Trump pressiona Pence e Biden quer um “novo dia” para a Georgia e para os EUA
Presidente e presidente eleito fecharam a campanha da segunda volta das eleições para o Senado no estado da Georgia, cujo desfecho poderá ser decisivo para o controlo do Congresso norte-americano.
O presidente eleito, Joe Biden, e o Presidente cessante, Donald Trump, foram os grandes protagonistas do último dia de campanha no estado norte-americano da Georgia, onde se decide esta terça-feira a segunda volta da eleição para os dois cargos de senadores ainda em aberto e cujo desfecho poderá dar ao Partido Democrata o controlo das duas câmaras do Congresso dos Estados Unidos.
Num comício em Dalton, na segunda-feira à noite, de apoio aos candidatos e senadores republicanos, Kelly Loeffler e David Perdue – que são desafiados pelos democratas Raphael Warnock e Jon Ossoff –, Trump dedicou grande parte da sua intervenção a repetir os principais argumentos da narrativa de que houve fraude generalizada nas eleições presidenciais de Novembro, vencidas por Joe Biden, com mais de 7 milhões de votos sobre o chefe de Estado republicano.
O Presidente prometeu uma “luta dos diabos” para se manter no cargo, garantiu que não vai ceder o poder a Biden e pediu ao Congresso que não ratifique a votação do Colégio Eleitoral que confirmou a vitória do candidato presidencial democrata, por 306 votos contra 232.
Trump pressionou mesmo o vice-presidente e seu aliado, Mike Pence, para que, na qualidade de responsável máximo pela sessão plenária conjunta de quarta-feira, faça o seu papel e não permita a validação dos resultados.
“Espero que o nosso grande vice-presidente seja bem-sucedido. Ele é um grande homem. Claro que, se não conseguir, não vou gostar tanto dele”, atirou Trump.
A cerimónia de ratificação da votação no Colégio Eleitoral costuma ser uma formalidade no processo eleitoral norte-americano. Mas a posição do Presidente e de muitos congressistas e aliados republicanos de contestação do resultado da votação presidencial, faz prever interrupções nos trabalhos de quarta-feira e, previsivelmente, a intervenção decisiva de Pence, que preside à sessão.
Sobre a eleição desta terça-feira, na Georgia, Trump procurou chamar a atenção dos eleitores para o facto de Loeffler e Perdue serem seus apoiantes.
E apesar de estar a insistir, há mais de um ano, que o sistema eleitoral norte-americano é “fraudulento” a favor dos democratas, de ter sido derrotado em mais de 50 processos judiciais de contestação dos resultados e de ter telefonado recentemente ao governador da Georgia para “encontrar” os votos necessários para reverter a votação neste estado, o Presidente fez um apelo ao voto e à participação massiva dos eleitores.
“Amanhã [hoje] cada um de vocês vai votar naquela que é uma das segundas voltas mais importantes que já tivemos. A Kelly luta por mim e o David luta por mim – isso vos garanto”, afiançou Trump.
Novo ano, novo dia?
Joe Biden também discursou na Georgia. Consciente de que a eleição dos dois candidatos democratas pode vir a dar ao partido o controlo do Senado, da Câmara dos Representantes e da Presidência – que lhe permitiriam pôr em marcha a sua agenda política e legislativa, fazer reformas e reverter grande parte do legado de Trump –, o presidente eleito também não teve problemas em colar o actual Presidente e as suas polémicas a esta eleição interna.
“O Presidente passa mais tempo a lamentar-se e a queixar-se em vez de fazer alguma coisa para resolver os problemas. Não sei porque é que ainda quer ficar no cargo, se não quer fazer o seu trabalho”, acusou Biden, num comício em Atlanta, denunciando a gestão ineficiente da Casa Branca à pandemia.
“Na América, como os nossos amigos na oposição estão a descobrir, todo o poder emana do povo. Os políticos não podem impor, tomar ou capturar o poder. O poder é-lhes atribuído pelo povo americano e nós não podemos desistir dele”, disse ainda o antigo vice-presidente de Barack Obama. “Estamos num novo ano e, amanhã [hoje], poder ser um novo dia para Atlanta, para a Georgia e para a América”.
Se os candidatos republicanos forem reeleitos esta terça-feira, o Partido Republicano ficará com uma maioria de 52-48 no Senado, maioria que também terá se apenas um desses senadores se mantiver no cargo.
Já o Partido Democrata precisa mesmo de eleger os dois candidatos, se quiser controlar a câmara alta do Congresso. Num Senado com 50 senadores para cada lado, cabe ao vice-presidente o voto de desempate – a democrata Kamala Harris, portanto.