovoamento e a má gestão dos baldios deitam tudo a perder. Enquanto tiver forças, Paulo irá continuar a percorrer a serra com os animais, guardando rebanhos e tradição secular. 

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