Numa Câmara dos Representantes mais diversa, democratas não conseguem alargar maioria
Partido Democrata pretendia ampliar a maioria de 232 congressistas de que dispõe, mas resultado não foi o esperado. “Não vencemos todas as batalhas, mas vencemos a guerra”, disse Nancy Pelosi. Diversidade marcou eleições para a câmara baixa do Congresso, onde uma defensora de teorias da conspiração também conquistou o seu lugar.
Praticamente afastada a possibilidade de ganhar o controlo do Senado, o Partido Democrata deverá conseguir manter a maioria na Câmara dos Representantes, mas com um resultado aquém das expectativas do partido, que ambicionava expandir a vantagem que detinha na câmara baixa do Congresso.
“Embora tenha sido uma eleição desafiante, todos os nossos candidatos deixaram-nos orgulhosos, especialmente aqueles que estiveram em batalhas renhidas”, afirmou esta quinta-feira Nancy Pelosi, a líder da Câmara dos Representantes, citada pelo The Guardian.
“Segurámos a Câmara dos Representantes e Joe Biden e está a caminho de tornar-se o próximo dos Estados Unidos”, acrescentou Pelosi, reeleita pelo estado da Califórnia, referindo-se a umas eleições que foram “uma batalha de vida ou morte pelo destino da democracia”. “Não vencemos todas as batalhas, mas vencemos a guerra”, afirmou.
Com os resultados finais ainda a serem apurados, as projecções dão o Partido Republicano a conseguir ganhar alguns lugares ao Partido Democrata em estados como o Minnesota, Novo México, Oklahoma, Carolina do Sul, Florida ou Iowa.
Entre os principais ganhos dos republicanos destaca-se a eleição de Michelle Fischbach, no Minnesota, derrotando o democrata Collin C. Peterson, responsável pelo Comité de Agricultura, que esteve da Câmara dos Representantes durante 30 anos. Na Carolina do Sul, Nancy Mace derrotou o democrata Joe Cunningham por uma diferença de apenas 1,6 pontos.
Na Florida, onde os primeiros dados apontam para um bom resultado do Partido Republicano e de Donald Trump junto do eleitorado hispânico, particularmente de ascendência cubana, Carlos Gimenez, de Miami, derrotou a democrata Debbie Mucarsel-Powell.
Perante estas conquistas do Partido Republicano, os resultados na Carolina do Norte, onde as democratas Kathy Manning e Deborah Ross recuperaram dois distritos aos republicanos Lee Haywood e Alan Swain, não chegam para satisfazer as ambições de um partido que, antes das eleições, acreditava que iria aumentar a maioria de 232 lugares que dispunha, ganhando alguns dos 197 lugares ocupados actualmente pelos republicanos.
Na véspera da noite eleitoral, Nancy Pelosi tinha demonstrado enorme confiança, ao afirmar que os democratas estavam prontos para fortalecer a maioria, “a maior, mais diversa, mais dinâmica, liderada por mulheres, da história”.
As elevadas expectativas dos democratas acabaram por não se concretizar, apesar de continuarem com a maioria (são necessários 218 lugares), uma vitória escassa que, por isso, faz soar os alarmes para as próximas eleições intercalares nos Estados Unidos.
“Se não actuarmos em conjunto, vamos ser derrotados em 2022”, admitiu um congressista democrata, sob anonimato, à CNN.
Diversidade e teorias da conspiração
A diversidade de que Nancy Pelosi falava antes das eleições, contudo, foi mesmo uma realidade nas eleições para o Congresso, que teve o maior número de sempre de mulheres – 318, 117 das quais afro-americanas – a concorrer aos 535 lugares da Câmara dos Representantes e do Senado.
A democrata Cori Bush, enfermeira e activista do movimento Black Lives Matter, fez história ao tornar-se na primeira negra a ser eleita pelo estado de Missouri.
Nos últimos anos Bush tornou-se uma das vozes mais mediáticas do movimento anti-racista norte-americano, particularmente após o assassínio de Michael Brown, de 18 anos, em 2014, na cidade de Ferguson.
“Mike Brown foi assassinado há 2278 dias. Estivemos nas ruas em protesto durante mais de 400 dias. Hoje [4 de Novembro], levamos a luta do Black Lives Matter das ruas de Ferguson para o Congresso. Teremos justiça”, afirmou Cori Bush.
De sublinhar ainda que as quatro congressistas democratas conhecidas como “The Squad” - Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova Iorque, Rashida Tlaib, do Michigan, Ilhan Omar, do Minnestoa, e Ayanna Pressleu, do Massachussetts - mantiveram os seus lugares no Congresso.
Também as congressistas democratas indígenas Deb Haaland, do Novo México, e Sharice Davids, do Kansas, mantiveram os seus lugares, e viram outra mulher indígena, a republicana Yvette Herrell, a vencer a democrata Xochitl Torres Small no Novo México, um dos casos em que o Partido Republicano conseguiu recuperar um lugar ao Partido Democrata.
Com este resultado, verifica-se o maior número de sempre de mulheres indígenas no Congresso, que terão ainda a companhia dos indígenas republicanos reeleitos no Oklahoma Tom Cole e Markwayne Mullin e do democrata Kaiali’i “Kai” Kahele, eleito no Havai.
Das eleições para a Câmara dos Representantes, destaque ainda para a eleição do republicano Madison Cawthorn, de 25 anos, na Carolina do Norte, o congressista mais novo de sempre, e de Marjorie Taylor Greene, pelo estado da Georgia.
Greene é conhecida por ser uma defensora acérrima do Presidente Donald Trump e pelo apoio ao QAnon, uma teoria da conspiração pró-Trump que afirma existe um Estado dentro do Estado, chefiado por políticos, empresários e estrelas de Hollywood que gerem uma rede de tráfico de crianças e que querem controlar o mundo.
Marjorie Taylor Greene referiu-se a “Q”, a misteriosa figura que fez a primeira publicação sobre a teoria conspirativa em 2017, como um “patriota” que impulsionou o combate a uma “cabala global de pedófilos satânicos”.
É conhecida também pelas recorrentes declarações islamofóbicas e anti-semitas e pela negação da existência de racismo nos Estados Unidos.