Organização para a Proibição de Armas Químicas confirma envenenamento de Navalny
Foram identificados químicos da família do Novichok no sangue e urina do opositor russo, diz a organização. Alemanha aumenta pressão sobre a Rússia e vai discutir resposta a Moscovo a nível internacional.
A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês) confirmou esta terça-feira que a substância utilizada para envenenar o opositor russo Alexei Navalny tinha “características estruturais similares” ao Novichok, uma arma química altamente tóxica e proibida pelos tratados internacionais, mas era até agora desconhecida.
Após análises a Navalny, laboratórios alemães, suecos e franceses já tinham concluído que o advogado de 44 anos, que se sentiu mal numa viagem de avião no passado dia 20 de Agosto, quando regressava a Moscovo proveniente de Tomsk, na Sibéria, tinha sido envenenado com uma substância da família daquele agente de nervos. Além disso, foram encontrados vestígios de Novichok numa garrafa de água no quarto de hotel de Navalny na Sibéria.
No entanto, após as primeiras conclusões de um laboratório militar alemão, Berlim pediu de imediato a colaboração da OPCW, uma organização independente que monitoriza o uso de armas químicas no mundo. Após análises ao sangue e à urina de Navalny, a organização concluiu que foram identificados inibidores da colinesterase semelhantes à família do Novichok.
“Estes resultados constituem motivo de grande preocupação”, disse Fernando Arias, director da OPCW, em comunicado.
“Os Estados que integram a Convenção sobre as Armas Químicas [assinada em 1993] declararam que o uso de armas químicas é condenável em qualquer circunstância e contrário às normas legais estabelecidas pela comunidade internacional. Por isso, é importante que cumpram as normas a que decidiram aderir”, acrescentou Arias.
No mesmo comunicado, a OPCW acrescenta que a substância encontrada é uma variante da família Novichock, que era desconhecida até agora.
Alexei Navalny, considerado um dos principais opositores de Vladimir Putin, foi internado em coma na Sibéria no dia 20 de Agosto e, após a resistência das autoridades russas, foi transportado para o Hospital Charité, em Berlim, onde recebeu tratamento. Teve alta hospitalar no passado dia 23 de Setembro.
O advogado tem reforçado que pretende regressar à Rússia assim que a sua recuperação esteja concluída e acusa o Kremlin de ser responsável pelo seu envenenamento.
O Ocidente, sobretudo pela voz da Alemanha, tem pedido explicações à Rússia, que nega o seu envolvimento na tentativa de assassínio do opositor de Putin.
Com a confirmação da OPCW, uma agência independente que em 2013 foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz, Berlim vai intensificar a pressão sobre Moscovo.
Esta terça-feira, após ser conhecido o relatório da organização, o porta-voz do Governo alemão, Steffen Seibert afirmou que “nos próximos dias” a OPCW e a União Europeia vão discutir “os próximos passos”.
“O Governo alemão renova o seu apelo para que a Rússia explique o que aconteceu. Qualquer utilização de armas químicas é muito grave e não pode passar sem consequências”, advertiu Seibert, citado pela Reuters.