Hartley, Jones e Fadó nos museus da Chapelaria e Calçado com design “tecnológico”
As chapeleiras Donna Hartley e Joanne Jones, e a criadora de sapatos Silvia Fadó inauguram domingo nos museus de Chapelaria e Calçado, em São João da Madeira, duas exposições para “mulheres fatais” e apreciadores de “arquitectura e tecnologia”.
As chapeleiras Donna Hartley e Joanne Jones, e a criadora de sapatos Silvia Fadó inauguram neste domingo, nos museus de Chapelaria e Calçado, em São João da Madeira, duas exposições para “mulheres fatais” e apreciadores de “arquitectura e tecnologia”. A descrição é de Joana Galhano, que, enquanto directora desses dois equipamentos culturais do distrito de Aveiro, reconhece à exposição das chapeleiras britânicas um trabalho ajustado ao título “Um toque de elegância” e atribui à designer de calçado espanhola uma mostra mais focada em “arte, arquitectura e tecnologia”.
Os chapéus de Hartley e Jones constituem assim peças motivadas por “temáticas tão variadas como o romance e o sonho, a beleza e a moda, o cinema e a história”, o que, envolvendo materiais como plumas, pedras preciosas, véus rendados e muita cor, se ajusta ao uso por uma mulher “que pode ter tanto de “femme fatale” como de “inocente"”. Já os sapatos de Fadó, por sua vez, evocam “arquitectura, engenharia, iluminação e design inteligente e funcional”, num cruzamento entre fabrico manual tradicional, ergonomia e estética futurista.
Joana Galhano defende, por isso, que, ao serem complementadas com workshops técnicos dirigidos pelas designers, as novas exposições cumprem o objectivo de explorar “memória e criatividade” enquanto conceitos-chave para o desenvolvimento e a valorização da indústria nacional da chapelaria e do calçado, ajudando a “traçar novos caminhos para o futuro” desses sectores.
De Inglaterra para Espanha
No caso de Donna Hartley e Joanne Jones, que em 2015 fundaram em Espanha a marca Donna Hartley Millinery e têm na presente mostra a sua estreia a solo em Portugal, são as próprias criadoras que reconhecem: “O nosso estilo tem na sua essência o charme britânico, mas o meio ambiente natural que nos rodeia, a cultura e a exuberância espanhola não só inspiram como complementam a nossa personalidade excêntrica.”
A carreira de Donna Hartley, em específico, teve início há mais de 20 anos quando, ainda em Inglaterra, trabalhava com encomendas privadas a partir de sua casa. “Decidida a aprofundar os seus conhecimentos na área, estudou os princípios da chapelaria em Huddersfield e depois foi trabalhar para Tracey Mogard, que é uma reconhecida chapeleira da “Herald and Heart Hatters” em Londres”, revela Joana Galhano.
A designer acabaria então por especializar-se em alta-costura e, quando decide lançar-se em nome próprio, associa-se a Joanne Jones, artista plástica a residir em Espanha, “apaixonada” por chapéus e com particular talento para o desenho e pintura.
Actualmente, a dupla cria duas colecções por ano e aposta sobretudo na de Verão. “As suas colecções contemporâneas e eclécticas vestem com grande elegância, intensidade e carácter as cabeças de uma clientela mundial exigente e apresentam-se como interpretações incomuns e impactantes, não por serem especialmente provocadoras, mas por negarem o comum e redefinirem as fronteiras entre o clássico e o contemporâneo”, declara a directora dos museus.
Da arquitectura para a moda
Já no que se refere a Silvia Fadó, que começou por estudar Arquitectura até encontrar no curso de Design de Moda maior liberdade plástica e criativa, tem-se destacado pelo seu trabalho “em torno do design inteligente e funcional do calçado de alta-costura, em particular no que concerne à comodidade e incorporação de tecnologia avançada”.
Com ateliê em Barcelona, a criadora afirma: “Nunca sigo estereótipos e o que é comum. Gosto sempre de pensar em formas diferentes de fazer as coisas, explorar outros usos para os elementos quotidianos.”
Joana Galhano dá exemplos: a criadora catalã já criou sapatos com saltos que conciliam o uso de sistemas hidráulicos com prototipagem rápida via corte a laser ou impressão 3D, continua a estudar o movimento do corpo humano para adaptar à alta-costura as vantagens do calçado desportivo e recorre regularmente a sistemas mecânicos que permitam absorver o impacto da caminhada através de molas, bolas de borracha, dobradiças, sistemas pneumáticos, anéis metálicos e outros mecanismos pouco utilizados em sapatos de luxo.
A directora dos dois museus conclui, por isso, que Silvia Fadó “vive num permanente estado de questionamento, pesquisa e experimentação”, do que resultam “sinergias com criadores como Iris Van Herpen, Zaha Hadid e Marni”, e influências minimalistas como as proporcionadas por Alexander Wang, Jil Sander, Martin Margiela, Céline e Robert Clergerie.
As duas mostras estarão patentes ao público até Maio de 2021, constituindo o que Joana Galhano considera “um elemento acrescido para a já gradual retoma do regresso à normalidade cultural, artística e turística da região”.