Bolsonaro diz que pandemia está a acabar e ironiza com a pressa para comprar vacina
Presidente brasileiro critica governador de São Paulo por ter pressa em vacinar a população. Bolsonaro recusou-se a investir na vacina da farmacêutica Sinovac, com a qual o Governo de São Paulo tem acordo.
O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou esta sexta-feira que a pandemia de covid-19 “está a acabar” e criticou novamente o governador de São Paulo, João Doria, por tentar encontrar rapidamente uma vacina contra a doença.
“Está a acabar a pandemia, acho que ele quer vacinar o pessoal na marra [contra a vontade] rapidinho, porque a pandemia vai acabar e ele vai falar: ‘Acabou por causa da minha vacina’. O que está a acabar é o governo dele, com toda a certeza”, disse Bolsonaro, numa conversa com apoiantes em Brasília, citado pela imprensa local.
“Vocês têm um governador um tanto autoritário. Quer até dar vacina na marra. O que é que eu vejo na questão da pandemia? Ela está a ir embora, isso já aconteceu, a gente vê em livros de história e ele [Doria] quer acelerar uma vacina agora, falou que ia vacinar 46 milhões, não é? Não sei, não tem autoridade para isso e, no meu entender, é uma arbitrariedade”, acrescentou o chefe de Estado.
Apesar de Jair Bolsonaro afirmar que a pandemia está perto do fim, a Europa atravessa uma segunda onda de infecções e o Brasil continua a ser o país lusófono mais afectado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (cerca de 5,5 milhões de casos e 158.969 óbitos), depois dos Estados Unidos da América.
O Butantan, instituto vinculado ao governo de São Paulo, tem um acordo com a farmacêutica chinesa Sinovac para desenvolvimento e produção da vacina Coronavac, que ainda se encontra na terceira fase de testes, mas que já está a ser alvo de uma forte disputa política no Brasil.
O governador João Doria tem-se afirmado como adversário político de Bolsonaro, com quem se tem debatido desde o início da pandemia, numa polémica que se agravou com o imunizante Coronavac, depois de o chefe de Estado brasileiro se ter recusado a investir nessa vacina. O Governo de São Paulo assinou um contrato com a Sinovac que incluiu a aquisição e distribuição de 46 milhões de doses do imunizante.
“Eu não sei que adjectivo eu daria para quem quer dar vacina na marra. Ele já fala em aplicar uma vacina que não está 100% comprovada cientificamente, diferente da hidroxicloroquina que existe há quase 70 anos no Brasil”, acrescentou Bolsonaro, defendendo mais uma vez o fármaco que é normalmente usado para combater doenças como a malária, mas sem comprovação científica contra a covid-19.
Em 16 de Outubro, João Doria afirmou que a vacinação contra o novo coronavírus em São Paulo será obrigatória, excepto para pessoas que apresentem alguma restrição comprovada por um médico. Já o chefe de Estado, que se mostra céptico em relação à gravidade da pandemia, declarou que não obrigará ninguém a tomar o imunizante no país.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou na semana passada a intenção do Governo central de comprar mais 46 milhões de doses da fórmula chinesa, ainda em estudo. Porém, Bolsonaro desautorizou o seu ministro e vetou a compra da Coronavac, argumentando que o imunizante ainda nem sequer havia superado a fase de testes clínicos.
A recusa do chefe de Estado brasileiro contrasta com um outro acordo — firmado pelo seu Governo com a Universidade de Oxford e com o laboratório AstraZeneca — para a compra de 100 milhões de doses da vacina, que ambas as instituições desenvolvem e que se encontra na mesma fase de estudos que o imunizante da Sinovac.
No entanto, numa entrevista na revista Veja de sexta-feira, Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil, contrariou a posição do presidente, explicando que as afirmações de Bolsonaro não passaram de uma guerra de palavras com rivais políticos, neste caso, João Doria.
“O governo vai comprar a vacina, claro que vai. Já pusemos os recursos em Butantan para produzir esta vacina. O governo não vai fugir disso”, disse Mourão, citado pela revista.