Doyen pagou 700 mil euros à empresa de Alexandre Pinto da Costa pela transferência de Casemiro, confirma Nélio Lucas

Antigo CEO da Doyen Sports Investments não conseguiu explicar os contornos dos empréstimos ao FC Porto. Defesa de Rui Pinto também quis saber até que ponto Nélio Lucas sabia a proveniência do dinheiro do seu sócio Malik Ali.

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Rui Pinto Rui Gaudêncio/Arquivo

Nélio Lucas, antigo CEO da Doyen Sports Investments, confirma que a Doyen pagou 700 mil euros à empresa de Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto, Pinto da Costa, pela transferência do jogador Casemiro do Real Madrid para os dragões, em 2016.

Rui Pinto já tinha denunciado esta ligação no Football Leaks e na última sessão a questão já tinha sido falada, mas não se tinha chegado a falar de um valor.

Questionado por Teixeira da Mota, advogado de Rui Pinto , Nélio Lucas acabou por confirmar o pagamento ao filho de Pinto da Costa.

Mas sublinhou que, se Alexandre Pinto da Costa, foi pago foi porque prestou um serviço.

Porém, o antigo CEO da Doyen não adiantou muito mais sobre o assunto até porque não se recordava bem dos contornos. Uma falha de memória que o acompanhou ao longo do seu depoimento e que levou Teixeira da Mota  a dizer: "A memória da testemunha é muito selectiva.” Sendo que Nélio Lucas também não se conteve e respondeu: “É selectiva onde ela interessa.”

Uma das suas maiores falhas de memória esteve relacionada com os negócios entre a Doyen e o FC Porto.

O advogado de Rui Pinto confrontou Nélio Lucas com um documento relativo a uma tabela com os negócios de jogadores e comissões. Teixeira da Mota queria saber como tinha sido o negócio de Sérgio Oliveira com os dragões e se Nélio Lucas tinha sido intermediário.

A testemunha disse não conhecer o documento e também disse que não se lembrava se estava ou não registado como intermediário.

Teixeira da Mota perguntou se o intermediário teria sido Kevin Caruana, mas Nélio Lucas disse que não se lembrava quem é que assinou o contracto do FC Porto com o jogador.
Nélio Lucas também não conseguiu adiantar muito sobre os empréstimos que a Doyen fez ao clube dos dragões. Não se lembrava.

Teixeira da Mota disse que o FCP contabilizou, nas suas contas, um empréstimo de três milhões de euros do Banco Carregosa, banco com o qual a Doyen trabalhava em Portugal.

E questionou a testemunha: “Como é que a operação foi feita? “Teve intervenção directa neste empréstimo?” Nélio Lucas disse que não se recordava como foi feita a operação. “Só podia ser de duas formas, ou por transferência directa da Doyen ou por aval da Doyen ao banco carregosa, mas não sei”, disse.

Se teve intervenção directa, Nélio Lucas, já muito agastado disse: “Não tive. Não fui eu que o fiz, não o assinei, não me recordo”.

Além disso, a defesa de Rui Pinto quis saber até que ponto Nélio Lucas sabia de onde vinha o dinheiro do sócio maioritário da Doyen Sports Investments, Malik Ali.

 Perguntou se a testemunha sabia da relação de Malik Ali com Rafik Arif, e  se este último tinha financiado a Doyen. “Seguramente não. Há um parentesco entre eles, não sei bem se são tio e sobrinho”, afirmou o antigo CEO da Doyen.

Porém, a defesa de Rui Pinto exibiu um documento interno da Doyen de cálculos, investimentos, resultados e lucros, que demonstrou ser do conhecimento de Nélio Lucas. Teixeira da Mota questionou o que eram as iniciais RA no documento que mostrava um reinvestment a 80 por cento. “Não faço ideia”, foi a resposta de Nélio Lucas.

Mas quando verificadas as propriedades do documento era o nome do empresário que aparecia como autor do mesmo. Nélio Lucas disse que os documentos podem ser alterados.

Teixeira da Mota tinha mais para mostrar: outro documento relativo a empréstimos, onde voltam a aparecer as iniciais RA.

O empresário disse que não conhecia aquele documento e afirmou: “Sei que foi financiado pelo Malik Ali e sei que tenho que devolver; a quem ele devolve, só a ele diz respeito”.

No fim, o advogado de Rui Pinto perguntou directamente a Nélio Lucas se sabia que, relativamente à família Arif, no senado norte-americano, foram levantados problemas relativamente a suspeitas de tráfico humano? O empresário disse que não sabia.

A sessão de julgamento, esta terça-feira, ficou ainda marcada também pelo facto da advogada da Doyen ter tentado travar o interrogatório da defesa de Rui Pinto a Nélio Lucas.  

A sessão não tinha começado nem há dez minutos quando uma pergunta da defesa de Rui Pinto a Nélio Lucas, antigo CEO da Doyen Sports Investments, sobre a ligação da Vela Management, uma empresa sediada em Malta, àquele fundo de investimento fez com que a advogada Sofia Branco, que representa a sociedade, pedisse para fazer um requerimento. Queria evitar questões que esmiuçassem os documentos que alegadamente Rui Pinto divulgou.

“Já estou a ver onde isto vai levar”, disse Sofia Branco, enquanto Francisco Teixeira da Mota, advogado de Rui Pinto, retorquiu entre dentes: “Está a ver mais do que eu.”

De seguida, a advogada da Doyen requereu que não fossem permitidas “questões da vida pessoal e empresarial” dos queixosos, ou seja, da Doyen e de Nélio Lucas. Para a advogada, esse escrutínio só agrava “as consequências dos crimes em julgamento”.

Sofia Branco argumentou com a lei fundamental e o código penal, sublinhando que permitir essas questões constitui uma irregularidade. “A Constituição ainda é a lei que está acima do arguido Rui Pinto”, afirmou.

Francisco Teixeira da Mota argumentou com o facto de se tratar de “um processo complexo que não pode ser reduzido a um mero processo de tentativa de extorsão e acesso ilegítimo”.

“O que está aqui em causa é a defesa dos arguidos, que pode ser o mais ampla possível. Veja-se que isto começou com uma pergunta inocente sobre a Vela”, afirmou o advogado de Rui Pinto, sublinhando que aquela empresa “é uma sociedade que é importante compreender porque entra em negócios que foram denunciados pelo Football Leaks.

A juíza presidente interrompeu a sessão de julgamento para decidir sobre o pedido da Doyen. Depois de meia hora de interrupção, a juíza disse que não considerava que estivesse em causa qualquer irregularidade e que não vai impedir que a defesa possa analisar os documentos, que também servem para o acusar. 

 “Entende o tribunal que as perguntas que visam esclarecer a forma como o grupo se encontrava organizado se afigura relevante para descobrir a verdade material. Permitir que nos presentes autos os documentos apenas fossem utilizados pela acusação ou assistentes violaria de forma gritante o direito do arguido a um julgamento justo. Entendemos nenhuma nulidade ou irregularidade existir em perguntas que visem esclarecer a matéria referida nas mesmas”, disse.

Rui Pinto está a ser julgado, âmbito do processo Football Leaks, no qual o hacker está acusado de 90 crimes, nomeadamente tentativa de extorsão ao fundo desportivo Doyen, sabotagem informática, violação de correspondência, acesso ilegítimo e acesso indevido.

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