A agonia (irreversível?) do CDS
Ir a legislativas com este CDS é acabar com o partido. Se os dirigentes centristas não percebem que estão à beira da extinção, então são tão responsáveis como Francisco Rodrigues dos Santos.
Quando Francisco Rodrigues dos Santos tomou conta do CDS, há um ano, o partido já valia pouco. O resultado das legislativas era o mais baixo de sempre com 4,2% ultrapassando em termos percentuais o fenómeno de 1987, quando o CDS, com 4,4%, ficou conhecido como “o partido do táxi”, porque os quatro deputados eleitos cabiam juntos num dos antigamente chamados “carros de praça”. Em 2019 elegeu cinco deputados, o mesmo número que em 1991, quando o eleitorado conservador se transferiu em massa para o PSD de Aníbal Cavaco Silva, que nesses anos consegue duas maiorias absolutas.
As coisas invertem-se quando Manuel Monteiro, primeiro, e Paulo Portas, depois, tomam conta do partido. O eleitorado reconcilia-se com o pequeno partido da direita que historicamente cumpria uma função importante na democracia portuguesa: serviu sempre, com sucesso, de travão à extrema-direita. Agora, como se vê nas sondagens, já não serve para isso nem para quase nada. E há uma reconfiguração à direita, para além do Chega. A Iniciativa Liberal capta mais a atenção do que este CDS.
A recente sondagem da Aximage que dá o CDS com 0,3% é um murro no estômago que nos faz prever que, a não existir qualquer mudança radical, o fim do partido fundado em 1974 está a um passo. É verdade que, um ano depois de ter vencido o Congresso, Francisco Rodrigues dos Santos não se conseguiu minimamente impor – é ignorado pelo eleitorado e pela sociedade civil. É claramente um homem só e sem mãos para tocar aquela muito difícil guitarra (e também não se percebe onde andam os barões que o apoiaram).
Para o CDS poder voltar a cumprir os mínimos na sociedade portuguesa, Rodrigues dos Santos tem que dar lugar a outro. Francisco Mendes da Silva propôs neste jornal que “Chicão” devia ser candidato à Câmara de Lisboa – que me perdoe o nosso muito estimado cronista mas isso é um “harakiri” para o partido, depois do sucesso irrepetível de Assunção Cristas nas últimas eleições.
O problema não é Rodrigues dos Santos ser candidato ou não à capital, o problema é que Francisco Rodrigues dos Santos não pode ser líder nas próximas autárquicas, quando não está totalmente fora de hipótese que uma crise política possa acontecer e acabe a precipitar umas legislativas antecipadas.
Ir a legislativas com este CDS é acabar com o partido. Se os dirigentes centristas não percebem que estão à beira da extinção – e não mexem uma palha para a tentar evitar – então são tão responsáveis como Francisco Rodrigues dos Santos.