Gripe continua com taxa de incidência zero, nove semanas após início da época gripal
É de esperar época menos intensa do que em anos anteriores. Há apenas casos pontuais. Vários factores contribuem para baixa taxa de incidência, mas isso não significa que a gripe não venha a ter impacto no início do próximo ano.
A gripe pouco se fez notar até agora, mas ainda é cedo para dizer o que vai acontecer, alertam os especialistas. Por isso, embora seja de esperar uma época gripal menos intensa do que em anos anteriores, é preciso manter todos os cuidados para evitar que maior pressão possa recair sobre os serviços de saúde no início do próximo ano. Entre eles estão o uso de máscara e a desinfecção das mãos, medidas de prevenção para a transmissão do SARS-CoV-2, mas que também ajudam a combater a gripe e outros vírus respiratórios.
Das nove semanas de monitorização da gripe – desde que teve início a época gripal –, em apenas três relatórios semanais do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) houve registo de casos pontuais de gripe. Números tão baixos que não fizeram a taxa de incidência sair da chamada “zona basal”, ou seja, aquela em que é considerado que há ausência de actividade gripal. Por esta altura, no ano passado, o vírus da gripe começava a entrar na zona de actividade baixa.
O último relatório de monitorização da gripe do Insa, publicado na quinta-feira (período entre 30 de Novembro e 6 de Dezembro), refere uma taxa de incidência de zero por cem mil habitantes, assim como o anterior. Porém, salienta-se nos relatórios que “este valor deve ser interpretado tendo em conta que a população sob observação foi menor do que a observada em período homólogo de anos anteriores”.
Também no que diz respeito a consultas por síndrome gripal nos centros de saúde, em todas as regiões do país o registo está na zona basal. Apesar de os hospitais notificarem casos de infecção respiratória, provocados por vários vírus, até ao momento apenas dois doentes com gripe foram internados em cuidados intensivos.
“Não podemos tirar já conclusões sobre a época gripal, ainda estamos numa fase precoce”, diz ao PÚBLICO Cátia Caneiras, da Comissão de Trabalho de Infecciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. “Embora se preveja uma menor actividade gripal do que no ano passado, espera-se um aumento em relação ao que está agora”, salienta a especialista, que recorda que “no ano passado o pico da gripe aconteceu na terceira semana de Janeiro”.
A redução da actividade gripal, acrescenta Filipe Froes, pneumologista e coordenador do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19, já era de alguma forma esperada, tendo em conta o que aconteceu no Inverno do hemisfério sul. Além de salientar a possibilidade de um “início de actividade gripal mais à frente no tempo”, destaca outros factores que podem explicar o baixo registo de casos de gripe e um eventual pico mais tardio.
Temperaturas mais baixas
“As temperaturas mais baixas só se começaram a registar agora e este ano temos medidas de distanciamento social e de intervenção não farmacológica, como o uso de máscaras e desinfecção das mãos, que fazem diminuir a circulação do vírus”, explica Filipe Froes, que deixa um aviso: “Não podemos dizer que não vamos ter gripe e termos uma surpresa que venha agravar mais a sobrecarga sobre os serviços de saúde. Não podemos atenuar comportamentos nem minorar medidas de prevenção.”
“A implementação generalizada de medidas de controlo de infecção – o uso de máscaras, mais lavagem das mãos – protege para a SARS-CoV-2, para a gripe e para outros vírus respiratórios. São medidas que são comuns e são das mais eficazes no controlo de infecções, sejam virais sejam bacterianas”, reforça Cátia Caneiras, acrescentando que se “deve continuar a manter estas medidas. “Protege a nossa saúde e a dos outros, não só para a covid, mas também relativamente à gripe.”
A especialista destaca também o efeito da vacina da gripe. “Pelo segundo ano consecutivo temos uma vacina tetravalente, que garante maior abrangência dos serotipos [dos vírus da gripe] em circulação. Já na época gripal 2019/20, comparativamente com a época anterior, tivemos uma intensidade mais baixa”, explica. Este ano, a vacinação foi dividida em duas fases, a primeira elegendo como prioritários os idosos em lares e profissionais de saúde.