O pesadelo da TAP ainda não começou
O que sabemos sobre a TAP basta para reconhecermos que a salvação da transportadora se vai tornar o mais duro obstáculo à salvação do país. Será um sorvedouro gigante de recursos e energias. Como o Novo Banco, vai dividir e descredibilizar a política.
Ainda não conhecemos por inteiro o plano de reestruturação da TAP e estamos longe de uma ideia das mudanças que a Comissão Europeia lhe vai introduzir. Mas o que sabemos basta para reconhecermos que a salvação da transportadora se vai tornar o mais duro obstáculo à salvação do país. Será um sorvedouro gigante de recursos e energias. Como o Novo Banco, vai dividir o país e descredibilizar a política. Os números não mentem. E assustam: perda de receitas de 6,7 mil milhões de euros até 2025; necessidades de 3725 millhões em 2024; despedimentos e cortes salariais sujeitos a uma terrível pressão social e política; incerteza no mercado; tensões políticas no Governo sobre como se deve gerir o processo. A TAP, está escrito nas estrelas, vai tornar-se um dos nossos maiores pesadelos.
Era fácil antecipar o que estamos a viver. No princípio de Julho escrevêramos que, “no meio de uma crise terrível como a que vivemos, o Governo ficar no comando de uma empresa falida e sujeita a uma reestruturação dolorosa é meio caminho andado para o desastre”. Durante estes meses de penúria vamos ter cada vez mais dúvidas sobre se a TAP é uma prioridade. Vamos assistir a um custo de salvação cada vez maior. Vamos ver o Governo desgastar-se entre a direita que lhe critica os financiamentos e a esquerda que deplora os despedimentos. A TAP seria sempre um foco de turbulência e de ansiedade. Levar o vírus da falência e da tensão social e política para o coração do Governo é regar fogo com gasolina.
Tinha de ser assim? Em parte, sim. A liquidação nunca foi uma alternativa séria. E jamais haveria uma salvação sem uma factura para o Estado. O problema não está por isso no auxílio à transportadora, mas na crença de que tinha de ser o Estado a arcar com essa missão. Não tinha. Os privados que controlavam 45% do capital e a gestão da empresa começaram por pedir avales e por várias vezes manifestaram a sua vontade em gerir a crise com o apoio do Estado. Se David Neeleman saiu com 55 milhões de euros no bolso foi porque o Governo pouco fez para que ficasse.
E se tivesse ficado, o cenário seria péssimo. Mas permitiria ao menos ao Estado gerir à distância a tempestade, mesmo que no final do dia tivesse de transformar créditos em capital. Assim, no olho do furacão por força da visão estatizante de Pedro Nuno Santos, o Estado dilacera-se num problema sem solução à vista. Entre os seus muitos problemas, este era o problema que, hoje, até Pedro Nuno Santos gostaria de ter dispensado.