Deputados da AfD podem ser responsabilizados por ameaças no Parlamento alemão
Responsáveis do partido convidaram extremistas para estar presentes no Bundestag e estes filmaram, ameaçaram e insultaram deputados. “Uma quebra de tabu”, dizem os Verdes, que terá “consequências significativas”, dizem os Liberais Democratas. O Ministério Público vai investigar.
O convite que responsáveis do partido nacionalista e xenófobo Alternativa para a Alemanha (AfD) fizeram a pessoas antivacinas e partidárias de teorias da conspiração para estarem presentes no Bundestag no dia em que foram aprovadas novas regras para a contenção da pandemia da covid-19 pode ter consequências duras, disse o vice-presidente do Parlamento Wolfgang Kubicki, do Partido Liberal Democrata (FDP).
Permitir a entrada de pessoas que ameaçaram e filmaram políticos dentro do Parlamento, os insultaram e ameaçaram “até fisicamente”, sublinhou Kubicki, “é contra todos os acordos e regras do Parlamento”. “Vamos examinar também o que tiver relevância criminal”, disse.
Kubicki referia-se a potenciais acusações de coerção de membros de organismos constitucionais pelo que aconteceu na quarta-feira. O Parlamento decidiu passar a questão ao Ministério Público.
O Presidente do Parlamento, Wolfgang Schäuble, também pediu que fossem “examinadas todas as possibilidades legais de acção contra os visitantes e quem lhes deu acesso ao Bundestag”. Numa carta aos deputados, Schäuble sublinhou que as acções “levaram a preocupações e medos entre deputados e funcionários e podem criar uma atmosfera que pode dificultar uma discussão livre e aberta”, concluindo: “Não podemos permitir que isso aconteça no Parlamento alemão”.
Um dos vídeos, que mostrava o ministro da Economia, Peter Altmeier , da União Democrata-Cristã (CDU), foi publicado na Internet, quando na Alemanha não se pode ser filmado sem autorização.
O deputado da CDU Michael Grosse Bömer acusou a AfD de fazer entrar ilegalmente visitantes no edifício “para arrastar a reputação [do Parlamento] pela lama”. O que aconteceu “não é nada menos do que um ataque à democracia parlamentar”, declarou, citado pelo Süddeutsche Zeitung.
Dos Verdes, a deputada Britta Hasselmann disse que “foi quebrado um tabu”. No entanto, sublinhou que o Parlamento levou a cabo a votação, apesar dos distúrbios.
O líder do grupo parlamentar da AfD, Alexander Gauland, disse condenar o comportamento “não civilizado” dos convidados, pedindo desculpas por eles.
Hasselmann sublinhou que a AfD “sabia exactamente quem estava a convidar”, indicando que “já não foi a primeira vez que foram convidados”.
No mesmo dia, a polícia desmobilizou, com recurso a canhões de água (uma raridade), um protesto que juntava milhares de pessoas, de partidários de movimentos antivacinas, teorias da conspiração e de extrema-direita, depois de vários avisos aos manifestantes por não estarem a respeitar as regras: distância física e o uso de máscara. Foram detidas mais de 300 pessoas.
Num comentário na emissora pública ARD, a jornalista Franka Welz desabafava: “a AfD conseguiu de novo: toda a gente está a falar dela”. O partido tem descido nas sondagens, estando actualmente com entre 9 e 10% de intenções de voto a nível nacional, uma descida que se notou sobretudo nos estados do Leste, onde comparando com o ano passado desceu de 24% para 18% passando a terceira força política (no total dos estados do Leste tinha chegado a ser, por vezes, a primeira).