TAP teve mais voos em Janeiro do que nos últimos seis meses
“Num contexto de elevada incerteza, a retoma está a ser muito lenta”, destaca o presidente executivo da TAP numa mensagem aos trabalhadores. Dados da ANAC mostram que perda de passageiros já chegou aos 9,5 milhões desde o início da pandemia.
Nos últimos seis meses, a TAP assegurou apenas 10.427 voos, um número inferior aos 10.700 que realizou apenas em Janeiro. Os dados, enviados esta quinta-feira pelo presidente executivo da TAP aos trabalhadores da empresa, mostram bem o impacto da pandemia de covid-19 no negócio do transporte aéreo. O pior mês foi Abril, com apenas 51 voos, enquanto Agosto foi o menos mau, com 3984 (quase o dobro de Julho), enquanto Setembro já se ficou pelos 3953.
Olhando para o curto e médio prazo, este é pouco tranquilizante, e é essa mensagem que o novo presidente executivo da TAP, Ramiro Sequeira, faz passar aos trabalhadores. “Num contexto de elevada incerteza, a retoma está a ser muito lenta e a TAP, à semelhança das suas congéneres, terá de fazer o caminho da reestruturação para garantir a sua viabilidade”, diz o gestor.
O regulador da aviação civil, a ANAC, publicou também os dados de Setembro referentes ao tráfego de passageiros, onde se verifica que a TAP voltou a liderar o transporte aéreo em Portugal, depois de ter sido superada pela Ryanair nos meses anteriores.
Em Setembro, a companhia portuguesa transportou 394.589 passageiros, o que representa uma queda de 79,3% em termos homólogos, contra 365.713 da Ryanair (menos 63,1%). Mesmo assim, a queda registada em Agosto tinha sido de 76,5%, pelo que houve agora um ligeiro agravamento deste indicador. Entre Março e Setembro, a TAP já perdeu 9,5 milhões de passageiros face a 2019.
Os dados da ANAC mostram ainda que o aeroporto de Lisboa registou 7696 movimentos de aviões (menos 60,8%) e 809.616 passageiros (menos 75,3%), e o do Porto teve 4231 movimentos (menos 52,1%) e 443.195 passageiros (menos 64,6%), com a queda do número de passageiros a ser superior à dos movimentos, demonstrando a escassez de procura mesmo com redução da oferta.
“É essencial estarmos todos conscientes da realidade vivida pelo sector da aviação, a nível mundial, e pela TAP, em particular”, sublinha, numa partilha de informações com os trabalhadores, que terá continuidade no futuro.
A taxa de ocupação média dos voos que tiveram lugar entre Maio e Julho, “após o período de paragem quase total”, foi de 60%, “vinte pontos percentuais abaixo da taxa média global de 2019, apesar da redução da capacidade realizada”, destaca-se nos dados disponibilizados pelo gestor, e que diz estarem e linha com o retrato do sector feito pela associação internacional das companhias aéreas, a IATA. Esta calcula que o tráfego mundial caia 66% este ano, “e que valores similares aos de 2019 sejam recuperados apenas em 2024”.
“Este é o principal motivo pelo qual toda a indústria, inclusive a TAP, tem ajustado a operação planeada a cada mês, através do cancelamento adicional de voos, como medida de assegurar a sustentabilidade e mitigar o cash burn [perda de dinheiro]”, explica.
Inverno a caminho
“Sobre os próximos meses de Inverno, e observando com preocupação o comportamento da procura actual, abaixo da dos meses de Verão e com reservas realizadas cada vez mais para o curto prazo (maioritariamente para o mês seguinte), teremos que continuar a adaptar o nosso planeamento de voos a esta nova dinâmica do mercado”, diz o gestor, acrescentando que deverá haver uma excepção no período do Natal e da passagem de ano, para o qual se antecipa uma ligeira melhoria da procura.
“O mais recente estudo da IATA vem comprovar o quão seguro é viajar de avião”, defende Ramiro Sequeira, adiantando que, desde o início do ano, “apenas se identificaram 44 potenciais casos de contágio a bordo”. Diversas organizações do sector têm estado contra medidas governamentais de restrição de movimentos como a quarentena, defendendo antes, tal como a TAP, “a adopção de medidas globais e coordenadas de testagem, pelos diversos países, que permitam maior segurança na reserva e realização de viagens”.
Sobre o plano de reestruturação que está a ser efectuado pela empresa e que terá de ser entregue em Bruxelas até 10 de Dezembro, o gestor diz que a empresa irá procurar “a cada momento”, dar conta do seu estado e manter os trabalhadores envolvidos no processo, “na medida da dimensão do contributo de cada um”.