Depois de Donald Trump ter confirmado esta sexta-feira que tanto ele como a mulher estão infectados pelo novo coronavírus, os olhos voltaram-se para Hope Hicks como a possível fonte de transmissão.
A conselheira de Trump terá começado a sentir sintomas já na noite de quarta-feira, tendo-se mantido em confinamento no Air Force One durante a viagem de regresso depois do debate presidencial que colocou Trump num frente-a-frente com o candidato democrata Joe Biden. O teste chegou na quinta-feira com resultado positivo, divulgou o presidente no Twitter, acrescentando quem seria a fonte de contágio.
Natural de Greenwich, no Connecticut, Hope Hicks, 31 anos, é uma das colaboradoras mais antigas e mais próximas do Presidente, tendo vindo a acompanhá-lo desde o processo de candidatura, naquela que foi a sua primeira experiência profissional no mundo da política. Antes de se juntar à campanha em 2016, Hicks trabalhou em relações públicas e foi modelo, uma carreira que começou aos 11 anos, juntamente com a irmã, numa campanha para a Ralph Lauren.
Contudo, a vida política está-lhe no sangue. Os pais conheceram-se em Capitol Hill quando a mãe trabalhava no ramo legislativo para um democrata do Tennessee e o pai era chefe de gabinete de um congressista republicano do Connecticut. O pai, Paul Hicks III, foi também vice-presidente-executivo para a comunicação e relações públicas da NFL, a liga de futebol americano.
Dois anos depois de terminado o curso em Inglês no Texas, Hope Hicks começou a trabalhar numa empresa de relações públicas em Nova Iorque com ligações a Ivanka Trump. A jovem, então com 25 anos, foi introduzida no círculo de Trump em 2014, gerindo as relações públicas de alguns dos resorts do então candidato, assim como da linha de roupa de Ivanka.
Audição, mentiras e demissão
Quatro anos e uma eleição presidencial depois, Hope Hicks chegou à Casa Branca. Foi directora de comunicações da presidência de Donald Trump — e a mais jovem de sempre nesse cargo — e cumpriu funções até Março de 2018, altura em que se demitiu, depois te ter admitido contar “mentiras piedosas” na Casa Branca durante uma audição numa comissão dos serviços secretos da Câmara de Representantes. Alegou, contudo, que não mentiu sobre nada relacionado com a investigação sobre as alegadas interferências russas na eleição de 2016 e pelas relações de Trump com o país liderado por Putin, as razões que motivaram a audição.
Hicks terá dito a Trump relativamente ao encontro do genro com um advogado russo na Trump Tower que aquilo representava “uma história gigantesca” e que os e-mails trocados para marcar a reunião eram “muito maus”. Esse encontro tornou-se um ponto fulcral na investigação do procurador especial Robert Mueller e fez com que Hicks fosse considerada uma das testemunhas-chave.
“Hope é excepcional e fez um excelente trabalho nos últimos três anos. É esperta e atenciosa, é mesmo uma excelente pessoa”, afirmou Trump numa reacção divulgada pela Casa Branca na altura. “Vou sentir a falta dela ao meu lado, mas quando falou comigo sobre procurar novas oportunidades eu compreendi perfeitamente. Tenho a certeza que no futuro iremos trabalhar novamente”, disse.
Antes disso, viu-se ainda envolvida numa polémica por ter sido uma das pessoas por detrás da declaração de apoio a Robert Porter, membro destacado do gabinete de Donald Trump na Casa Branca — com quem Hicks chegou a ter uma relação amorosa — que se demitiu em Fevereiro de 2018 na sequência de revelações de que teria submetido duas mulheres a violência doméstica.
Seguiu-se uma passagem pela 21st Century Fox enquanto vice-presidente executiva e directora de comunicação, mas a previsão de Trump confirmou-se. Em Fevereiro de 2020, Hicks regressou à equipa do governante norte-americano, desta feita como conselheira do Presidente, mas reportando directamente a Jared Kushner, genro e conselheiro de Trump. Apesar de não serem claras as suas funções, a comunicação social norte-americana revela que Hicks continua a estar envolvida na estratégia de comunicação do Presidente, assim como na sua campanha de reeleição.
Aquando do seu regresso em Fevereiro deste ano, Kushner disse à Times que “não há ninguém mais devoto em implementar a agenda o Presidente Trump que Hope Hicks”, o que já fez com que o próprio Presidente a descrevesse como “incrível”.
Já os órgãos de comunicação social que trabalhavam directamente com Hicks quer durante a campanha, quer na Casa Branca, embora reconheçam a sua simpatia, expressavam frustração por esta estar frequentemente incontactável e representar um entrave no acesso a Trump.