Quanto mais fugimos da ansiedade, mais ela nos persegue

Se queremos ganhar a batalha contra a ansiedade, é importante não nos esquecermos que só vamos conseguir fazê-lo quando, de uma vez por todas, pararmos de fugir dela e de nós próprios. Sob pena de, se continuarmos a fugir da ansiedade, ficarmos, para sempre, presos a ela.

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M. T. ElGassier/Unsplash

Passamos grande parte dos nossos dias em velocidade relâmpago a tentar atingir objectivos, a projectar o futuro e a tentar encaixar em tudo aquilo que delineámos para nós. Esquecemo-nos de parar, que somos feitos de passado, de histórias, de pessoas, amores e desamores. Muitas vezes, no meio do passado e do futuro, as nossas histórias e as nossas pessoas condicionam-nos mais do que aquilo que desejaríamos, quase como quem nos desliga o motor a meio de um sprint. E, a certa altura, pela forma como nos sentimos mal-amados, pela forma como nos sentimos desencontrados dos outros e de nós próprios, pela forma como o futuro se revela tão imprevisível, acabamos por submergir à ansiedade.

Quando a ansiedade nos bate à porta, a primeira coisa que tradicionalmente fazemos é fugir dela. E fugimos da ansiedade porque, regra geral, estamos habituados a fugir de tudo aquilo que nos magoa ou que representa um lado menos bonito de nós próprios. Isto é, gostamos de olhar para os nossos lados bons e, ao mesmo tempo que o fazemos, tendemos - com toda a nossa energia - a procurar bloquear todos os nossos lados menos bonitos e tudo aquilo que nos foi magoando aos poucos.

Não raras vezes, é por termos feito esta fuga - demasiadas vezes - com coisas muito pequeninas da nossa história que, a certa altura, a ansiedade começa a ganhar um lugar de destaque na nossa vida. Nestas circunstâncias, como seres de rotinas que somos, fazemos aquilo que sempre fizemos até aqui com tudo o que nos incomoda: fugimos dela. E é precisamente quando fugimos da ansiedade que ela toma proporções gigantescas e nos consegue dominar.

Assim, na batalha contra a ansiedade, entre várias outras coisas fundamentais - e, porventura, um apoio profissional especializado - , é essencial não nos esquecermos que:

  • Devemos aceitar as nossas fragilidades, sob prejuízo de, à custa de não as aceitarmos, estas começarem a exercer uma força de bloqueio a todas as nossas partes mais bonitas e mais saudáveis. Porque ao não olharmos para as nossas fragilidades, permitimos que cresçam como ervas daninhas que contaminam tudo o que de mais bonito temos.
  • Devemos procurar conhecermo-nos. Quando somos capazes de conhecer os nossos sinais de alerta, sejam reacções corporais seja a forma como internamente lidamos com determinadas situações, reduzimos drasticamente a sensação de imprevisibilidade, que muitas vezes é uma alavanca para situações de ansiedade.
  • Devemos parar. Conseguir desconectar do mundo, seja do trabalho, seja das nossas relações, e, em paralelo, conectarmo-nos connosco, aceitar o silêncio e ouvir o nosso mundo interno, é a ponte para gerir tudo aquilo que sentimos.
  • Devemos abrir a porta à ansiedade e ouvir tudo aquilo que ela nos quer transmitir. A ansiedade funciona como um sinal de alerta para alguma situação que pode ser potencialmente perigosa para nós. Neste sentido, aparece para nos protegermos - embora, por vezes, de forma tão incontrolada que nos contamina. Por isso, devemos ser capazes de, com os sentidos apurados, pararmos, olharmos de frente para nós próprios e para a mensagem que a ansiedade nos trás.

Na sequência de tudo isto, se queremos ganhar a batalha contra a ansiedade, é importante não nos esquecermos que só vamos conseguir fazê-lo quando, de uma vez por todas, pararmos de fugir dela e de nós próprios. Sob pena de, se continuarmos a fugir da ansiedade, ficarmos, para sempre, presos a ela.

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