Vitória de Biden coloca pressão sobre Boris Johnson para negociar com a UE

Vitória de Biden nos EUA pode deitar a perder a relação especial que Londres estava a preparar com Washington. Há quem considere agora que um Brexit sem acordo comercial no final pode ser uma catástrofe para o Reino Unido.

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Boris Johnson perdeu com a derrota de Donald Trump o seu aliado para uma relação especial Reuters/POOL

A eleição de Joe Biden nos Estados Unidos deixa o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, mais pressionado para chegar a um entendimento com a União Europeia e evitar um “Brexit” sem acordo comercial no final entre o Reino Unido e a UE.

Os negociadores retomam os trabalhos esta segunda-feira, no entanto, o líder britânico advertiu este fim-de-semana que as duas partes continuam a defender posições demasiado antagónicas, insistindo em manter a lei dos mercados internos que a UE considera ser contrária ao acordo assinado entre Bruxelas e Londres.

“O objectivo dessa lei e da lei das finanças é proteger e manter o acordo de Sexta-feira Santa e o processo de paz na Irlanda do Norte. E, mais uma vez, essa é uma das coisas que nos une com os nossos amigos na Casa Branca”, afirmou Boris Johnson, citado pelo Guardian.

Só que o próximo inquilino da Casa Branca não parece partilhar desse ponto de vista. Como adiantaram fontes da UE ligadas à negociação, a eleição de Biden “traz grandes consequências para o ‘Brexit’”, refere o mesmo jornal, nomeadamente a necessidade de repensar a posição do Governo britânico em relação à Irlanda do Norte.

Chris Coons, amigo de Biden, que poderá ser o próximo secretário de Estado da Administração Biden, afirmou à BBC que o Presidente-eleito quer uma nova abordagem à relação transatlântica, com a UE e com o Reino Unido. E a questão da Irlanda do Norte é importante, tendo em conta as origens irlandesas da família Biden.

O Guardian fala mesmo que Biden poderá escolher Bruxelas para a sua primeira viagem à Europa, gesto que pretende demonstrar aos aliados europeus que Washington pretende começar rapidamente as relações deterioradas por quase quatro anos de hostilidade da Administração Trump em relação ao multilateralismo em geral e à UE em particular. 

Anthony Gardner, antigo embaixador dos EUA na UE, afirmou recentemente na Alemanha que embora Biden considere importante a relação entre Washington e Londres, não pretende considerá-la como a única importante na Europa, acreditando mais “num triângulo de relações: EUA-Reino Unido, Reino Unido-UE e EUA e UE”.

Para Boris Johnson, o novo paradigma da política externa que está a ser preparado para Washington poderá acabar por deixar o Reino Unido numa posição de actor secundário em termos internacionais e, em consequência disso, isolá-lo do concerto das nações. Que é o que poderá acontecer se o Governo britânico sair da UE sem acordo e sem uma relação privilegiada com os EUA.

Simon Fraser, o secretário permanente do Ministério dos Negócios Estrangeiros até 2015, considera, citado pelo Guardian, que a eleição de Biden é “problemática” para o executivo britânico. “Este é um governo que nasceu a partir da perturbação do ‘Brexit” em 2016, tal como o trumpismo era um reflexo disso. Trump apoiou o Brexit. A meu ver a relação entre Londres e a equipa de Biden não é tão forte.” O que permite a Fraser concluir que um Brexit sem acordo será uma “catástrofe” para a agenda do primeiro-ministro.

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