Angola: organizadores vão para a frente com manifestação proibida para o dia da independência

Partidos demarcam-se do protesto marcado para quarta-feira e que as autoridades proibiram por causa da covid-19, embora haja comemorações agendadas para o dia.

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Palavras de ordem na manifestação do dia 24 de Outubro, que acabou com mais de uma centena de detidos Ampe Rogério/Lusa

Os 45 anos da independência de Angola, que esta quarta-feira se assinalam, parecem destinados a transformar-se em mais um dia de confronto entre activistas, que pretendem protestar contra a falta de emprego e o elevado custo de vida, e a polícia que tentará impedir a manifestação proibida, entre outras coisas, por causa das medidas excepcionais em vigor por causa da pandemia de covid-19.

Com os organizadores apostados em levar para a frente o protesto e a polícia preparada para impedir a concentração de pessoas e o direito à manifestação – o Novo Jornal refere que já esta terça-feira se viam em Luanda viaturas com agentes da polícia no Largo 1.º de Maio e junto ao cemitério de Santa Ana – teme-se que se repitam os confrontos do dia 24 de Outubro, que redundaram em mais de uma centena de detenções, incluindo jornalistas.

A manifestação foi convocada para o parque de estacionamento do cemitério de Santa Ana e pretende fazer o percurso até ao Largo 1.º de Maio.

O Presidente João Lourenço, que manifestou a sua “indignação” pelos “desacatos” cometidos pelos manifestantes no protesto do dia 24 – os organizadores acusam membros infiltrados da JMPLA, a organização de jovens do partido no poder, de terem instigado a violência – já fez saber que o direito à manifestação está “temporariamente condicionado” devido à pandemia.

O Movimento Revolucionário e o Movimento pela Cidadania insistem em manter a convocatória do protesto. “Reiteramos que vamos sair à rua”, disse à Lusa Dito Dalí, um dos organizadores, para quem “a polícia está a ser instrumentalizada”.

Ao Novo Jornal, Dito Dalí garante que todos os que vão participar na manifestação estão “mobilizados” e “atentos” para evitar que “haja distúrbios à semelhança do que aconteceu no dia 24 de Outubro, quando elementos infiltrados estragaram” a manifestação que deveria ter sido pacífica.

A manifestação foi convocada “pela cidadania, pelo fim do elevado custo de vida, desemprego e pela realização das eleições autárquicas”.

Ao contrário da manifestação do dia 24, a que a UNITA deu o seu apoio e alguns dos seus membros participaram, desta vez nem o principal partido da oposição, nem as restantes formações políticas com assento parlamentar vão integrar a manifestação ou dar-lhe o seu apoio.

Aos 45 anos de existência, Angola enfrenta uma grave crise económica, que vem desde 2014 e se agudizou com a pandemia da covid-19. Num país onde sete em cada dez pessoas vivem na pobreza, os produtos da cesta básica aumentaram 300% a 400% desde que João Lourenço assumiu o poder em 2017, de acordo com o cálculo feito pelo economista angolano Manuel Alves da Rocha em Junho.

Direito ao protesto

Entretanto, a Amnistia Internacional pediu às autoridades angolanas para respeitar o direito ao protesto, garantindo que vai acompanhar a situação e denunciar a violência policial se voltar a acontecer como noutras manifestações.

“Os últimos protestos pacíficos em Angola foram recebidos com brutalidade policial, com manifestantes agredidos e detidos por nenhuma outra razão que não seja criticar as autoridades”, afirmou a directora-adjunta para a África Austral da organização, Muleya Mwananyanda, num comunicado enviado à imprensa.

 "As autoridades angolanas devem garantir os direitos dos manifestantes de exercerem a sua liberdade de expressão e de reunião pacífica, que está protegida pela Constituição angolana” e, como tal, permitir “que este protesto avance e garantir que as exigências legítimas das pessoas para a responsabilização e a reforma não sejam encaradas com violência ou represálias”.

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