Facebook proíbe negar o Holocausto. É “alarmante“ o aumento da “ignorância” sobre o tema

Até esta segunda-feira, Mark Zuckerberg argumentava que negar o Holocausto era uma questão de liberdade de expressão.

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Auschwitz, 1944 Domínio público

O Facebook mudou as regras e vai começar a treinar o seu sistema para barrar, automaticamente, qualquer publicação que tente negar ou menosprezar o Holocausto. A rede social quer combater um “aumento alarmante no nível de ignorância” sobre o tema. Até esta segunda-feira, publicações do género eram permitidas no Facebook sob o pretexto de liberdade de expressão.

“Não acredito que a nossa plataforma deva eliminar [publicações a negar o Holocausto]. Há temas em que as pessoas se enganam”, disse Mark Zuckerberg em 2018. Na altura, foi severamente criticado pelas palavras, apesar de dizer que, como judeu, considerava publicações anti-semitas “profundamente ofensivas”.

Agora, Zuckerberg diz que qualquer conteúdo que “negue ou distorça o Holocausto” será eliminado. “A minha opinião sobre o tema evoluiu ao ver dados que mostram um aumento na violência anti-semita”, frisou o fundador. 

Num comunicado sobre as mudanças, a equipa da rede social cita um inquérito de Setembro, encomendado pela Claims Conference, uma organização judaica que negoceia indemnizações para as vítimas do Holocausto, que mostra que um quarto dos norte-americanos com idades compreendidas entre os 18 e os 39 anos define o Holocausto como um mito, uma história exagerada ou um tema sobre o qual não têm a certeza. 

Em Julho, um relatório do Community Security Trust, uma instituição de caridade no Reino Unido, notava que a pandemia tinha diminuído o número de ataques físicos contra judeus na primeira metade de 2020, mas alertava: a Internet tornou-se uma forma “conveniente e ampla” de expressar e espalhar ódio.

Dados de Agosto do Instituto para Diálogo Estratégico, um think-thank no Reino Unido dedicado a combater o extremismo, mostram que o Facebook é um dos responsáveis. Há alguns meses, pesquisar palavras-chave como “Holocausto” na barra de pesquisa da rede social remetia para 28 grupos do Facebook e oito páginas com conteúdo a desmentir o extermínio de judeus e outros grupos pela Alemanha nazi que eram seguidas por 370 mil pessoas.

O Facebook quer rectificar o problema: a partir de agora, quem pesquisar sobre Holocausto no Facebook será reencaminhado para fontes “fidedignas” de informação. O Facebook está a basear as mudanças em conversas com vários grupos que lutam contra o anti-semitismo em todo o mundo, incluindo o Congresso Mundial Judaico e o Comité Sionista Americano.

“Tenho-me debatido com as tensões entre defender a liberdade de expressão e os danos causados por minimizar ou negar o horror do Holocausto”, explica Zuckerberg. “Definir os limites entre o que é discurso aceitável não é simples, mas com o actual estado do mundo acredito que [proibir conteúdo a negar ou desvalorizar o Holocausto] faz parte do equilíbrio certo.”

Na semana passada o Facebook também passou a classificar os grupos QAnon (um movimento que usa teorias da conspiração para promover a extrema-direita) como perigosos e começou a removê-los da sua plataforma.

A equipa da rede social alerta, no entanto, que as mudanças podem demorar a entrar em vigor: “Há uma série de conteúdos que podem violar estas políticas, e vai demorar algum tempo até formarmos os nossos revisores e sistemas sobre as regras.”

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