Vídeo falso de Joe Biden a confundir o Minnesotta com Florida partilhado milhares de vezes
O vídeo foi partilhado mais de um milhão de vezes no Twitter antes de ser apagado, a menos de 24 horas da noite eleitoral.
Um vídeo falso que mostra o candidato democrata Joe Biden a enganar-se no nome do estado que está a visitar durante a fase final da campanha eleitoral tornou-se viral durante o fim-de-semana. “Olá Minnesota!” ouve-se Biden a dizer, ao subir a um palco onde se lê “Tampa, Florida”. Os estados ficam a mais de dois mil quilómetros de distância.
No Twitter, o vídeo foi partilhado mais de um milhão de vezes antes de ser legendado como “media manipulado" pela rede social.
As imagens falsas foram criadas ao editar palavras que apareciam escritas num vídeo do dia 30 de Outubro, em que Joe Biden visitou o estado do Minnesota. Uma análise da agência noticiosa Associated Press, que comparou as imagens virais com as filmagens originais, nota que os placares atrás de Biden foram alterados para mostrar “Tampa, Florida” e que as iniciais no pódio foram alteradas para FL (diminutivo de Florida) em vez de MN (diminutivo de Minesota). Além disso, durante a visita verdadeira à Florida, a 29 de Outubro, Biden aparece de fato. No vídeo falso, aparece com um casaco mais grosso, apropriado para as temperaturas mais baixas do Minnesota.
Durante a noite de Domingo, o Twitter legendou o vídeo com um alerta de “media manipulado”, mas não o removeu. Foi apagado, horas depois, pelo utilizador que o publicou originalmente numa conta com pouca informação pessoal. Uma das hipóteses é o utilizador ser um programa de computador – conhecido como bot – criado para semear discórdia e espalhar desinformação. Outra hipótese é tratar-se de um "troll patriótico", nome usado na gíria da Internet para pessoas que geram rixas virtuais para ajudar determinados políticos.
Um problema antigo
Vídeos falsos que mostram o candidato Joe Biden a confundir palavras, locais e nomes não são novidade. Em Setembro, a campanha de Donald Trump publicou um vídeo no YouTube que mostrava o candidato rival a enganar-se nas palavras do juramento de fidelidade (Pledge of Allegiance, em inglês) uma saudação patriótica nos EUA que mostra lealdade para com a bandeira do país. Já na semana passada, uma entrevista do comediante George Lopez ao candidato Joe Biden foi editada para dar a ideia de que o candidato republicano estava a confundir Donald Trump com o antigo presidente norte-americano George W Bush. Estes vídeos falsos servem para empurrar a narrativa de que Joe Biden é incapaz de liderar o país.
As notícias falsas e o conteúdo manipulado têm sido um problema prevalente durante a campanha eleitoral norte-americana. Parte da questão é a dificuldade das redes sociais em detectar todo o conteúdo manipulado, sem restringir a liberdade de expressão das pessoas para falar sobre política online.
Com as redes sociais incapazes de resolver o problema, uma das hipóteses que está a ser debatida é alterar a secção 230 da Lei de Decência em Comunicações, nos EUA. Durante mais de vinte anos esta lei protegeu empresas que detêm redes sociais e plataformas online de serem responsabilizadas por actos dos seus utilizadores. Isto impede, por exemplo, que o YouTube, Twitter ou o Facebook sejam culpados por pessoas que usam as plataformas para publicar conteúdo pirateado, teorias da conspiração, notícias falsas ou pornografia e possam restringir esse conteúdo.
O presidente executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, tem apoiado a revisão das regras, mas o líder do Twitter, Jack Dorsey, é mais céptico.
“Em algumas circunstâncias, regulamentos podem reforçar ainda mais as empresas que têm grandes quotas de mercado e podem facilmente dar-se ao luxo de aumentar os recursos adicionais para cumprir [novas regras]”, alertou Dorsey, no final de Outubro, numa audiência com o senado norte-americano.
Apesar das dificuldades em detectar e restringir atempadamente os vídeos manipulados de Joe Biden, o Twitter tem-se esforçado por erradicar informação falsa da sua plataforma, independentemente do autor. Em Julho, por exemplo, o Twitter retirou um vídeo publicado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por considerar que divulgava informações falsas sobre o coronavírus que provoca a covid-19.