Uma bola e um relvado chegam para jogar futebol. Mas o projecto da nova sede da Liga quis mais
Dois arquitectos do gabinete OODA descrevem o projecto da nova sede da Liga Portuguesa de Futebol Profissional como uma “área em transformação”, no Porto, para onde querem também “prolongar o verde” do futuro Parque da Ribeira da Granja.
Ao imaginar como seria uma casa para o futebol, João Jesus e Francisco Lencastre deixaram-se guiar por uma citação que parafraseiam assim: “Para jogar futebol, só precisamos de um relvado e de uma bola”. “E isto simplificou tanto que nós gostaríamos de chegar a essa simplicidade”, diz um dos arquitectos do OODA, o gabinete responsável pelo projecto vencedor da nova sede da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), que se mantém no Porto.
Não levaram o mantra do futebol a tostões “assim tão à letra”, apressam-se a clarificar. Até porque aos dez ateliês de arquitectura convidados a participar no concurso para o edifício, que deverá ser apresentado em Janeiro de 2023, foi pedido muito mais. “Obviamente que não fomos tão literais, não criámos um edifício em forma de esfera. Mas queríamos criar algo forte, que desse identidade à Liga”, apresenta João Jesus.
O que lhes foi pedido para o projecto no parque da Granja, em Ramalde, foi “um salto bastante grande em relação ao actual”, na rua da Constituição, também no Porto. Além dos escritórios da Liga, o prédio com um piso térreo e mais sete andares, cuja fachada poderá remeter para um estádio de futebol, vai albergar um “laboratório de futebol”, um centro de investigação com “um pavilhão e vários equipamentos mais pequenos onde se apura a pontaria, a perícia, a velocidade ou se faz jogos de um contra um”; uma zona de lazer para crianças; um auditório com capacidade para 400 pessoas; uma incubadora de empresas; um museu dedicado ao futebol profissional; uma praça do futebol com capacidade para receber mais de mil pessoas em dias de jogo; um restaurante; lojas e um parque público. O objectivo é que a Arena Liga Portugal possa receber sorteios, galas de fim de época ou cimeiras, além de acolher os estudantes de uma nova licenciatura em Organização e Gestão no Futebol Profissional.
Espaço privado/espaço público
“A complementaridade entre espaço público ou espaço que está aberto ao público e espaço reservado faz com que estejamos a implementar uma das formas que gostamos de ver a cidade num edifício nosso”, partilha João Jesus. “Este será o nosso primeiro exercício enquanto arquitectos de intervenção na cidade global. Com um edifício privado vamos contribuir para o espaço público da cidade”, completa Francisco Lencastre.
A Câmara do Porto cedeu mais de 7 mil metros quadrados de um terreno desocupado na rua de John Whitehead, em troca do imóvel da actual sede da Liga, e vai apoiar o projecto privado com 600 mil euros. O investimento no novo “edifício icónico” do Porto, que “em nada ficará atrás da Casa da Música”, como o descreveu Pedro Proença, presidente da LPFP, é de 18 milhões de euros.
Os dois arquitectos do OODA — Oporto Office for Design and Architecture, gabinete que também está envolvido no projecto de reconversão do Matadouro e do novo prédio do Jornal de Notícias, rejeitam a comparação com o projecto do holandês Rem Koolhaas. “A comparação que é feita com a Casa da Música tanto podia ser feita com o Mercado de Bolhão ou com a Torre dos Clérigos, no sentido em que é um edifício que vai dar a possibilidade daquela zona se desenvolver e não uma comparação arquitectónica”, clarifica Francisco Lencastre.
Valorizar a ribeira da Granja
“A leitura que fizemos da área envolvente é marcante. Estamos a actuar junto a um parque onde passa a ribeira da Granja, que já tinha sido intervencionado pela câmara”, descreve João Jesus. O maior curso de água que atravessa a cidade do Porto, maioritariamente entubado, corre a céu aberto num troço próximo da área residencial onde irá começar ser construída a nova sede, a partir de Junho de 2021.
Já houve vários alertas para a degradação da qualidade da água de ribeira, que liberta cheiros fortes. É também por isso que importa “cada vez mais optimizar o valor” da área, refere o arquitecto, para “dinamizar e prolongar o verde do parque da Granja que tem umas árvores magníficas”.
“Quase temos dois projectos”, comentam, “um horizontal, verde, e outro vertical, branco”. Para a “cobertura ondulante quase completamente coberta com um manto verde”, que rodeia a nova praça pública e estabelece uma ligação com o parque, os arquitectos vão colaborar com a P4, uma equipa de arquitectura paisagista. “Junto ao curso de água temos um pequeno percurso que está minimamente trabalhado e depois todo o espaço à volta é baldio. Vai-se criar ali um parque verde”, garantem. Ou, para quem trouxer a bola, um relvado.