Exposição Manoel de Oliveira Fotógrafo mostra faceta desconhecida do cineasta
Manoel de Oliveira Fotógrafo está em Serralves, no Porto, e junta cem fotografias, na sua maioria inéditas, tiradas entre os anos de 1930 e 1950.
A exposição Manoel de Oliveira Fotógrafo, que é inaugurada esta quinta-feira, em Serralves, no Porto, e fica patente até 18 de Abril, dá a conhecer “uma faceta desconhecida” do realizador que, paralelamente ao cinema, era apaixonado por fotografia.
“A passagem de Manoel de Oliveira pela fotografia era já conhecida. Havia documentação que comprovava que [o realizador] se tinha dedicado à fotografia, mas as imagens eram desconhecidas. Apenas duas tinham sido publicadas nos catálogos dos salões de arte fotográfica em que participou, entre 1939 e 1945. Aquilo que apresentamos é uma faceta desconhecida de Manoel de Oliveira”, descreveu à agência Lusa o curador da exposição, António Preto.
Manoel de Oliveira Fotógrafo — que estará patente até Abril na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, espaço integrado no parque de Serralves, no Porto — junta cem fotografias, na sua maioria inéditas, tiradas entre os anos de 1930 e 1950.
São imagens originárias do acervo Manoel de Oliveira, integralmente depositado em Serralves, “algumas organizadas pelo realizador e outras que estavam dispersas”, contou o curador.
“Percebemos que havia toda uma produção desconhecida de imagens dos anos 1930 até aos anos 1950. Esse acervo tem vindo a ser trabalhado. Estamos a fazer a classificação arquivística de toda a documentação. Vamos avançar em breve com a digitalização”, acrescentou o também director da Casa Manoel de Oliveira.
Entre esta centena de fotografias, algumas evidenciam a relação com o modernismo, que caracteriza a primeira fase de produção cinematográfica de Manoel de Oliveira, como as relacionadas com o filme Douro, Faina Fluvial, de 1931.
Paralelamente, a mostra integra fotografias que, conforme descreveu o curador, “dialogam com toda a tradição do construtivismo e da Bauhaus”, bem como “fotografias que participam de outra corrente fotográfica do mesmo período, o pictorialismo”.
Tiragens originais da época, algumas com impressões feitas pelo próprio Manoel de Oliveira e outras que resultam de ampliações de negativos que existiam no acervo, no conjunto, as imagens que compõem a exposição também explicam melhor o modo como realizador de Aniki-Bóbó (1942) passou a assegurar a direcção fotográfica dos seus próprios filmes.
Hulha Branca (1932), Já se fabricam automóveis em Portugal (1938) e Famalicão (1941) são outros dos filmes de Manoel de Oliveira que encontram relação com as fotografias expostas.
“A mostra também acaba por contextualizar o rigor de composição e enquadramento que caracteriza toda a obra cinematográfica de Manoel de Oliveira”, lê-se na informação distribuída pela Fundação de Serralves, numa visita guiada, reservada à imprensa.
Na mesma informação é destacado que, “investida, quase sempre, de propósitos artísticos, a fotografia é para o realizador um instrumento de pesquisa formal e de experimentação, uma outra modalidade para interrogar, muitas vezes em relação directa com os filmes, a construção de uma linguagem visual própria”.
A programação paralela contará com um ciclo de cinema sobre a presença da fotografia na carreira do realizador, bem como com um ciclo de conferências.
Será ainda editado um catálogo em português e inglês que, além de introdução de António Preto, terá ensaios de vários especialistas, como a conservadora, curadora e investigadora na área da Fotografia e Novos Media do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, Emília Tavares, a coordenadora do Centro Português de Fotografia, Maria do Carmo Sérene, e o ensaísta e professor catedrático da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto Bernardo Pinto de Almeida, autor de ensaios como Imagem da Fotografia.