Violência sexual contra crianças continua tabu mas perigos na net são cada vez maiores

“Estudos realizados no âmbito do Conselho da Europa dizem que uma em cada cinco crianças já foi vítima de abusos sexuais”, diz a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens.

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Esta quarta-feira assinala-se o Dia Europeu da Protecção das Crianças contra a Exploração Sexual Adriano Miranda

Uma em cada cinco crianças já tenha sido vítima de violência sexual, um tema tabu que quase sempre acontece no seio das famílias, mas que é cada vez mais visível nas redes sociais.

Quarta-feira assinala-se o Dia Europeu da Protecção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual e a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) realiza um webinar sobre “Prevenir comportamentos de risco das crianças: imagens e/ou vídeos de cariz sexual de crianças produzidos pelos próprios”.

De acordo com a presidente da CNPDPCJ, o tema foi pensado pelo Conselho da Europa e pretende trazer para a discussão o desafio das novas tecnologias e dos novos perigos a que as crianças e os jovens se estão a expor, muitas das vezes sem saberem, ao partilharem fotografias ou vídeos seus, de cariz sexual, e disseminando-os através da Internet.

“Os abusos sexuais continuam a ser uma realidade completamente invisível, continua a ser um assunto tabu, mas dados internacionais ou pelo menos de estudos realizados no âmbito do Conselho da Europa dizem que uma em cada cinco crianças já foi vítima de abusos sexuais”, aponta Rosário Farmhouse.

Segundo a responsável, 80% destes casos de violência sexual acontecem no “círculo de confiança da criança, na família ou adultos de referência, com quem a criança convive e em quem confia e que acabam depois por desenvolver comportamentos abusivos”.

De acordo com Rosário Farmhouse, “há um tabu muito grande” em relação aos crimes sexuais contra as crianças, as quais são também manipuladas a não contar aquilo por que estão a passar.

“Como aquilo está a ser perpetrado por alguém da sua confiança, tantas vezes acabam por não dizer ou quando dizem nem sempre os outros adultos querem ouvir ou acreditar que seja verdade”, alerta. Uma situação que leva a responsável a defender que é preciso uma atenção especial no momento de capacitar as crianças de que têm direito ao seu corpo, à sua privacidade e à sua intimidade e têm o direito de dizer não.

Pediu também que os adultos estejam atentos para perceber que “se uma criança tentar contar segredo como este, têm de apoiar e têm de fazer caminho”, lembrando que existem linhas telefónicas para denunciar, como por exemplo, uma da Polícia Judiciária que funciona 24 horas.

Relativamente às redes sociais, Rosário Farmhouse explica que a opção do Conselho da Europa por este tema teve a ver com o facto de as crianças passarem muitas horas em frente aos ecrãs e a protecção das crianças ser hoje muito diferente do que era há alguns anos.

“Antes os pais não deixavam as crianças irem para a rua com medo de que encontrassem um estranho e hoje podem estar em perigo no próprio quarto a falar com pessoas que não conhecem e tantas vezes deixam-se fotografar e ser filmadas. Ou às vezes até conhecem e são amigos e pensam que estão a mandar só para uma pessoa e torna-se viral”, alerta.

Segundo a responsável, “os perigos dos abusos sexuais através da Internet são cada vez maiores” e, apesar de esta ser uma preocupação por parte do Conselho da Europa, a verdade é que também em Portugal há casos. “Soube de uma situação real de uma criança com nove anos que a mãe foi encontrar já a despir-se para a câmara, para alguém que não conhecia e com quem tinha feito amizade virtual”, conta.

Por isso, afirma, estes casos de violência sexual contra crianças e jovens também acontecem em Portugal, “em casa das famílias em Portugal, nos quartos das famílias em Portugal”.

“Temos de ter todos cuidado e estar atentos e acima de tudo comunicação com as crianças, conversar com elas, as escolas já têm muito estas temáticas, mas as famílias falarem sobre estes perigos e criar uma relação de confiança com a criança para que ela também se sinta segura a falar de algumas coisas que possam ter acontecido e de que ela não gostou”, defende Rosário Farmhouse.

Acrescenta que como estes casos se passam muitas vezes nestes círculos de confiança, a própria criança tem dificuldade em reconhecer que está exposta ao perigo.