TAP – foi você que pediu um Novo Banco?
Ao invés de tomar primeiro uma decisão política ideológica e procurar depois argumentos (falaciosos) que a sustentem, o Governo deveria dar a conhecer aos portugueses a avaliação que fez dos custos vs. benefícios de se injectar mais de 3,4MM€ numa empresa cronicamente falida, sobretudo e acima de tudo quando temos carências flagrantes em termos sociais e nos serviços essenciais do Estado.
Em 30 de Junho de 2017, por decisão do Governo de António Costa, o Estado português voltou a assumir a posição de acionista maioritário da TAP, tendo o Governo justificado a reversão da privatização da empresa com o argumento do papel essencial que a TAP desempenhava na projecção internacional de Portugal.
Graças à conferência de imprensa de Pedro Nuno Santos na última sexta feira, ficamos a saber que o Governo, enquanto acionista maioritário da TAP, precisou de mais de três anos para concluir que a empresa tem um problema de sobredimensionamento e um conjunto vasto de ineficiências que a tornam menos produtiva e competitiva face aos seus concorrentes.
Fica, pois, por explicar o que andaram os administradores do Estado a fazer este tempo todo na TAP (Diogo Lacerda Machado à cabeça), para além de tecer loas à gestão de David Neeleman, e o que levou o Governo a aceitar fazer o papel de mero figurante no teatro operacional da empresa.
Dito isto, centrando-me agora no resgate financeiro da TAP, Pedro Nuno Santos justificou a sua decisão política com base nos seguintes argumentos:
- A TAP em 2019 foi dos principais exportadores nacionais;
- A TAP em 2019 comprou 1,3MM€ a mais de mil empresas portuguesas;
- A TAP foi importante para o crescimento do sector do turismo em Portugal.
Ora, antes de dissecar aqueles argumentos, resulta claro, desde logo, que o ministro invocou dados respeitantes ao passado operacional da TAP para justificar o resgate estatal da empresa, sendo este um exercício equívoco dado que, por força da futura e acentuada redução operacional da companhia (menos rotas e menos aviões) e da queda da procura nos seus serviços (estima-se uma perda de receita de 6,7MM€ até 2025), aqueles dados não terão qualquer correspondência no futuro.
Pedro Nuno Santos encontra-se, portanto, a laborar em cima de premissas erradas para justificar a sua decisão política.
Mas a lógica argumentativa do ministro não falha apenas pelo referido.
Com efeito, e no que respeita ao 1.º argumento, é consabido que aquele dado tem de ser acompanhado por uma avaliação do valor acrescentado que tais exportações importam para o país, na medida em que uma empresa que exporta muito pode precisar de um elevado número de importações para produzir os bens que exporta e, nessa medida, pouco valor acrescentado pode gerar. Ora, o que o ministro não disse é que esse foi, precisamente, o caso da TAP em 2019, dado que esta empresa foi a segunda maior importadora do país, logo atrás da Galp (fonte INE).
Quanto ao 2.º argumento, o ministro que tanto discorreu sobre os impactos do plano de reestruturação na TAP não foi capaz de esclarecer quanto é que desses 1,3MM€ comprados a fornecedores portugueses serão cortados no futuro quer por corresponderem a desperdícios e gastos não essenciais, quer por efeito da redução substancial da operação da empresa, tendo permanecido ainda por explicar o que leva o ministro a considerar que tais empresas não poderiam continuar com a sua área de negócio junto das companhias que viessem a ocupar o lugar da TAP nos aeroportos nacionais.
No que concerne ao 3.º e último argumento, foi o próprio ministro que acabou por desvalorizá-lo ao admitir que só em 2025 é que a procura da TAP voltará aos níveis de 2019, importando, ainda assim, relembrar que o crescimento do turismo nos últimos anos na região do Porto e Algarve (onde a quota de mercado de passageiros da TAP nos respectivos aeroportos é muito modesta) não foi feito à custa da TAP mas, sim, independentemente desta.
Dito isto, ao invés de tomar primeiro uma decisão política ideológica e procurar depois argumentos (falaciosos) que a sustentem, o Governo deveria dar a conhecer aos portugueses a avaliação que fez dos custos vs. benefícios de se injectar mais de 3,4MM€ numa empresa cronicamente falida (nos últimos 45 anos, a TAP só por duas vezes apresentou lucros), sobretudo e acima de tudo quando temos carências flagrantes em termos sociais e nos serviços essenciais do Estado.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico