Covid-19: com 100 anos, Celeste Heleno foi a primeira utente vacinada num lar em Mação

Vacinação em 150 lares dos 25 concelhos de risco extremo começou esta segunda-feira em Mação.

covid19,coronavirus,saude,sociedade,vacinas,
Fotogaleria
Celeste, primeira pessoa a ser vacinada num lar em Portugal continental Daniel Rocha
covid19,coronavirus,saude,sociedade,vacinas,
Fotogaleria
Daniel Rocha
covid19,coronavirus,saude,sociedade,vacinas,
Fotogaleria
Daniel Rocha
covid19,coronavirus,saude,sociedade,vacinas,
Fotogaleria
Daniel Rocha
covid19,coronavirus,saude,sociedade,vacinas,
Fotogaleria
Daniel Rocha

Com 100 anos, Celeste Heleno foi a primeira utente de um lar a ser vacinada contra a covid-19 em Portugal continental. Passavam poucos minutos depois das 15h desta segunda-feira. Momentos antes militares da GNR, um do Exército e um membro da Protecção Civil entraram no refeitório transformado em sala de vacinação no Lar da Casa dos Idosos de São José das Matas. Traziam as malas refrigeradas contendo as doses a serem administradas na residência para idosos desta pequena povoação do concelho de Mação​.

Neste lar foram vacinadas 50 pessoas, entre utentes e funcionários, às quais se juntaram uma hora depois mais de 61 do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Cardigos, no mesmo concelho. 

No primeiro, 32 utentes e 18 funcionários participaram neste primeiro momento simbólico. No interior, as auxiliares, entretidas numa azáfama para manter tudo limpo e desinfectado, e a equipa das técnicas de farmácia aguardavam o momento em que a residente mais velha do lar iria prestar-se aos cuidados de uma enfermeira responsável pela vacinação.

Sentimo-nos honrados por esta sessão de vacinação e desejamos que o plano de vacinação se estenda a toda a população e brevemente”, disse Manuel Luís Cristóvão, presidente da direcção da instituição. “Provavelmente tivemos uma pontada de sorte por chegarmos a este dia sem um único caso de covid-19”, acrescentou ainda o presidente da direcção do lar que deu as boas-vindas à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), Ana Mendes Godinho.

À espera de Celeste Heleno estava um grupo de jornalistas com as câmaras ao ombro do lado de fora, no pátio. A senhora, que toma conta de uma irmã mais nova também residente no lar, veio pela mão da directora técnica, de olhar vivo por trás das lentes dos óculos, caminhando lentamente. Com a voz baixa, não escondeu o espanto: “Tanta gente...”

Foto
Daniel Rocha

Depois da vacina administrada, dos aplausos e das palavras proferidas pelo responsável desta Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), Ana Mendes Godinho assinalou o momento proporcionado por Celeste Heleno, a quem agradeceu, como a todas as pessoas que se disponibilizam para serem vacinadas: “Há uma grande noção de protecção colectiva”, afirmara à chegada.

Ana Mendes Godinho deixou ainda um agradecimento profundo “ao pessoal do sector social e a pessoas que dedicaram a sua vida a proteger a vida dos outros”.

“A vacinação vem trazer uma esperança para todos os utentes e funcionários dos lares”, acrescentou dizendo que existem mais de 2000 legais e 788 sem licença para funcionar. Serão abrangidos por este processo de vacinação todos os lares sem tiverem casos positivos. A governante adiantou que do total da população em lares, cerca de 5% está infectada. 

Neste lar de São José das Matas, não houve um único caso desde o início da pandemia e Mação esteve identificado como concelho de risco moderado até há pouco tempo. A situação complicou-se nos últimos dias em duas residências para idosos. Uma delas é o Lar da Santa Casa da Misericórdia de Mação no qual, entre utentes, funcionários e pessoas na comunidade, estão 105 pessoas infectadas no mesmo dia em que a poucos quilómetros, com o início da vacinação, se festeja a possibilidade de prevenir os contágios.

Foto
Daniel Rocha

“Com este passo, estamos a abrir uma janela de esperança para muitas pessoas, para muitas famílias, utentes e funcionários”, disse o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela. “Hoje é um dia histórico para Mação, é um dia histórico para Portugal”, completou, prevendo que a população do concelho estará mais tranquila dentro de dois meses para recuperar tempos de proximidade perdidos.

A solidão é o que mais tem afectado a maioria das 51 pessoas aqui vacinadas, diz Raquel Lourenço, directora técnica da residência. “São pessoas habituadas a receber a visita dos seus familiares que, nalguns casos, vinham de longe ao fim-de-semana”, explica. “Sentem-se abandonados. Tentamos explicar-lhes que a família agora não vem porque não pode, não porque não quer. Alguns compreendem, outros não. É muito complicado.” 

O possível agora é cada pessoa receber uma visita por semana, previamente agendada. Nos meses de confinamento, as portas fecharam-se a qualquer visita.

Alguns utentes estavam habituados a ver familiares todos os dias. Outras esperavam os filhos aos fins-de-semana. “Temos a sorte de poder dizer que os idosos que estão neste lar têm as famílias muito presentes”, diz Raquel Lourenço.

A responsável recorda com um sorriso o dia de Maio em que Celeste Heleno completou 100 anos em pleno confinamento. Não houve lugar a beijos ou abraços, só acenos e sorrisos dos familiares por entre os mesmos vidros do refeitório por onde a decana do lar é hoje fotografada. 

Sugerir correcção
Comentar