Biblioteca Nacional celebra 250 anos de William Wordsworth com congresso e exposição

Programa, a decorrer esta terça-feira em Lisboa, inclui a publicação do diário da viagem que a filha do poeta, Dorothy Wordsworth, fez a Portugal entre 1845 e 1846.

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William Wordsworth DR

A Biblioteca Nacional celebra os 250 anos de William Wordsworth com um congresso e uma exposição, a inaugurar no mesmo dia, 3 de Novembro, em que também é publicado o diário de viagem a Portugal da filha do poeta.

A Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) juntou-se ao Centro de Estudos Ingleses de Tradução e Anglo-Portugueses (CETAPS, na sigla em inglês), da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, para organizarem um congresso que assinale o 250.º aniversário do nascimento de William Wordsworth (1770-1850), um dos mais famosos poetas britânicos.

No mesmo dia, será inaugurada uma pequena mostra dedicada às traduções e edições da obra do bardo romântico em Portugal, que vai estar patente durante um mês na Sala de Referência, com entrada gratuita.

O congresso vai contar com a participação de estudiosos e tradutores portugueses da sua obra, que vão analisar a vida, a obra e o legado intelectual, literário e até turístico de William Wordsworth e do seu círculo de amigos e familiares.

Na abertura do congresso, que decorre entre as 16h00 e as 19h00 no Auditório da BNP, Rogério Miguel Puga, do CETAPS, fará uma abordagem ao poeta na perspectiva “das letras à iconografia”, a que se seguirá a leitura de duas traduções para português do poema Daffodils: Narcisos, traduzido por Ana-Maria Chaves (Universidade do Minho), e Passava só como uma névoa, com tradução de Daniel Jonas (Assírio & Alvim).

Seguir-se-á uma intervenção de Paula Alexandra Guimarães, professora da Universidade do Minho, que falará sobre a “Marginalidade na poesia de William Wordsworth: o Bardo sobre Guerra, Imaginação, Idiotas e Animais”.

“William Wordsworth em diálogo escocês”, por Jorge Bastos da Silva, do CETAPS, da Universidade do Porto, é o painel que se segue, antes de uma prelecção por Miguel Alarcão, do CETAPS da Nova, sobre Edward Quillinan (1791-1851) – poeta inglês nascido no Porto, genro e defensor de William Wordsworth e um tradutor de poesia portuguesa –, subordinada ao tema “Tudo o que (não) escrevi”.

João Paulo Ascenso Pereira da Silva, também do CETAPS da Nova, vai debruçar-se sobre o tema “A musa silenciosa: Dorothy Wordsworth [filha de William Wordsworth] e a génese de Lyrical Ballads”, a que se seguirá uma reflexão por Susana Margarida Rosa, professora do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa, sobre “William Wordsworth, ou a poesia que nasce do silêncio”.

Daniel Jonas, que traduziu para português uma antologia de poemas escolhidos de William Wordsworth, publicada pela Assírio & Alvim, vai falar sobre essa mesma tarefa de traduzir o poeta inglês para língua portuguesa.

A encerrar o congresso, a professora Maria Zulmira Castanheira, do CETAPS da Nova, vai debruçar-se sobre o círculo de amigos de William Wordsworth, em particular “Robert Southey, o primeiro lusófilo inglês”, e novamente Rogério Miguel Puga falará sobre o tema “Esteticizar a identidade nacional e a liberdade através dos afectos: The Convention of Sintra, de William Wordsworth”.

No mesmo dia em que decorre este congresso e se inaugura a exposição dedicados ao poeta, chega às livrarias portuguesas o livro Diário de uma Viagem a Portugal e ao Sul de Espanha, de Dorothy Wordsworth (1804-1847), editado pela Asa.

A filha do escritor visitou Portugal, entre 1845 e 1846, com o seu marido, Edward Quillinan, nascido no Porto, e, em 1847, publicou em Londres um diário sobre a viagem, intitulado Journal of a few months’ residence in Portugal, and glimpses of the south of Spain. Este relato não era republicado desde o século XIX.

Dorothy Wordsworth Quillinan tinha 39 anos quando se casou, contra a vontade do pai, com Edward Quillinan, um oficial britânico, nascido em Portugal, que traduzia para inglês os poetas portugueses. No dia 7 de Maio de 1845, partiram de Southampton, no vapor Queen, rumo ao Porto.

“O diário dessa viagem é um documento único sobre o Portugal de mil e oitocentos. O poder de observação da autora, o seu sentido de humor e as comparações com o mundo de onde veio, conferem à narrativa uma memorável perspectiva sociológica”, descreve a editora.

Os portugueses são vistos com inegável ternura, mas o relato é equilibrado no elogio e na crítica, particularmente feroz quando se dirige às elites. A autora percorre grande parte do Norte e Centro, de Guimarães a Valença, de Castro Daire a Viseu, navega ao longo do Douro e do Lima, visita igrejas e monumentos, florestas e vinhas, até acabar, deslumbrada, em “Cintra” e Colares.

Ao longo do diário, Dorothy Wordsworth deixa transparecer que se espanta com o trabalho de madeira, fica horrorizada com as estradas portuguesas, apaixona-se pela fauna e flora e intriga-se com a gastronomia. Cita ainda poetas portugueses, de Camões a Gil Vicente, e evoca escritores britânicos como Lorde Byron.

William Wordsworth, um dos “Lake poets”, publicou, com Samuel Taylor Coleridge (ambos foram considerados fundadores do romantismo em Inglaterra), Lyrical Ballads (1798-1800), The Prelude (1799-1850), poemas como Lines composed a few miles above Tintern Abbey e Daffodils, e foi uma celebridade literária no final do século XVIII e início do século XIX, conhecido pela representação da (sua relação próxima com a) natureza.