Pressão nos hospitais pode aumentar em Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo na próxima semana
Estimativas divulgadas pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares dão conta que no próximo dia 20 o total de internamentos pode chegar aos 4500 doentes.
A necessidade de camas e de recursos humanos, nomeadamente médicos e enfermeiros, para tratar doentes covid vai continuar a aumentar. As estimativas da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), para a próxima sexta-feira (dia 20), apontam para uma necessidade total de camas no país que pode chegar às 4503. Só de cuidados intensivos poderão ser precisas entre 414 e 605 camas. A maior pressão manter-se-á a Norte, mas as necessidades vão acelerar em Lisboa e Vale do Tejo e no Alentejo.
As estimativas são feitas através uma ferramenta desenvolvida pela APAH e adoptada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para as previsões, que estabelecem dois cenários – um mais optimista que se baseia na redução de 2% do Rt (índice de transmissão) e uma mais pessimista com um aumento de 2% do Rt -, foram tidos em conta os dados do boletim de quinta-feira da Direcção-Geral da Saúde (DGS). A percentagem de doentes internados sobre o total de casos activos é estimada para o momento actual da curva epidemiológica, que é de 7%, segundo a informação da APAH.
Segundo os dados partilhados com o PÚBLICO, na próxima sexta-feira, no pior cenário, podem vir a ser necessárias 4503 camas no país para doentes covid, um acréscimo de quase 61% em relação ao total de internados relatados esta sexta-feira pela DGS - 2799 doentes covid, dos quais 388 em unidades de cuidados intensivos. Das camas estimadas pela APAH, 845 são para casos em enfermaria, 3053 para casos a precisar de oxigenioterapia e 605 para casos a precisar de ventilação mecânica.
“O nosso modelo apresenta sempre dois cenários, com um mais pessimista que esperamos que não se venha a ser necessário. Mas a ideia é que é as unidades possam estar preparadas para o pior em camas e recursos humanos que venham a ser necessários e possam prever o reforço que seja preciso fazer. Ou de transferências entre regiões que venham a ser necessárias, caso alguma esteja com a sua capacidade mais limitada”, diz o presidente da APAH. A divisão de camas em grau de gravidade “é importante para a gestão”. Alexandre Lourenço salienta que “é de esperar que alguns doentes em oxigenioterapia possam, passado alguns dias, precisar de cuidados intensivos” e que “uma parte dos casos em enfermarias seja elegível para estruturas de retaguarda que possam libertar os hospitais para doentes mais graves”.
Em termos gerais, a maior pressão mantém-se a Norte, mas prevê-se “um aumento significativo de internamentos em Lisboa e Vale do Tejo”, refere Alexandre Lourenço, comparando esta com a anterior estimativa da ferramenta da APAH. A que é possível fazer, já que não são conhecidos dados recentes oficiais sobre internamentos por região. No pior dos cenários, Lisboa e Vale do Tejo pode vir a precisar de 1680 camas (mais 33% em relação à previsão anterior), das quais 199 em cuidados intensivos (mais 17% em relação à previsão anterior).
Um aumento “preocupante”, assume o presidente da APAH, lembrando que “o número de internamentos é indicativo da prevalência da infecção”. E as informações que vão circulando são que “em Lisboa e Vale do Tejo pode haver um atraso na realização dos inquéritos epidemiológicos, o que poderá levar a um sub-reporte e por isso parece haver mais internamentos em relação aos casos conhecidos”. Também no Alentejo se estima, no pior cenário, um aumento de 61% de necessidade de camas em relação à previsão anterior, podendo ser precisas 158 camas (das quais 21 em UCI).
Efeitos prolongados no tempo
As primeiras estimativas da APAH, apresentadas na semana passada, apontavam as necessidades para dia 13. Os números da DGS divulgados ontem mostravam-se mais próximos do cenário optimista da APHA, mas nem por isso mais tranquilizador. A taxa de incidência de novos casos nos últimos 14 dias dias foi de 655,2 por 100 mil habitantes, com o Norte com 1126 novos casos por 100 mil habitantes, revelou a ministra da Saúde na conferência de imprensa desta sexta-feira.
Marta Temido destacou o “esforço de reforço no SNS, feito através de equipamentos, estruturas e recursos humanos” em ventiladores que “passaram de 1142 para 1939”, em camas de cuidados intensivos “que passaram de 433 para para 705, com capacidade de expansão que pode ultrapassar as 900” e com a contratação de “mais 6800 profissionais de saúde”. O Rt, disse, “parece estar a abrandar ligeiramente – está agora em 1,11”. “Vão demorar semanas depois do pico a sentir-se uma diminuição da procura por cuidados hospitalares e ainda mais semanas a sentir-se uma diminuição da mortalidade”, assumiu a ministra.
“Tudo o que está a acontecer era previsível e o que devíamos ter era um menu de medidas que, perante a evidência, deviam ser implementadas em lógica de rede. Temos hoje instituições com muita pressão e outras com menos”, salienta Alexandre Lourenço, questionando: “Onde vão ser colocados os ventiladores que são mais que as camas de cuidados intensivos referidas? É importante saber que tipo de ventiladores se fala.” Em balanços anteriores o ministério deu dados que juntavam ventiladores mecânicos e não mecânicos.
Mais médicos e mais enfermeiros
“Um dos dados mais preocupantes nas estimativas é a quantidade muito elevada de recursos humanos que poderão estar dedicados à covid”, salienta Alexandre Lourenço. As previsões apontam para a necessidade, no pior cenário, de 1151 médicos – dos quais 303 em cuidados intensivos – e de 8202 enfermeiros – dos quais 1285 em cuidados intensivos. Números que testam cada vez mais as capacidades existentes em medicina intensiva, que são limitadas. “Começa a ser preocupante. Devia ter sido feito um treino crescente de enfermeiros e médicos nesta área”, considera.
O responsável lembra que há profissionais infectados e em quarentena, cujos números não se conhecem mas que fazem aumentar ainda mais a pressão. Na conferência, a ministra disse que até ao momento foram infectados 8755 profissionais de saúde, independentemente do local de trabalho, e destes 5143 estão recuperados (991 médicos, 2253 enfermeiros e 2037 assistentes operacionais). O que significa que 3612 são casos activos.
“Se 80% dos casos activos forem profissionais do SNS, é quase metade dos profissionais contratados. Tem de haver um esforço de reorganização para se manterem os serviços a prestar cuidados, sobretudo a doentes crónicos. E encontrar soluções para os médicos de medicina geral e familiar que têm de ser libertados para seguir os doentes”, destaca Alexandre Lourenço.