“Marcelo não foi Presidente, foi ministro da propaganda do Governo”, acusa Tiago Mayan Gonçalves

Candidato liberal a Belém critica a “total incompetência” do Governo na gestão da pandemia e não entende como Graça Freitas ainda se mantém na Direcção-Geral da Saúde.

Foto
Tiago Mayan Gonçalves LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O candidato presidencial apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, acusa Marcelo Rebelo de Sousa de não ter sido Presidente da República, mas “ministro da propaganda” do Governo socialista, considerando que este colaboracionismo foi “meramente narcisístico” para conseguir a reeleição.

Em entrevista à agência Lusa, cerca de quatro meses depois de ter anunciado a sua candidatura ao Palácio de Belém apoiada pela Iniciativa Liberal - partido do qual foi fundador e é actualmente presidente do Conselho de Jurisdição - Tiago Mayan Gonçalves não poupa nas críticas ao actual Chefe do Estado. “Marcelo não foi Presidente. Marcelo foi ministro da propaganda deste Governo e essa é, desde logo, a maior crítica que lhe posso fazer porque isso tem sido continuamente demonstrado”, refere.

Marcando uma clara diferença em relação ao actual chefe de Estado, o candidato liberal afirma que, “independentemente de direitas e esquerdas”, espera que “eleitores que não se revejam neste Presidente, que abdicou de exercer o seu mandato”, e vejam na sua candidatura “uma proposta válida e moderada”.

“Eu também sou um candidato contra todo o tipo de extremismos, de qualquer espectro e de qualquer ponta nesse espectro de esquerda/direita”, assegura, respondendo que um bom resultado “é conseguir transmitir o que é que um Presidente liberal representa para os portugueses”. O liberal elenca uma longa lista de situações para sustentar as suas críticas a Marcelo, começando pela vacina da gripe e passando pela “narrativa do milagre português, a proclamação de jogos de futebol em pleno Palácio de Belém enquanto fechavam canais de voo para o país, o incêndio de Pedrógão, a tragédia das mortes no lar de Reguengos e Tancos”.

“Tantos, tantos exemplos em que Marcelo, quando age, age para fazer cobertura ou para fazer distracções e permitir que o Governo actue sem controlo e sem que haja regular funcionamento das instituições”, condena. Para o advogado portuense de 43 anos, esta forma de actuar do actual Chefe de Estado é norteada “por um objectivo meramente narcisístico e pessoal de querer a reeleição” nas presidenciais do próximo ano.

“Marcelo o que fez, a partir do primeiro dia em que tomou posse, foi deixar de ser residente e passar a ser candidato presidencial e a estratégia para isso foi colaborar com o Governo, que era o que estava na altura. Se fosse outro provavelmente faria a mesma coisa”, disse, vincando: “Contava com isso garantir uma reeleição.” “E não só uma reeleição porque eu penso que também estava dentro do sonho dele garantir uma reeleição apoteótica. Aqui a pandemia acabou por lhe causar dificuldades para esse objectivo, mas o de reeleição ainda o tem e, portanto, isso foi uma estratégia”, justifica.

O anunciado candidato liberal vê outros dos seus concorrentes nestas eleições “a elogiarem o desempenho presidencial de Marcelo, mas a criticarem-lhe o estilo”. “Eu faço precisamente o contrário. O que eu critico é o desempenho de Marcelo nas suas funções presidenciais. Mas o estilo, de aproximação, de descrispação com as pessoas, acabou por ser importante e é isso que lhe traz tanta popularidade”, considera.

À pergunta de quem é o seu grande adversário nas eleições presidenciais a que concorre, Tiago Mayan Gonçalves não hesita: “É Marcelo, claro. É o incumbente e eu creio que ele será candidato - apesar de ainda manter o tabu - e é contra quem eu concorro.”

Sobre o nome apoiado pelo Chega, André Ventura, o liberal observa que “aparentemente não é um candidato presidencial porque raramente fala desse aspecto”, mas deixa claro que representa “valores diametralmente opostos em praticamente tudo”.

Tiago Mayan Gonçalves, de 43 anos, foi militante do PSD e é eleito suplente pelo Movimento de Rui Moreira à Assembleia da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.

Críticas à “total incompetência do Governo na gestão da pandemia"

Marcelo também tem sustentado o executivo nesta pandemia, aponta Tiago Mayan Gonçalves, que critica a "total incompetência do Governo na gestão" da covid-19 e diz não compreender como Graça Freitas ainda é a directora-geral da Saúde. “Quando vimos António Costa a sustentar a declaração do estado de emergência com um queijinho em que 95% das infecções estão identificadas - quando, noutros países, grande parte das infecções têm origem desconhecida, mas nós miraculosamente conseguimos identificar 95% das infecções - e 68% estão a vir das famílias. Há aqui alguma informação que não está bem”, exemplifica.

Um “país e dois sistemas” é outra das críticas do candidato apoiado pela Iniciativa Liberal em relação à actuação do executivo socialista sobre a covid-19, referindo que “se criam regras, mas depois criam-se excepções ao lado, incompreensíveis para o cidadão comum e que minam a confiança nas medidas que se estão a tentar implementar”.

“A primeira coisa que eu faria, enquanto Presidente, se fosse eleito, era reunir de urgência com o Governo, Conselho de Estado e outros agentes para determinarmos e planearmos da forma mais rápida possível o retorno à normalidade constitucional”, anuncia o candidato que concedeu a entrevista à agência Lusa num restaurante para mostrar que esse regresso é necessário e possível.

Na perspectiva do advogado, a situação actual, “de contínuas imposições arbitrárias, “achismos”, de limitações aos direitos, liberdades e garantias, destrói vidas”.

“Fechar [o comércio] aos fins-de-semana depois das 13h destrói negócios e destrói vidas. A cegueira ideológica de não termos recorrido aos privados a tempo e horas matou pessoas, está a matar pessoas e vai continuar a matar pessoas”, condena. Marcelo Rebelo de Sousa, para Tiago Mayan Gonçalves, “tem sido um porta-voz das narrativas do Governo e nesse aspecto é só o Governo a fazer o que acha, a exercer actos e omissões por cegueira ideológica, incompetência e incapacidade”.

Ainda a propósito da pandemia e questionado sobre o bloqueio na chegada da chamada “bazuca europeia”, o candidato liberal aproveitou para voltar a apontar aos socialistas. “Fala-se muito aí de acordos com a extrema-direita e aí foi um acordo que Costa fez com a extrema-direita de Viktor Orbán que falhou. Ele tentou fazer, mas falhou. Temos agora esse problema: a bazuca europeia está, pelo menos, atrasada alguns meses”, afirma.

O problema, na perspectiva de Tiago Mayan Gonçalves, é por que é que os portugueses têm de “ser pedintes” e “andar a pedir esmola”. “Por que é que não estamos num país que aproveitou estes anos todos de União Europeia para criar um país próspero, que aguentasse este embate sem ter que andar de mão estendida para a Europa mais uma vez?”, lamenta.

O liberal concorda que a União Europeia “tenha posto como cláusula condicional a questão do respeito do Estado de direito”, uma vez que isso é essencial. “O que é inaceitável é que o nosso primeiro-ministro ache que o respeito pelo Estado de direito é algo dispensável só porque precisa de receber a bazuca europeia. Isso para mim é que é chocante”, condena.