Explosão no porto de Beirute: primeiro-ministro e três ex-ministros acusados por negligência

Juiz responsável pela investigação à explosão da capital libanesa tentou que o Parlamento investigasse as responsabilidades políticas do chefe de Governo e de outros antigos responsáveis.

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Hassan Diab chegou à chefia do Governo em Janeiro e está demissionário desde 10 de Agosto Mohamed Azakir/Reuters

Fadi Sawan, o juiz que está a investigar a gigantesca explosão de Agosto no porto de Beirute, acusou esta quinta-feira o primeiro-ministro demissionário Hassan Diab de negligência. Com Diab, são também acusados dois antigos ministros das Obras Públicas e o ex-ministro das Finanças. Até agora, Sawan já os tinha interrogado como testemunhas, na próxima semana serão ouvidos como acusados no inquérito à dupla explosão que fez 200 mortos, 6000 feridos e 300 mil desalojados na capital do Líbano.

A decisão é conhecida duas semanas depois de o juiz ter enviado uma carta ao Parlamento pedindo aos deputados para investigarem os ministros num tribunal especial parlamentar para acusações a altos responsáveis. O presidente do Parlamento, Nabih Berri, recusou. Um responsável judicial ouvido pela Al-Jazeera diz que Sawan tentou que os parlamentares “explorassem a responsabilidade política dos ministros, mas a recusa forçou-o a apresentar estas acusações de negligência, que ele considera caberem na sua jurisdição”.

Na base desta decisão está a verificação de correspondência enviada a estes membros do Governo com avisos sobre a presença de 2750 toneladas de materiais explosivos no porto.

Um relatório da Direcção Geral de Segurança conhecido dias depois da tragédia já referia a existência de uma carta enviada a Diab e ao Presidente, Michel Aoun, onde se dava conta da necessidade de armazenar em segurança o nitrato de amónio, material que “poderia destruir Beirute caso explodisse”. A carta foi enviada a 20 de Julho, duas semanas antes da explosão, e seguia-se a vários memorandos e documentos enviados por funcionários do porto nos anos anteriores, pedindo que a carga fosse retirada de um lugar tão próximo do centro da capital libanesa.

Diab já sabia da presença da carga no porto desde 3 de Julho, mas só com este relatório se decidiu a fazer alguma coisa, pedindo aos ministros relevantes que se ocupassem do assunto. O primeiro-ministro demitiu-se uma semana depois da explosão mas continua no cargo depois de várias tentativas fracassadas para formar um novo executivo.

Youssef Fenianos, ministro das Obras Públicas, e Ali Hassan Khalil, que assegurou a pasta das Finanças entre 2014 e 2020, também se demitiram na sequência da explosão que devastou bairros inteiros. Enquanto ministro das Finanças, Khalil tinha a cargo os Serviços de Alfândega, cujo director está detido e foi acusado. Fenianos estava no Governo desde 2016, tendo substituído Ghazi Zaeiter, o terceiro ex-ministro acusado, que chefiava as Obras Públicas quando o navio que transportava o nitrato de amónio chegou a Beirute para ali ficar num armazém durante seis anos. Este ministério é responsável pela supervisão do porto.

Zaeiter disse que comentará a acusação depois de ser formalmente informado, enquanto Diab se mostrou “surpreendido” e se afirma de “consciência tranquila”, acrescentando que não permitirá que “a posição de primeiro-ministro seja atacada por ninguém”.

Com estas são já 37 os acusados, com 25 pessoas sob detenção.

Num Estado em falência por causa da corrupção, do clientelismo político e da incompetência, familiares das vítimas e grupo de direitos humanos apelaram a uma investigação internacional independente, o que Aoun recusou. Os resultados da investigação conduzida pelo juiz Sawan serão depois encaminhados para o Conselho Judicial Superior, o supremo tribunal do Líbano.

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