Pronto para debate com Biden, Trump espalha desinformação comparando covid-19 à gripe
A um mês das presidenciais e com dois debates televisivos para realizar, Trump garante que está pronto para enfrentar Joe Biden e que a sua situação de saúde está estável.
Depois de ter alta do internamento por covid-19, Donald Trump voltou esta terça-feira à arena política com uma sucessão de mensagens publicadas nas redes sociais. O Presidente dos EUA anunciou que tenciona participar no debate eleitoral com o candidato democrata na corrida à Casa Branca, Joe Biden, no próximo dia 15. E comparou a doença à gripe – o que lhe valeu o rótulo de informação “enganadora” pelo Twitter e pelo Facebook.
“A época da gripe vem aí! Muitas pessoas todos os anos, por vezes mais de 100 mil, e apesar da vacina, morrem de gripe. Vamos fechar o nosso País? Não, aprendemos a viver com isto, tal como estamos a apresentar com a covid, que na maioria das populações é muito menos letal”, escreveu Trump.
O Facebook, que raras vezes tomou medidas contra a desinformação propagada por Trump, apagou o post, mas não antes de ser partilhado cerca de 26 mil vezes, segundo dados da empresa de métricas online CrowdTangle, citados pela Reuters. “Removemos informação incorrecta sobre a severidade da covid-19”, disse um porta-voz do Facebook à Reuters.
O Twitter considerou que o tweet viola as suas regras sobre “espalhar informação enganadora e potencialmente prejudicial sobre covid-19”. Ainda assim, o Twitter considera que pode ser do interesse do público continuar a poder ler o tweet.
Na época de gripe 2019-2020, a doença foi associada a 22 mil mortes nos Estados Unidos, segundo dados dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças. Já a covid-19 matou mais de 210 mil pessoas no país – os EUA são, aliás, o país do mundo com mais mortes por covid-19.
Em todo o mundo, a mortalidade por covid-19 “parece ser superior à da gripe, especialmente a gripe sazonal”, esclarece a Organização Mundial de Saúde. A taxa de letalidade por covid-19 está entre os 3 e os 4%, de acordo com os dados disponíveis, enquanto o da gripe sazonal é geralmente inferior a 0,1%.
Trump foi, possivelmente, a pessoa que mais contribuiu para a propagação da desinformação sobre a pandemia, segundo um estudo divulgado na semana passada pela Universidade Cornell.
Estas mensagens de Trump relançam a polémica sobre a gestão da pandemia por parte do Governo dos EUA, que tem sido um dos temas principais desta campanha presidencial, devendo continuar a ser uma das divergências entre o actual Presidente e Biden nos próximos debates.
Trump diz que está “fantástico”
Apesar de o seu médico pessoal, Sean Conley, ter dito que ainda não estava fora de perigo, depois de ter sido internado no hospital militar Walter Reed por ter tido um teste positivo à covid-19, na passada sexta-feira, Trump teve alta na segunda-feira e saiu do hospital.
O Presidente deverá agora recuperar na Casa Branca, onde o alcance do surto que infectou os mais altos escalões da Administração ainda está a ser investigado pelas autoridades de saúde.
A um mês das eleições presidenciais e ainda com dois debates televisivos para realizar, nos dia 15 e 22 de Outubro, Trump esclarece que está pronto para enfrentar o seu adversário democrata e que a sua situação de saúde está estável.
“Estou ansioso para (participar) no debate da noite de quinta-feira, 15 de Outubro, em Miami. Vai ser óptimo!”, escreveu Trump no Twitter, insistindo que se está a “sentir fantástico!”.
Americanos temem covid-19, Trump desvaloriza ameaça
Na segunda-feira, minutos antes de ter alta e ter abandonado o Walter Reed, Trump já tinha dito que poderia ter saído do hospital mais cedo e que as pessoas não deveriam temer a pandemia de covid-19.
“Não tenham medo. Vocês vão vencê-lo [o novo coronavírus]. Temos o melhor equipamento médico, temos os melhores medicamentos”, escreveu o Presidente no Twitter, numa mensagem muito criticada pelos seus opositores, que usaram as redes sociais para lembrar que nem todos os norte-americanos têm acesso aos cuidados médicos do Presidente.
Embora Donald Trump diga aos cidadãos para não terem medo da doença, os números indicam o contrário. Uma sondagem da estação televisiva americana NBC mostra que 65% dos americanos têm medo que algum familiar seja exposto ao novo coronavírus.
De 28 de Setembro a 4 de Outubro, dos 65% de americanos preocupados com esta questão, 32% mostraram-se muito apreensivos e 33% temem um pouco esta situação. De acordo com a NBC, nos EUA, no período em que a sondagem foi feita a média diária de casos de infecção por covid-19 era de quase 43 mil e de 692 mortes.
Estes valores revelaram uma descida de cinco pontos percentuais face aos números da primeira semana de estudo (29 de Junho a 6 de Julho). Nesta altura, 70% dos americanos que participaram na sondagem mostraram-se preocupados.
Regras do debate
Ainda por esclarecer está a questão das regras dos dois debates restantes, após um primeiro confronto muito criticado pelo nível de discurso e pelas constantes interrupções entre candidatos.
A comissão responsável pela gestão dos debates já anunciou que está a negociar novas regras com as direcções de campanha do Partido Republicano e do Partido Democrata, mas Donald Trump já disse que não aceitará uma remodelação do modelo. “Por que havia eu de aceitar alterações para os próximos debates, se ganhei o primeiro, de longe?”, interrogou no Twitter.