Fotografia

Fartos da realidade? Há imagens da Magnum Photos para estimular a imaginação

Birmânia, 1994. “Peregrinos de toda a Birmânia visitam Golden Rock há séculos. A pedra está forrada de folhas de ouro, ali colocadas pelos devotos. De acordo com a lenda, um fio de cabelo da cabeça de Buda mantém a grande pedra em equilíbrio, junto ao precipício.” Steve McCurry, Magnum Photos
Fotogaleria
Birmânia, 1994. “Peregrinos de toda a Birmânia visitam Golden Rock há séculos. A pedra está forrada de folhas de ouro, ali colocadas pelos devotos. De acordo com a lenda, um fio de cabelo da cabeça de Buda mantém a grande pedra em equilíbrio, junto ao precipício.” Steve McCurry, Magnum Photos

Avizinha-se o final do ano de 2020, marcado por uma série de eventos "sem paralelo na memória recente", refere a Magnum Photos, em comunicado enviado ao P3, aludindo à crise pandémica que se vive actualmente. Numa altura em que a realidade se torna de difícil apreensão, a imaginação surge como uma importante ferramenta de auxílio à manutenção da saúde psicológica de todos. Nesse contexto, as imagens "de factos e ficções" criadas pelos fotógrafos da agência Magnum e da Aperture assumem-se como detentoras do "potencial de inspirar a nossa imaginação social e artística".

São mais de 120 as fotografias — de nomes tão reconhecíveis como os de Mary Ellen Mark, Elliott Erwitt, Mark Power, Thomas Dworzak, Alec Soth, Bieke Depoorter, Todd Hido, Matt Black — que se encontram para venda ao abrigo do evento de venda online Magnum Square Print e que levantam o véu sobre o significado e a importância da imaginação no contexto das vidas dos seus autores. O fotógrafo Moises Saman, por exemplo, contribui com uma fotografia de um casal que caminha de mãos dadas através de uma área devastada pelos terramotos que fustigaram o Haiti, em 2010. “Durante estes tempos de dificuldade que pareciam infinitos, encontro algum conforto ao recordar certos momentos que tive a sorte de testemunhar, que provam que o poder do amor triunfa sobre a adversidade.” Outros podem ser conhecidos nesta fotogaleria.

Do livro “The Suffering of Light”. Salónica Grécia, 2003 “Eu nasci numa família de artistas e os meus primeiros anos foram marcados por uma série de falsas partidas. Confrontado com uma tela em branco, não conseguia pintar. Perante uma página em branco, não podia escrever. Percebi, lentamente, que necessitava do mundo físico – com os seus intermináveis paradoxos e contradições – para poder criar. Percebi que, para mim, o mundo era muito mais impressionante do que eu teria a capacidade de imaginar.”
Do livro “The Suffering of Light”. Salónica Grécia, 2003 “Eu nasci numa família de artistas e os meus primeiros anos foram marcados por uma série de falsas partidas. Confrontado com uma tela em branco, não conseguia pintar. Perante uma página em branco, não podia escrever. Percebi, lentamente, que necessitava do mundo físico – com os seus intermináveis paradoxos e contradições – para poder criar. Percebi que, para mim, o mundo era muito mais impressionante do que eu teria a capacidade de imaginar.” Alex Webb, Magnum Photos
“O Veado e o Touro”, México, 2012. “Foi nos fantásticos festivais mexicanos – que incluem máscaras e rituais – que eu me inspirei para o mais recente projecto fotográfico, que resultou no livro Mexico Mask Rituals (2019). A imagem do Veado e do Touro foi feita durante a Semana Santa, em Sierra Madres, durante o período em que os participantes elaboram as máscaras de papier-mâché e materiais naturais que retratam animais fantásticos e demónios. A qualidade mágica de transformação que está patente nestas celebrações revela uma herança cultural rica.”
“O Veado e o Touro”, México, 2012. “Foi nos fantásticos festivais mexicanos – que incluem máscaras e rituais – que eu me inspirei para o mais recente projecto fotográfico, que resultou no livro Mexico Mask Rituals (2019). A imagem do Veado e do Touro foi feita durante a Semana Santa, em Sierra Madres, durante o período em que os participantes elaboram as máscaras de papier-mâché e materiais naturais que retratam animais fantásticos e demónios. A qualidade mágica de transformação que está patente nestas celebrações revela uma herança cultural rica.” Phyllis Galembo, Aperture
Da série “Afronauts”. Butungaola, 2011. “É muito complicado para mim escrever sobre o que é a imaginação porque sinto que, ao defini-la, irei cair em inconsistência. A maior parte das vezes que alguém me pergunta como é que tenho ideias, culpo a imaginação. Por isso, creio que a definição mais próxima será ‘A imaginação é aquilo que está na origem das ideias’.”
Da série “Afronauts”. Butungaola, 2011. “É muito complicado para mim escrever sobre o que é a imaginação porque sinto que, ao defini-la, irei cair em inconsistência. A maior parte das vezes que alguém me pergunta como é que tenho ideias, culpo a imaginação. Por isso, creio que a definição mais próxima será ‘A imaginação é aquilo que está na origem das ideias’.” Cristina de Middel, Magnum Photos
Da série Santa Barbara, 2018. "Eu tinha sete anos quando a minha família chegou à América. Era o ano de 1996. A União Soviétiva tinha caído há alguns tempo, assim como o casamento dos meus pais. Todas as noites, no nosso minúsculo apartamento, em Moscovo, a minha família via o Santa Barbara, o primeiro programa norte-americano a ser transmitido na televisão estatal russa. Para a minha mãe, Santa Barbara representava um sonho. Uma noite, ela acordou-me e disse-me que íamos fazer uma viagem. Saímos sem dizer adeus ao meu pai e, no dia seguinte, aterrámos num novo mundo: América.”
Da série Santa Barbara, 2018. "Eu tinha sete anos quando a minha família chegou à América. Era o ano de 1996. A União Soviétiva tinha caído há alguns tempo, assim como o casamento dos meus pais. Todas as noites, no nosso minúsculo apartamento, em Moscovo, a minha família via o Santa Barbara, o primeiro programa norte-americano a ser transmitido na televisão estatal russa. Para a minha mãe, Santa Barbara representava um sonho. Uma noite, ela acordou-me e disse-me que íamos fazer uma viagem. Saímos sem dizer adeus ao meu pai e, no dia seguinte, aterrámos num novo mundo: América.” Diana Markosian, Aperture
Transnistria, Moldova, 2004. “Nesta imagem, os crentes preparam-se para um baptismo durante a celebração ortodoxa da Epifania. Momentos depois de ter feito esta imagem, uma série de homens saltaram para dentro de água e foram baptizados.”
Transnistria, Moldova, 2004. “Nesta imagem, os crentes preparam-se para um baptismo durante a celebração ortodoxa da Epifania. Momentos depois de ter feito esta imagem, uma série de homens saltaram para dentro de água e foram baptizados.” Jonas Bendiksen, Magnum Photos
Do projecto "Agata". Neuilly-Plaisance, França. Setembro, 2018. “Este projecto é a história de uma jovem mulher à procura de uma identidade, brincando com ela como se fosse um brinquedo, e a história da minha própria experimentação com a fragilidade da minha autoria fotográfica.”
Do projecto "Agata". Neuilly-Plaisance, França. Setembro, 2018. “Este projecto é a história de uma jovem mulher à procura de uma identidade, brincando com ela como se fosse um brinquedo, e a história da minha própria experimentação com a fragilidade da minha autoria fotográfica.” Bieke Depoorter, Magnum Photos
“Recollection”. Colagem de três imagens da Grécia e Itália. Criado em 1936. “Para pessoas criativas, a tensão entre as imagens interiores e exteriores, entre a ilusão e a realidade, faz com que sintam necessidade de criar arte.”
“Recollection”. Colagem de três imagens da Grécia e Itália. Criado em 1936. “Para pessoas criativas, a tensão entre as imagens interiores e exteriores, entre a ilusão e a realidade, faz com que sintam necessidade de criar arte.” Herbert List, Magnum Photos
Amara, um opositor à ocupação francesa na Tunísia, explica como se segura uma arma. “Em finais do século XIX, especificamente em 1889, a ocupação francesa trouxe mão-de-obra de diferentes regiões até Gafsa, de forma a extraír fosfato da terra através de minas. A nova sociedade que emergiu nesta terra desolada lutava contra a exploração e contra a dureza do lugar.”
Amara, um opositor à ocupação francesa na Tunísia, explica como se segura uma arma. “Em finais do século XIX, especificamente em 1889, a ocupação francesa trouxe mão-de-obra de diferentes regiões até Gafsa, de forma a extraír fosfato da terra através de minas. A nova sociedade que emergiu nesta terra desolada lutava contra a exploração e contra a dureza do lugar.” Zied Ben Romdhane, Magnum Photos
Genebra, Suíça, 1999. “Esta imagem é uma carta fora do baralho no meu arquivo. Foi a única vez que fiz um trabalho de moda. (…) No meu trabalho, nunca nada é encenado. A realidade apresenta-me realidades que a minha imaginação não teria capacidade de inventar."
Genebra, Suíça, 1999. “Esta imagem é uma carta fora do baralho no meu arquivo. Foi a única vez que fiz um trabalho de moda. (…) No meu trabalho, nunca nada é encenado. A realidade apresenta-me realidades que a minha imaginação não teria capacidade de inventar." Carl De Keyzer, Magnum Photos
Alunas da Escola de Corão divertem-se com uma bombinha de fumo cor-de-rosa num piquenique, em Istambul, Turquia, 2017. “Fumo e espelhos, fantasia e vida real, são as ferramentas de um mágico para criar ilusões; mas os fotógrafos também podem usar essas ferramentas. O fumo na imagem é como a entrada para um céu de nuvens que foi oferecida como recompensa por memorizarem o Corão. E a câmara é, assim, uma espécie de espelho das suas almas. Quero que o espectador embarque nesta viagem mágica, quer assuma que é realidade ou ficção.”
Alunas da Escola de Corão divertem-se com uma bombinha de fumo cor-de-rosa num piquenique, em Istambul, Turquia, 2017. “Fumo e espelhos, fantasia e vida real, são as ferramentas de um mágico para criar ilusões; mas os fotógrafos também podem usar essas ferramentas. O fumo na imagem é como a entrada para um céu de nuvens que foi oferecida como recompensa por memorizarem o Corão. E a câmara é, assim, uma espécie de espelho das suas almas. Quero que o espectador embarque nesta viagem mágica, quer assuma que é realidade ou ficção.” Sabiha Çimen, Magnum Photos
Ballet ucraniano. Paris, França, 1992. “Os sonhos e a realidade, a arte e o quotidiano. A fotografia une esses planos, mas também transforma um mundo a três dimensões num mundo plano, como quem tira os pés a um banco. É uma forma mais compacta de transportar as realidades presentes para o futuro. No entanto, nós, criadores de imagens, somos apenas testemunhas. A imaginação é um obstáculo. Deambulando pelos labirintos da prosa da vida, só podemos dar-nos a um luxo – a poesia. Criamos rimas, desenhamos com luz, capturando, com sucesso, o momento e preparando comida para os nossos descendentes – para a sua imaginação.”
Ballet ucraniano. Paris, França, 1992. “Os sonhos e a realidade, a arte e o quotidiano. A fotografia une esses planos, mas também transforma um mundo a três dimensões num mundo plano, como quem tira os pés a um banco. É uma forma mais compacta de transportar as realidades presentes para o futuro. No entanto, nós, criadores de imagens, somos apenas testemunhas. A imaginação é um obstáculo. Deambulando pelos labirintos da prosa da vida, só podemos dar-nos a um luxo – a poesia. Criamos rimas, desenhamos com luz, capturando, com sucesso, o momento e preparando comida para os nossos descendentes – para a sua imaginação.” Gueorgui Pinkhassov, Magnum Photos
Carla. La Sabana, Acapulco, México. 2017. “A casa cheirava a sangue seco de animal e ouvia-se o som dos camiões a chegar, carregando mais animais que seriam mortos. Enquanto isto acontecia, a Carla estava reclinada na sua cadeira, parecendo quase intangível, como se por um momento tivesse abandonado aquele lugar, partido daquela realidade sufocante. Acapulco era a cidade com a terceira maior taxa de homicídio do mundo, naquele ano. Esta imagem faz parte de um projecto sobre resiliênca, que reune imagens de pessoas cujas vidas foram tocadas pela violência.”
Carla. La Sabana, Acapulco, México. 2017. “A casa cheirava a sangue seco de animal e ouvia-se o som dos camiões a chegar, carregando mais animais que seriam mortos. Enquanto isto acontecia, a Carla estava reclinada na sua cadeira, parecendo quase intangível, como se por um momento tivesse abandonado aquele lugar, partido daquela realidade sufocante. Acapulco era a cidade com a terceira maior taxa de homicídio do mundo, naquele ano. Esta imagem faz parte de um projecto sobre resiliênca, que reune imagens de pessoas cujas vidas foram tocadas pela violência.” Yael Martinez, Magnum Photos
No meio da metrópolo chinesa de Guanghou, novos blocos de apartamentos adensam-se sobre um bairro de lata que foi demolido. China 2014. “Como diz o antropólogo James C. Scott, estes projectos existem para uniformizar e organizar a sociedade, de forma a torná-la mais ‘legível’ para os governos, potenciando o seu controlo. No livro ‘Seeing Like a State’, Scott mostra como, em países como a China, o Estado não conhece limites, deixando na mão de tecnocratas reimaginar e desenhar o país de acordo com a sua visão.”
No meio da metrópolo chinesa de Guanghou, novos blocos de apartamentos adensam-se sobre um bairro de lata que foi demolido. China 2014. “Como diz o antropólogo James C. Scott, estes projectos existem para uniformizar e organizar a sociedade, de forma a torná-la mais ‘legível’ para os governos, potenciando o seu controlo. No livro ‘Seeing Like a State’, Scott mostra como, em países como a China, o Estado não conhece limites, deixando na mão de tecnocratas reimaginar e desenhar o país de acordo com a sua visão.” Sim Chi Yin, Magnum Photos
Um casal caminha, de mãos dadas, através de uma área devastada da baixa de Port-au-Price, que foi duramente atingida por um terramoto a 12 de Janeiro de 2010. “Durante estes tempos de dificuldade que pareciam infinitos, encontro algum conforto ao recordar certos momentos que tive a sorte de testemunhas, que provam que o poder do amor triunfa sobre a adversidade.”
Um casal caminha, de mãos dadas, através de uma área devastada da baixa de Port-au-Price, que foi duramente atingida por um terramoto a 12 de Janeiro de 2010. “Durante estes tempos de dificuldade que pareciam infinitos, encontro algum conforto ao recordar certos momentos que tive a sorte de testemunhas, que provam que o poder do amor triunfa sobre a adversidade.” Moises Saman, Magnum Photos
Barwani, Índia, 2013. “A manhã que se seguiu a uma noite quente de Verão.”
Barwani, Índia, 2013. “A manhã que se seguiu a uma noite quente de Verão.” Sohrab Hura, Magnum Photos
Tempestade. York, Pensilvânia, EUA, 2015. “Fotografias são factos que ultrapassam as ficções que nos contam – ou que, por vezes, contamos a nós mesmos. Mesmo quando elas referem a coisas que estão para além do que é visível, as imagens ajudam-nos a compreender o mundo e o nosso lugar dentro dele.”
Tempestade. York, Pensilvânia, EUA, 2015. “Fotografias são factos que ultrapassam as ficções que nos contam – ou que, por vezes, contamos a nós mesmos. Mesmo quando elas referem a coisas que estão para além do que é visível, as imagens ajudam-nos a compreender o mundo e o nosso lugar dentro dele.” Matt Black, Magnum Photos
Iggy Pop, La Scala, Londres, 1972. “Escrevi estas linhas dois ou três dias depois de ver e de filmar o concerto de Iggy&The Stooges, em Londres, no verão de 1972, que deu origem à clássica capa de álbum de Raw Cover. “Ele era elementar, uma força da natureza. Ele era como um animal numa jaula, furioso por estar preso.”.
Iggy Pop, La Scala, Londres, 1972. “Escrevi estas linhas dois ou três dias depois de ver e de filmar o concerto de Iggy&The Stooges, em Londres, no verão de 1972, que deu origem à clássica capa de álbum de Raw Cover. “Ele era elementar, uma força da natureza. Ele era como um animal numa jaula, furioso por estar preso.”. Mick Rock, Aperture