Minho: ouvir o silêncio em Cabeceiras de Basto
O que terá atraído, no século XII, um conjunto de eremitas ao território que é hoje Cabeceiras de Basto? O abrigo dos montes? A abundância de água e a fartura da terra? A floresta da Cabreira? No concelho minhoto que arranha Trás-os-Montes, dos abades ficou o silêncio que deixa ouvir o resto.
Quinta-feira, meio-dia, a buzina do peixeiro faz parar tudo em Abadim, onde tudo, aliás, já estava parado. Subindo a encosta que dá à vista os lameiros onde pastam minhotas e barrosãs, há uvas e castanhas, a água corre pelo musgo da curva de cima para a de baixo. Na verdade, até há muito a acontecer. Vejam-se as couves-galegas, já a meio das janelas do rés-do-chão. As abóboras todas colhidas, qual bicho disforme que, gordo ou narigudo, assenta nos lancis e telhados, onde possa pousar sem estorvar os pés. As uvas e as castanhas lá atrás, prontas e prontíssimas. O concelho anda todo azafamado a vindimar, fim de Setembro é, e o ano foi bom para os vinhos verdes, diz-se. Escadotes para cima, tesouras para baixo, cestos grandes de vime, ainda nos cimos das cabeças. A bosta de um castanho leve no chão, sempre, que o gado mantém-se forte por terras de Basto, mais precisamente Cabeceiras, onde estamos e ainda não havíamos precisado.
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