Em todo o mundo, há 387 jornalistas presos, 54 sequestrados e quatro condenados à morte

Repórteres Sem Fronteiras denunciam aumento dos ataques à liberdade de imprensa devido à resposta musculada de alguns governos à pandemia de covid-19. Número de mulheres detidas aumentou um terço desde o ano passado.

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Jornalista iraniano Ruhollah Zam foi executado no passado sábado Reuters

Pelo menos 387 jornalistas estão presos neste momento, de acordo com o relatório dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicado esta segunda-feira, com a organização a denunciar o aumento do número de detenções arbitrárias durante a cobertura noticiosa da pandemia de covid-19.

De acordo o relatório, mais de metade (61%) dos 387 jornalistas estão detidos em apenas cinco países: China (117), Arábia Saudita (34), Egipto (30), Vietname (28) e Síria (27).

“Perto de 400 jornalistas vão passar as festividades de fim de ano na prisão, longe das pessoas que amam e em condições que frequentemente põem as suas vidas em perigo”, afirmou Christophe Delioire, secretário-geral dos RSF, notando que “as mulheres, em número cada vez maior na profissão, não são poupadas”.

Segundo a organização que tem sede em Paris, em 2020 o número de mulheres detidas aumentou para 42, quando em 2019 eram 31, um aumento de um terço. Entre as novas detenções, está a jornalista e activista vietnamita Pham Doan Trang, presa desde Outubro e acusada de “propaganda contra o Estado”, bem como duas jornalistas na China, quatro no Irão e outras quatro na Bielorrússia.

A Bielorrússia é particularmente visada pelos RSF, com a organização a denunciar uma “repressão sem precedentes” no país desde as eleições presidenciais de 9 de Agosto que deram a reeleição, não reconhecida pelos Estados Unidos e pela União Europeia, a Aleksander Lukashenko, no poder há 26 anos.

Além da repressão sobre manifestantes pacíficos na Bielorrússia, os RSF denunciam “detenções arbitrárias” de jornalistas, muitos deles submetidos a maus-tratos na prisão e que podem enfrentar acusações criminais pela sua cobertura da vaga de protestos que se seguiu às eleições.

Nos últimos quatro meses, foram detidos pelo menos 370 jornalistas na Bielorrússia, tendo a esmagadora maioria sido libertada após um curto período de tempo – neste momento, continuam presos oito jornalistas no país.

O relatório refere ainda que há 54 jornalistas sequestrados na Síria, Iraque e Iémen. Em 2020, a organização contabilizou mais quatro desaparecimentos de jornalistas – no Iraque, no Congo, em Moçambique e no Peru - em circunstâncias nunca explicadas.

Há ainda quatro jornalistas condenados a pena de morte no Iémen, estando sob custódia dos rebeldes houthi. No passado sábado, o jornalista iraniano Ruhollah Zam foi enforcado no Irão, acusado de promover os protestos de 2017 contra o regime iraniano, uma execução que os RSF consideram um crime.

O relatório anual com o número de jornalistas mortos durante o ano será publicado no dia 29 de Dezembro. 

O efeito covid-19

Apesar de o número de jornalistas detidos este ano ser praticamente idêntico ao de 2019- - quando estavam presos 389 jornalistas – as detenções arbitrárias de jornalistas aumentaram, particularmente devido à repressão de alguns Governo contra jornalistas que faziam a cobertura noticiosa da pandemia de covid-19.

Entre Fevereiro e Novembro, segundo os RSF, foram registados 300 incidentes relacionados com a cobertura jornalística da crise sanitária, que afectaram 450 jornalistas. As detenções arbitrárias constituem 35% dos abusos relatos, seguindo-se os casos de violência física e psicológica, com 30%. Entre Março e Maio, o número de detenções quadruplicou, e, apesar de a grande maioria já ter sido libertada, há ainda 14 jornalistas detidos na Ásia e em África.

Entre eles destacam-se os casos de Zhang Zhan, uma ex-advogada e jornalista (sem carteira profissional) que foi detida na China em Maio por publicar vídeos nas redes sociais sobre a surto de covid-19 em Wuhan; e Hopewell Chin’ono, detido desde Julho no Zimbabwe, depois de ter noticiado um escândalo de corrupção sobre a venda de equipamento médico ao país.

“Por trás de cada um destes casos, está o destino de uma pessoa que enfrenta acusações criminais, longas detenções e que muitas vezes é alvo de maus-tratos porque não se submeteu à censura e à repressão”, afirmou à Deutsche Welle Katja Gloger, responsável dos RSF na Alemanha.

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