Joshua Wong investigado por subversão em Hong Kong e arrisca pena de prisão perpétua
O activista, que está a cumprir pena de prisão, está a ser investigado no âmbito da polémica lei de segurança nacional. Dos 53 políticos e activistas pró-democracia detidos esta semana só o antigo líder do Partido Democrático, Wu Chi-wai ficou preso.
À excepção de Wu Chi-wai, antigo líder do Partido Democrático, todos os políticos e activistas do grupo de 53 pessoas detidas esta semana à luz da lei de segurança nacional foram libertados sob fiança e sem acusação. Já os activistas Joshua Wong e Tam Tak-chi estão a ser investigados por “subversão do poder de Estado” e continuam detidos.
Na quinta-feira, um dia depois da operação em larga escala que resultou em mais de 50 detenções e buscas em dezenas de lugares diferentes, Joshua Wong, que cumpre uma pena de 13 meses e meio de prisão por participação numa manifestação ilegal em 2019, foi levado para um centro de detenção, onde foi interrogado no âmbito da lei de segurança nacional. O mesmo aconteceu a Tam Tak-chi, que estava em prisão preventiva.
Do grupo de 53 detidos na quarta-feira pelo seu envolvimento nas eleições primárias pró-democracia de Julho, o primeiro a ser libertado, um dia após a detenção, foi o advogado norte-americano John Clancey, o primeiro cidadão com nacionalidade estrangeira a ser detido à luz da lei de segurança nacional.
A operação da passada quarta-feira, que contou com a participação de mais de mil polícias, resultou no maior número de detenções desde que a polémica legislação entrou em vigor em Junho do ano passado.
Esta sexta-feira, foram libertadas mais 51 pessoas, ficando apenas detido Wu Chi-wai, que, ao contrário dos restantes activistas, recusou entregar o passaporte, segundo o The Guardian.
Joshua was further arrested under NSL today. WITHOUT legal representative this morning, he was taken to Laichikok Reception center to take statement. It is not known yet when and where this investigation will lead him to. Joshua has now returned to ShekPik Prison. (Apple Daily) pic.twitter.com/nI0KXGx2rF
— Joshua Wong ??? ?? (@joshuawongcf) January 7, 2021
As detenções e buscas por parte das autoridades de Hong Kong visaram os activistas e políticos envolvidos nas primárias pró-democracia do Verão de 2019, em que participaram mais de 600 mil pessoas na escolha dos candidatos ao Conselho Legislativo (LegCco), onde a oposição procurava inverter a maioria pró-Pequim.
As eleições legislativas acabariam por ser adiadas devido a uma controversa decisão do executivo regional de Carrie Lam, que justificou o adiamento com a pandemia de covid-19. Antes, 12 candidatos, entre eles Joshua Wong, foram desqualificados e ameaçados com futuras acusações de subversão.
Neste momento, após uma demissão em bloco de deputados pró-democracia em Novembro do ano passado, o LegCo está sem oposição.
“Acredito que muitos cidadãos de Hong Kong que apoiam a democracia e a liberdade vão continuar a defender os seus ideais”, disse o advogado John Clancey, citado pela Reuters, depois de ser libertado. “A Lei Básica [documento constitucional] assegura que todos os cidadãos de Hong Kong têm o direito a concorrer a eleições. O mal não pode prevalecer face ao bem”, disse Clancey.
Sem acusações
Numa conferência de imprensa após serem libertados, membros do Partido Democrático acusaram as autoridades de Hong Kong de estarem a levar a cabo detenções por motivações políticas e de quererem silenciar vozes dissidentes.
“O regime quer o povo de Hong Kong em silêncio. Querem criar um efeito dissuasor. Querem que nos curvemos perante o regime e que digamos sim a tudo o que diga respeito à administração de Carrie Lam”, acusou Lam Cheuk-ting, vice-presidente do Partido Democrático e um dos políticos entretanto libertados.
“Ainda não nos acusaram, mas tenho a certeza que podem acusar alguns de nós mais cedo ou mais tarde, tenham ou não provas suficientes”, acrescentou.
Depois de entregarem o passaporte e de pagarem a fiança, os membros do grupo terão de comparecer, no início de Fevereiro, perante as autoridades, que os acusam de quererem bloquear o LegCo e derrubar o executivo de Carrie Lam, no que consideram uma “subversão do poder do Estado”.
Caso venham a ser acusados formalmente, os políticos e activistas podem enfrentar uma pena de prisão perpétua pelo crime de subversão. A mesma sentença está prevista para os crimes considerados pela China como secessão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras.
A legislação imposta pela China à região administrativa especial tem sido sucessivamente condenada a nível internacional, principalmente pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, assim como por organizações de defesa dos direitos humanos, sendo encarada como um lei que visa acabar com a semiautonomia da região e silenciar vozes críticas.
A China, por seu lado, considera a lei fundamental para manter a estabilidade em Hong Kong, sobretudo depois da vaga de protestos de 2019 contra o executivo regional e o governo de Pequim.