Por falta de financiamento, pode haver inovações contra a covid-19 que não chegam a quem precisa

Dois mil milhões de doses de vacinas para a covid-19, 245 milhões de tratamentos e 500 milhões de testes de despistagem. São estes os mínimos considerados necessários para abreviar a pandemia e acelerar a recuperação económica global.

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O desenvolvimento de testes rápidos é um exemplo dos benefícios do apoio da cooperação internacional Reuters/ANDREAS GEBERT

O desenvolvimento em poucos meses de testes rápidos e baratos de despistagem da infecção pelo novo coronavírus foi produto da iniciativa Acelerador ACT, lançada pelo G20 em Abril, com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e várias organizações de ciência e promoção da saúde. O objectivo é acelerar o desenvolvimento de testes de diagnóstico, tratamentos e vacinas para a covid-19, e garantir que todos os países têm acesso – mesmo sendo economias frágeis. Só que mesmo os melhores planos sofrem de um mal comum, o subfinanciamento, ouviu-se no Fórum Mundial da Paz, uma organização que este ano decorreu apenas através na Internet, mas a partir de Paris.

“No limite, podemos conseguir desenvolver projectos, fazer ciência, mas não ter dinheiro suficiente para os fazer chegar até às pessoas que precisam deles”, disse Jeremy Farrar, director do Wellcome Trust, uma fundação britânica focada na investigação biomédica, numa sessão dedicada à divulgação do Acelerador ACT.

O objectivo é assegurar dois mil milhões de doses de vacinas para a covid-19, 245 milhões de tratamentos e 500 milhões de testes de despistagem – o mínimo considerado necessário para abreviar a pandemia e acelerar a recuperação económica global. Para isso, estima-se que seja necessário um montante de 35 mil milhões de dólares – mas só foram garantidos 2700 milhões de agora, e com especial ênfase no montante destinado às vacinas.

“Peço aos chefes de Estado e de Governo que dêem a mesma atenção ao financiamento dos tratamentos e testes que está a ser dada às vacinas”, pediu Marisol Touraine, que foi ministra dos Assuntos Sociais e da Saúde em França e dirige agora a Unitaid, uma organização internacional parceira da OMS que investe em inovações para prevenir, diagnosticar e tratar o HIV/sida, tuberculose e malária de forma mais eficaz.

Touraine lembrou ainda que só neste ano, morrerão tantas pessoas de tuberculose como de covid-19. “Só que em silêncio.” Por isso, apelou a que não se desinvista na luta contra as restantes doenças infecciosas que continuam a matar milhares e milhares de pessoas em todo o mundo.

O dinheiro que for investido na criação de inovações e infra-estruturas de luta contra as doenças infecciosas, no reforço dos sistemas de saúde, não se perde, nunca servirá apenas para a covid-19. “Servirá sempre para outras doenças”, frisou Jeremy Farrar.

Garantir que as vacinas para a covid-19 são seguras, para não desbaratar a confiança das pessoas, é fundamental, até porque estão a ser desenvolvidas em velocidade recorde. Mas quando tivermos vacinas prontas a serem usadas, será também preciso convencer as pessoas a tomá-las – e não podemos esquecer-nos dos movimentos de resistência às vacinas, ou mesmo antivacinação, que assumem diferentes roupagens consoante as geografias. “Não podemos comprometer a segurança, de maneira nenhuma, porque no fim das contas, tudo se resume à confiança”, sublinhou Farrar.

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