Putin diz que Navalni não era importante para os serviços secretos russos
Presidente russo nega qualquer envolvimento do FSB no envenenamento do seu principal opositor e diz esperar melhoria das relações com os EUA de Biden.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que as suspeitas de que foram os serviços secretos russos os responsáveis pela tentativa de homicídio do opositor Alexei Navalni servem apenas os interesses dos Estados Unidos e reafirmou que o Kremlin não queria o político morto. “Quem precisava de o envenenar?”, questionou Putin.
As declarações do chefe de Estado russo foram feitas durante a conferência de imprensa anual que se realiza habitualmente no final do ano. Trata-se de uma maratona de várias horas em que jornalistas nacionais e internacionais aproveitam a rara oportunidade para abordar directamente o homem-forte do Kremlin.
Com a presença de uma miríade de jornalistas, que vão desde correspondentes estrangeiros a jornalistas locais, a conferência acaba por abordar temas muito díspares.
Desta vez, Putin tanto respondeu a questões de política externa como foi instado a comentar a divulgação de um vídeo privado do futebolista russo Artem Dzyuba, em que aparecia a masturbar-se, por exemplo. “É uma boa lição”, disse Putin a esse propósito.
Este ano, em virtude da pandemia da covid-19, o Presidente russo respondeu às perguntas através de teleconferência, a partir da sua residência em Novo-Ogariovo, perto de Moscovo.
Putin reagia à divulgação de uma investigação do site Bellingcat, que concluiu que o envenenamento de Navalni, em Agosto na Sibéria, foi resultado de uma operação orquestrada pelo FSB, os serviços secretos russos, em que foi usado Novichok – o agente de nervos usado no envenenamento do ex-espião Serguei Skripal, em 2018, no Reino Unido.
O Presidente russo desvalorizou as conclusões da investigação como “uma tentativa para legitimar os materiais dos serviços especiais americanos”. Putin também garantiu que Navalni não é um dirigente que mereça a preocupação do Estado russo. “Quem precisava de o envenenar? Se alguém o quisesse envenenar, provavelmente teria acabado o trabalho”, afirmou.
Como prova de que o Kremlin não queria que Navalni corresse riscos, Putin deu o exemplo da autorização concedida para que o líder da oposição fosse enviado para tratamento na Alemanha. “Quando a mulher dele me pediu, eu deixei-a imediatamente levá-lo para a Alemanha”, disse Putin.
Aceno a Biden
A conferência anual coincidiu com a saudação de Putin do Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, esta semana, após a confirmação do Colégio Eleitoral norte-americano. A mudança na presidência dos EUA não foi ignorada por Putin, que disse lamentar a degradação das relações entre Moscovo e Washington.
“As relações entre os EUA e a Rússia ficaram reféns da situação política interna [norte-americana]. Espero que Biden perceba o que está a acontecer, ele é uma pessoa experiente”, afirmou o Presidente russo.
Putin disse esperar que os EUA aprovem a renovação do tratado New Start, o único instrumento ainda em vigor que limita a proliferação de armamento nuclear entre as duas maiores potências, que expira em Fevereiro.
A conferência de imprensa também serviu para Putin defender a sua gestão da pandemia de covid-19, que já fez mais de 48 mil mortos na Rússia. “Comparado com o resto do mundo, o nosso sistema de saúde mostrou-se mais eficiente”, garantiu o Presidente russo, admitindo, porém, que “nenhum país estava preparado para algo nesta escala”.
Putin, que tem 68 anos, disse ainda que pretende ser vacinado, embora esteja ainda a aguardar a recomendação dos médicos especialistas. “Sou bastante cumpridor da lei.”